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Brasil deve usar mais o átomo, diz AIEA
El Baradei considera "conservadora" meta brasileira de ter 5,7% de sua matriz energética baseada na energia nuclear em 2030
Presidente da agência nuclear da ONU é 1º não brasileiro a ver centrífugas da usina de enriquecimento de urânio em Resende (RJ)
RAPHAEL GOMIDE
ENVIADO ESPECIAL A RESENDE (RJ)
O diretor-geral da AIEA
(Agência Internacional de
Energia Atômica), o egípcio
Mohamed El Baradei, defendeu, ontem, a expansão da
energia nuclear brasileira e disse não ter nenhuma preocupação com o programa, que prevê
a construção de mais quatro a
oito usinas nucleares até 2030.
El Baradei foi ontem a primeira pessoa de fora do sistema
nuclear brasileiro a ver a centrífuga de enriquecimento de
urânio da INB (Indústrias Nucleares do Brasil) na fábrica que
produz combustível nuclear
em Resende (a 161 km do Rio).
O diretor-geral elogiou o programa brasileiro e disse que faz
parte da tendência de expansão
do uso de energia nuclear, tendo em vista as mudanças climáticas e a necessidade de buscar
novas fontes de energia.
"De maneira nenhuma [há
preocupação da AIEA com o
Brasil]. Sem energia, não há desenvolvimento, e a energia nuclear pode produzir independência. O Brasil e a AIEA trabalham em cooperação muito
próxima", afirmou em rápida
entrevista, na qual respondeu a
apenas três perguntas.
Metas "conservadoras"
De acordo com o presidente
da INB (Indústrias Nucleares
do Brasil), Alfredo Tranjan Filho, em palestra fechada Mohammed El Baradei considerou "muito conservadora" a
meta do Brasil de ter 5,7% de
sua matriz baseada na energia
atômica em 2030 (atualmente
é de menos de 2%).
"Ele achou conservador. Para ele, o Brasil pode almejar
mais que 5,7% de sua matriz em
energia nuclear, porque tem
tecnologia de materiais, produtos, reservas e matéria-prima
para isso" disse Tranjan.
El Baradei disse que o uso de
eletricidade no país ainda é relativamente baixo: "O consumo
per capita de eletricidade no
Brasil é de 2.600 KW/h/ano, o
que representa apenas um terço do consumo de países desenvolvidos". O Brasil planeja
construir quatro novas usinas
atômicas -de 1.000 MW cada-, se o país crescer em média
4,1%, e oito, se crescer em média 5,1%. Angra 3, a primeira,
deve ficar pronta em 2014.
Questionado após a visita sobre o grau de segurança das instalações da INB, ele disse que
não pode julgar: "Não sou um
técnico, mas nossos inspetores
estão sempre aqui."
A visita do diretor-geral da
AIEA à centrífuga de enriquecimento de urânio da INB, em
Resende, é "simbólica" e encerra qualquer tipo de polêmica
sobre a transparência do programa nuclear brasileiro, disse
Trajan. "El Baradei é um homem de cobrar tudo em relação
à segurança. [Sua visita] é uma
demonstração de que fizemos e
continuamos fazendo tudo direito", afirmou.
O diretor-geral da AIEA salientou a importância do uso da
energia atômica para fins pacíficos. "Além dos 30 países que
já usam energia nuclear, muitos estão expandindo o uso, e
muitos países grandes, como
Indonésia, Turquia e Egito, estão decidindo adotar a energia
nuclear como parte da matriz.
Porém, é preciso que a energia
nuclear tenha sempre o mais
alto nível de segurança e seja
exclusivamente com fins pacíficos", disse El Baradei.
Segundo Tranjan, a centrífuga do Brasil é submetida -desde sua inauguração, em maio de
2006- a duas ou três inspeções
por ano, de surpresa ou como
rotina. A ida de El Baradei a Resende foi uma visita e não uma
inspeção. Atualmente, a INB
não produz urânio enriquecido
em escala industrial em Resende. A meta da empresa é atender a 60% de Angra 1 e Angra 2
em 2010 e a 100% em 2014.
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