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IRAQUE OCUPADO
Segundo investigação, Bagdá não tinha recursos para concretizar planos que foram o pretexto da guerra
Arsenal proibido não saiu do papel, diz "Post"
DA REDAÇÃO
Maior pretexto da coalizão anglo-americana para invadir o Iraque em março, o arsenal proibido
iraquiano nunca saiu do papel, segundo o "Washington Post".
Reportagem do jornal americano publicada ontem diz que o
país, alvo de 12 anos de embargos
econômicos e sanções internacionais após a Guerra do Golfo
(1991), não tinha condições de
construir os armamentos.
Com base em entrevistas com
cientistas, militares e professores
iraquianos -alguns sob custódia
dos EUA-, o jornal afirmou que,
embora a ditadura de Saddam
Hussein tivesse a intenção de produzir armas de destruição em
massa, nunca teve os recursos necessários para levá-la adiante.
O governo americano, porém,
continua a sustentar que o ex-ditador tinha as armas. Em entrevista à agência de notícias Reuters, Stuart Cohen, vice-presidente do Conselho Nacional de Inteligência dos EUA, afirmou anteontem que os relatórios sobre armas
proibidas que serviram de base
para as acusações contra o Iraque
antes da guerra foram "bem fundamentados" e se baseiam em 15
anos de pesquisas.
Segundo Cohen, Saddam teve
"15 anos para aperfeiçoar sua capacidade de esconder coisas". O
especialista, que defende a continuidade das buscas, afirmou, no
entanto, que o Iraque não desenvolveu armas nucleares.
"Provas cabais"
Os meses que antecederam a
guerra foram marcados por uma
intensa campanha, capitaneada
pelos EUA, sobre a ameaça representada pelo Iraque e seu suposto
arsenal não-convencional (químico e biológico), uma violação
das sanções da ONU.
Em fevereiro, o secretário de Estado americano, Colin Powell,
chegou a ir à ONU exibir fotos e
relatórios como "provas cabais"
da produção ilegal de Saddam
-que mais tarde se revelaram
trabalhos universitários de dez
anos antes.
Desde a invasão, há quase dez
meses, a coalizão tem equipes no
país trabalhando exclusivamente
na busca do arsenal proibido. Até
agora, os maiores achados foram
dois laboratórios móveis que Bagdá usaria para produzir armas
biológicas ou químicas, mas nos
quais não foi encontrado vestígio
de substâncias proibidas.
Segundo o "Post", os veículos
eram usados na produção de hidrogênio durante a guerra contra
o Irã (1980-88), conforme afirmou Thair Masraf, um engenheiro iraquiano que chegou a marcar
uma audiência com a equipe
americana, mas foi ignorado.
A equipe, com 1.200 especialistas, está há meses no Iraque, mas
ainda não encontrou provas da
existência das armas proibidas.
Seu antigo coordenador, o ex-agente da CIA David Kay, afirmou, porém, que não era possível
dizer que elas não existiam, já que
poderiam estar escondidas.
Saddam enganado
A conclusão da equipe de Kay é
a mesma à qual chegou o time de
inspetores da ONU que esteve no
país no fim de 2002. Uma hipótese
levantada pelo "Post" é que o próprio Saddam tenha sido enganado por seus cientistas e pensasse
que seu arsenal realmente existia
ou estava em produção.
"Ninguém ia dizer para Saddam
Hussein, na cara dele, que não dava para fazer alguma coisa", disse
um general citado pelo jornal sem
que seu nome fosse revelado.
O ex-inspetor-chefe da ONU
Hans Blix, que comandou as investigações, fez uma analogia ao
falar com o "Post": "Você pode
colocar uma placa de "cuidado
com o cachorro" mesmo sem ter o
cachorro. Não há mal em parecer
mais sério e mais perigoso".
Um ponto central para os investigadores é se o Iraque realmente
destruiu o arsenal que tinha antes
de 1991, de existência comprovada. Segundo o "Post", Bagdá
manteve parte das armas até meados dos anos 90, quando Hussein
Kamel, o genro de Saddam que
chefiava a Comissão Militar Industrial do Iraque, desertou.
Kamel -que meses depois foi
morto- detalhou para autoridades ocidentais tudo o que sabia
sobre os programas iraquianos,
obrigando Bagdá a admitir sua
manutenção e a destruí-los de
maneira verificável. Segundo
uma carta escrita na época pelo
chefe da Agência Nacional de Monitoramento iraquiana, Hossam
Amim, pouca coisa ficou de fora
do depoimento de Kamel -só algumas bibliotecas de projetos.
O "Post" contemporiza ao afirmar que havia planos para desenvolver o arsenal, sobretudo o biológico, com estudos centrados no
agente da varíola. Além disso,
Modher Sadeq-Saba Tamimi, um
engenheiro de foguetes iraquiano
sob custódia dos EUA, citou uma
série de projetos -alguns de sua
autoria- escondidos dos inspetores da ONU e dos EUA.
Mas o jornal contrapõe a declaração de outro general: "Saddam
ordenou o trabalho. Mas como
obteríamos o material?".
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