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Crítica on-line desafia repressão chinesa
Opositores acham alternativas, e a internet, antes totalmente controlada, começa a fugir do domínio das autoridades
Secretaria de Segurança conta 1.500 sites fechados,
e grandes provedores têm pacto com o governo para
cooperar com a censura
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Textos críticos assinados por
dissidentes, vídeos vetados na
TV estatal e opiniões de blogueiros estão desafiando a mais
recente onda repressiva do governo chinês.
Antes completamente controlada, a internet começa a se
tornar imanejável para o governo. Um site que reunia diversos
opositores e que foi fechado há
dois meses reapareceu utilizando um domínio americano
e pode ser acessado com o auxílio de sistemas que driblam a
censura chinesa.
Em campanha de controle à
rede, as autoridades fecharam
mais de 1.500 sites, sob a acusação de "pornografia, atentar
contra a moralidade e corromper a juventude", segundo a Secretaria de Segurança.
Blogueiros acusam a "limpeza" de encobrir mais uma onda
de repressão a qualquer crítica
no país, em meio a desemprego
crescente e crise econômica.
Além de bloqueios temporários aos sites do jornal "New
York Times" e da BBC, blogs e
portais na internet que abrigavam textos mais críticos ao governo foram tirados da rede.
O site Bullog, que publicou a
Carta 08 (manifesto subscrito
por intelectuais no fim do ano
passado em prol dos direitos
humanos na China), foi retirado do ar no início de janeiro.
Reapareceu na semana passada, utilizando um domínio nos
EUA, como bullogger.com.
"Os internautas têm conquistado mais liberdade de expressão on-line, mas as coisas
têm ficado duras nos últimos
dias. Mais mobilização será necessária no futuro", disse à Folha o blogueiro Zhou Shuguang, 27, um dos signatários
da Carta 08.
Após assinar a petição por
democracia e respeito aos direitos humanos na China, ele
foi visitado pela polícia.
"Eles me levaram para almoçar e fizeram perguntas sobre o
manifesto. Queriam saber como eu soube, porque eu assinei
e o que eu achava", conta. "Não
aconteceu mais nada, acho que
eles fizeram a parte deles."
Outra blogueira famosa, que
assina como Persian Xiaozhao,
fez sucesso com o texto "Eu assinei a Carta 08 após um bom
choro", em que ela falava das
injustiças do país. Seu blog foi
banido pelo portal que o abrigava. Mas ela já criou outro.
Cumplicidade
A conivência de grandes portais com a censura chinesa é famosa. Tanto Google quanto Yahoo fizeram acordo com o governo para retirar de seus resultados de buscas páginas
"sensíveis" ao governo chinês.
A colaboração dos portais locais com o governo é ainda
maior. O portal Sohu.com já retirou do ar vários blogs hospedados no site após a publicação
de comentários mais críticos de
seus autores. Até mesmo comentários de internautas publicados como resposta a notícias e outros textos são apagados pelos portais se fizerem críticas mais duras ao governo.
Ainda assim, a força da internet tem dobrado o governo. A
TV estatal tirou do ar a cobertura de um discurso do primeiro-ministro Wen Jiabao no
Reino Unido, quando um estudante lhe atirou um sapato.
O vídeo circulou tanto pela
China que a CCTV, maior rede
do país, acabou transmitindo a
sapatada que errou o alvo.
Repressão e crise
A tensão das autoridades se
traduz em mais repressão. A
atual crise econômica, que já
fez o crescimento da economia
chinesa em 2008 ser o pior em
sete anos -e que pode ser menor ainda em 2009-, deve deixar 20 milhões desempregados,
segundo algumas estimativas.
No ano passado, as duas Províncias separatistas chinesas
foram mais controladas pelo
regime. O Tibete ficou parcialmente fechado ao mundo -e
turistas estrangeiros foram
proibidos de pisar na região ao
longo de quase quatro meses-
e a imprensa internacional
continua impedida de pisar na
capital provincial, Lhasa.
Em Xinjiang, Província de
população muçulmana no extremo oeste da China, houve
recorde nas prisões justificadas
por causa de "risco à segurança
do Estado". Mais de 1.400 pessoas foram presas (em 2007, foram 742).
A política preventiva de repressão do governo também
tem a ver com as datas comemorativas que podem ser celebradas em 2009 - os 20 anos
do massacre na Praça da Paz
Celestial, os 50 anos da fuga do
dalai-lama do Tibete e os dez
anos da proibição da seita Falun Gong.
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