São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2007

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ARTIGO

Chile e Peru isolam Chávez

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Chile e Peru procuram construir uma espécie de eixo em contraposição a Hugo Chávez, e a idéia de isolá-lo externamente talvez ganhe impulso como extensão da derrota interna. Há cicatrizes profundas a sanar, com origem na guerra do Pacífico, entre 1881 e 1883, quando tropas chilenas, numa das primeiras operações anfíbias da história, ocuparam Lima, a capital peruana. O Chile decidiu devolver ao Peru 3.788 livros seqüestrados durante a ocupação, e 7.000 peruanos que vivem ilegalmente no Chile serão beneficiados por novas leis de imigração.
A comissão de relações exteriores do Congresso do Peru quer a repatriação de mais ou menos 10 mil peças, entre livros e documentos. Também de objetos culturais, e tudo indica que não haverá dificuldades. Os presidente do Peru e do Chile, Alan García e Michelle Bachelet, se entenderam muito bem em torno da idéia de criação de bloco -já com o nome de Arco Pacífico- reunindo países latino-americanos banhados pelo Pacífico em oposição à Alba (Alternativa Bolivariana parra a América Latina) de Hugo Chávez e Fidel Castro.
São avanços extraordinários. Até há pouco tropas chilenas faziam manobras na fronteira com o Peru, dando a medida da persistência do conflito em torno de demarcações contestadas. Ao mesmo tempo é "esfriado" o conflito do Chile com a Bolívia, que perdeu a saída para o mar ao se aliar ao Peru na guerra do Pacífico.
As reivindicações bolivianas são agora tratadas em nível de vice-ministros do Exterior. Bachelet recebeu uma delegação de parlamentares bolivianos, com a idéia, segundo a "Latin News", de colocar no âmbito da "diplomacia parlamentar" uma agenda bilateral de 13 pontos.
A Bolívia quer "acesso soberano" ao Pacífico e não normalizará relações com o Chile antes que isso aconteça. Mas o diálogo assume posições avançadas envolvendo um dos promotores do Arco Pacífico e um dos países onde Hugo Chaves tem forte influência, a Bolívia. O Peru, que fica de bem com o Chile, seu parceiro na montagem do contraponto ao presidente venezuelano, foi descrito no "Miami Herald" como a próxima estrela em ascensão na América Latina.
Num programa de televisão, Marcelo Giugale, do Banco Mundial, citou o Peru em resposta à pergunta sobre qual país do continente se destacaria nos próximos 20 anos.

Alca
O próprio presidente peruano, Alan García, acusou o líder nacionalista Ollanta Humala de receber "ordens de fora" para provocar "perturbações sociais". Foi referência ao dia nacional do protesto convocado pelos sindicatos. García relacionou sua acusação com o fato de o Peru encaminhar-se para a Alca, o acordo de livre comércio com os Estados Unidos.
Um cultor da Alca -em oposição à Alba- e alvo do chavismo, a caminho do estrelato, como prova de que adotou o melhor modelo. As "Casas de Alba", segundo o primeiro-ministro peruano, Jorge del Castillo, supostamente financiadas por Chávez, "constituem interferência nos assuntos internos do Peru". Mas agora com o selo da derrota.


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais


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