São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2007

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"Não vou intervir no governo de Cristina", afirma Kirchner

Após longo silêncio com a imprensa, presidente argentino faz balanço de seu mandato

Em entrevista a uma TV, ele citou o Rio e São Paulo para argumentar que a violência que aflige os argentinos é problema comum à região

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

Perto do fim de seu governo, o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, decidiu quebrar um longo silêncio com a imprensa e concedeu uma entrevista à TV "TN", na qual fez um balanço de seu mandato.
Na entrevista, Kirchner evitou dar definições sobre o governo de sua mulher, Cristina Fernández de Kirchner, que o substituirá a partir de segunda. Disse que caberá a ela tomar decisões e seu papel será somente o de acompanhá-la.
Citou o Brasil para dizer que o problema da violência, uma das maiores preocupações do povo argentino, é comum à região. Foi duro com o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, deixando claro que a crise com o país vizinho pela instalação da papeleira finlandesa Botnia será um dos principais problemas para sua mulher resolver.
A seguir, os principais trechos da entrevista:

 

NÃO À REELEIÇÃO
Faz muito bem ao país a continuidade com mudança. A alternância no poder oxigena as decisões e permite a possibilidade de continuar as ações por gente, como Cristina, que viu de perto as coisas, mas sempre teve um distanciamento para manter a capacidade de análise e corrigir o que é preciso.

VOLTA EM 2011
Não vão acreditar em nada do que eu disser. O que vale são os atos. Agora penso em trabalhar fortemente, como um argentino a mais.

GOVERNO CRISTINA
A presidente Cristina está muito preparada para governar. É ela quem deve dirigir o país, tomar as decisões. Eu vou acompanhá-la, nada mais. Eu faria muito mal em interferir no que quer que fosse nas tarefas do próximo governo.

FUTURO
Claro que estarei ativo, adoro a política. Mas dizer que vou trabalhar para ser presidente do Partido Justicialista hoje seria... Quando se tem uma tarefa tão dura como a que me tocou nesses anos, é preciso um tempo de reflexão.

INFLAÇÃO
Os índices na Argentina sempre tiveram credibilidade limitada. Neste ano houve campanha política, então tentaram nos desprestigiar de qualquer maneira. Não vamos cair na armadilha que nos prepararam.

INSEGURANÇA
A insegurança não é um problema só argentino. Está instalada no mundo, na região e na Argentina, em graus distintos. Não é comparável o que acontece na Argentina com o que acontece no México, no Brasil -em São Paulo, no Rio de Janeiro-, na Venezuela. A Argentina tem problemas para resolver no tema da insegurança e deve fazê-lo. Por meio da inclusão social, paulatinamente.

CASO DA MALA
Isso [a tentativa do venezuelano Guido Antonini Wilson de entrar na Argentina com US$ 800 mil não-declarados] lamentavelmente foi uma atitude de excesso de confiança de um funcionário argentino, que não podia ter permitido que subisse qualquer um no avião. Nós agimos rapidamente, afastando esse funcionário. É absurdo acreditar que o presidente Chávez tenha participado de uma manobra desse tipo.

CRISE COM O URUGUAI
Houve uma violação do Tratado do Rio Uruguai pelo Uruguai. O presidente Tabaré Vázquez, antes de assumir, me disse que as papeleiras eram um presente de grego para ele. Depois fez todo o contrário do que me disse. Lamento que tenha sido assim. Teremos que resolver agora no Tribunal de Haia. Somos dois países amigos, devemos aprofundar essa amizade, mas temos que definir quem tem razão nesse tema.

RELAÇÃO COM OS EUA
As relações com os EUA são corretas. O que ocorre é que não são carnais, nem são vergonhosas, como foram para a Argentina no passado, que derivaram na crise de 2001. Temos relações sérias, responsáveis, mas temos visões distintas.


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