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Restrições a drogas ameaçam rótulo de Holanda tolerante
Novas medidas proíbem venda de cogumelos "mágicos" e ameaçam "coffeeshops"
Produção e comercialização
de alucinógenos podem dar
cadeia; clientes correm para
fazer estoque; debate opõe
Amsterdã a grupos liberais
CARLOS IAVELBERG
RAQUEL MALDONADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM AMSTERDÃ
O rótulo de país tolerante às
drogas que a Holanda carrega
parece ameaçado por algumas
medidas que vêm sendo adotadas pelas autoridades locais. A
última delas proíbe a venda de
cogumelos alucinógenos frescos, conhecidos como "mágicos". A produção e comercialização desse tipo de substância
agora poderão levar à cadeia.
Nas últimas semanas, as
"smartshops" -locais onde se
realizava a venda desses cogumelos- registraram aumento
na clientela, na maioria pessoas
interessadas em estocar pequenas quantidades antes que a
proibição começasse a valer.
O debate sobre a proibição
dos cogumelos alucinógenos
frescos -os secos já eram ilegais- ganhou força no país depois que, no ano passado, uma
turista francesa de 17 anos cometeu suicídio ao pular de uma
ponte após consumir esse tipo
de droga. Embora não tenha sido comprovada relação entre
os dois fatos, o episódio serviu
para reforçar os argumentos
dos defensores da proibição.
Em comunicado divulgado
para justificar a medida, o Ministério da Saúde, Bem-estar e
Esporte holandês disse que "está comprovado que [o consumo
de cogumelos alucinógenos]
pode levar a comportamentos
imprevisíveis, logo, de risco".
A tese é rebatida pela Associação Nacional de Smartshops
(VLOS, na sigla em holandês),
que tentou sem sucesso derrubar a medida na Justiça. Segundo a organização, a maioria dos
incidentes envolve turistas que
consomem maconha e álcool
sob o efeito dos cogumelos.
O argumento defendido pela
associação encontra apoio em
dados do próprio governo. Segundo estudo do Instituto Nacional de Saúde Pública e Meio
Ambiente, entre 2005 e 2006,
das 70 pessoas que receberam
assistência médica depois de
ingerir cogumelos em Amsterdã, 63 eram estrangeiras.
"Coffeeshops"
O maior ícone da tolerância
às drogas leves também está
ameaçado. Diversos "coffeeshops" -estabelecimentos onde
a venda e o consumo de pequenas quantidades de maconha e
haxixe são permitidos- serão
obrigados a fechar as portas
nos próximos anos. Desde
1976, esses comércios estão autorizados a vender até cinco
gramas das drogas por pessoa.
O fechamento dos estabelecimentos é conseqüência de
duas medidas distintas anunciadas por três municípios. A
mais polêmica delas resultará
no fechamento, até fevereiro,
dos oito "coffeeshops" localizados nas cidades fronteiriças de
Rosendaal e Bergen op Zoom.
Segundo os prefeitos desses
municípios, a decisão foi tomada para evitar os transtornos
causados pelos 25 mil turistas
belgas, franceses e alemães que
semanalmente cruzam a fronteira para comprar drogas.
A outra medida recentemente anunciada deverá provocar o
fechamento de 43 dos 228 "coffeeshops" de Amsterdã até o final de 2011. Uma lei aprovada
em novembro pelos vereadores
proíbe a existência de estabelecimentos do tipo a menos de
250 metros de escolas.
"Fórum da cannabis"
Em meio às polêmicas causada pela adoção dessas duas medidas, 30 prefeitos holandeses
reuniram-se no final de novembro para discutir o futuro
da política de tolerância às drogas leves no país. A principal
bandeira defendida no encontro, que ficou conhecido como
o "Fórum da cannabis", foi a legalização do cultivo da maconha sob supervisão do Estado.
Pela lei em vigência, embora
a venda da maconha e do haxixe
seja permitida, a produção continua proibida. De acordo com
alguns especialistas, o fato de
parte da "cadeia da cannabis"
-cultivo, distribuição e venda- seguir na ilegalidade coloca em xeque a política holandesa de tolerância às drogas.
Dois dos três partidos sustentam o governo são cristãos e
já se pronunciaram a favor de
voltar a proibir o consumo dessas drogas -embora não haja
consenso nem mesmo dentro
deles. Já o Partido Trabalhista,
com mais força no Parlamento,
não aceita discutir mudanças.
Todas essas medidas vêm
precedidas de uma lei que, desde julho, proíbe fumar cigarro
em espaço público na Holanda,
inclusive dentro dos "coffeeshops". Isso criou um fato curioso para os consumidores de
maconha e haxixe. Os que fumam essas drogas puras podem
ficar dentro dos "coffeeshop",
já os que misturam com tabaco
precisam fumar na calçada.
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