São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2007

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Brasil deve usar mais o átomo, diz AIEA

El Baradei considera "conservadora" meta brasileira de ter 5,7% de sua matriz energética baseada na energia nuclear em 2030

Presidente da agência nuclear da ONU é 1º não brasileiro a ver centrífugas da usina de enriquecimento de urânio em Resende (RJ)

RAPHAEL GOMIDE
ENVIADO ESPECIAL A RESENDE (RJ)

O diretor-geral da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), o egípcio Mohamed El Baradei, defendeu, ontem, a expansão da energia nuclear brasileira e disse não ter nenhuma preocupação com o programa, que prevê a construção de mais quatro a oito usinas nucleares até 2030.
El Baradei foi ontem a primeira pessoa de fora do sistema nuclear brasileiro a ver a centrífuga de enriquecimento de urânio da INB (Indústrias Nucleares do Brasil) na fábrica que produz combustível nuclear em Resende (a 161 km do Rio).
O diretor-geral elogiou o programa brasileiro e disse que faz parte da tendência de expansão do uso de energia nuclear, tendo em vista as mudanças climáticas e a necessidade de buscar novas fontes de energia.
"De maneira nenhuma [há preocupação da AIEA com o Brasil]. Sem energia, não há desenvolvimento, e a energia nuclear pode produzir independência. O Brasil e a AIEA trabalham em cooperação muito próxima", afirmou em rápida entrevista, na qual respondeu a apenas três perguntas.

Metas "conservadoras"
De acordo com o presidente da INB (Indústrias Nucleares do Brasil), Alfredo Tranjan Filho, em palestra fechada Mohammed El Baradei considerou "muito conservadora" a meta do Brasil de ter 5,7% de sua matriz baseada na energia atômica em 2030 (atualmente é de menos de 2%).
"Ele achou conservador. Para ele, o Brasil pode almejar mais que 5,7% de sua matriz em energia nuclear, porque tem tecnologia de materiais, produtos, reservas e matéria-prima para isso" disse Tranjan.
El Baradei disse que o uso de eletricidade no país ainda é relativamente baixo: "O consumo per capita de eletricidade no Brasil é de 2.600 KW/h/ano, o que representa apenas um terço do consumo de países desenvolvidos". O Brasil planeja construir quatro novas usinas atômicas -de 1.000 MW cada-, se o país crescer em média 4,1%, e oito, se crescer em média 5,1%. Angra 3, a primeira, deve ficar pronta em 2014.
Questionado após a visita sobre o grau de segurança das instalações da INB, ele disse que não pode julgar: "Não sou um técnico, mas nossos inspetores estão sempre aqui."
A visita do diretor-geral da AIEA à centrífuga de enriquecimento de urânio da INB, em Resende, é "simbólica" e encerra qualquer tipo de polêmica sobre a transparência do programa nuclear brasileiro, disse Trajan. "El Baradei é um homem de cobrar tudo em relação à segurança. [Sua visita] é uma demonstração de que fizemos e continuamos fazendo tudo direito", afirmou.
O diretor-geral da AIEA salientou a importância do uso da energia atômica para fins pacíficos. "Além dos 30 países que já usam energia nuclear, muitos estão expandindo o uso, e muitos países grandes, como Indonésia, Turquia e Egito, estão decidindo adotar a energia nuclear como parte da matriz. Porém, é preciso que a energia nuclear tenha sempre o mais alto nível de segurança e seja exclusivamente com fins pacíficos", disse El Baradei.
Segundo Tranjan, a centrífuga do Brasil é submetida -desde sua inauguração, em maio de 2006- a duas ou três inspeções por ano, de surpresa ou como rotina. A ida de El Baradei a Resende foi uma visita e não uma inspeção. Atualmente, a INB não produz urânio enriquecido em escala industrial em Resende. A meta da empresa é atender a 60% de Angra 1 e Angra 2 em 2010 e a 100% em 2014.


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