São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2009

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Abordagem para países autoritários muda de tom sob novo governo dos EUA

DO "FINANCIAL TIMES"

Em uma frase que Hillary tomou emprestada de Joseph Nye, professor da Universidade Harvard, e de Richard Armitage, parte da equipe diplomática de Bush, ela define a combinação de poder "duro" e poder "brando" que pretende aplicar como "poder inteligente".
A posição dela é reforçada pela semelhança entre suas ideias e as expostas pelo presidente Barack Obama e pelo secretário da Defesa, Robert Gates, veterano proponente do "realismo", no longo debate que vem sendo travado em Washington entre eles e os "idealistas", progressistas que defendem o intervencionismo. Não é por nada que Obama prometeu trabalhar com os países autoritários, em seu discurso de posse. Enquanto Bush usou o discurso de posse de seu segundo mandato para estipular o "objetivo último de pôr fim à tirania em nosso planeta", Obama disse às nações não democráticas que lhes "estenderá a mão se vocês estiverem dispostos a abrir os punhos" uma oferta que ele mais tarde repetiu em relação ao Irã.
De fato, apenas alguns dias antes de tomar posse, o então presidente eleito se esforçou por evitar a ênfase de Bush com relação a eleições livres.
"Eleições não equivalem a democracia tal qual nós a entendemos", disse Obama ao jornal "Washington Post", enfatizando prioridades como o combate à corrupção e a rejeição a detenções arbitrárias. "Isso é uma das facetas de uma ordem liberal."
A ênfase de Obama em estabilizar o Afeganistão a fim de reduzir a ameaça do terrorismo no país, em lugar de estabelecer uma "democracia ao modo de [Thomas] Jefferson", como a que existe nos EUA, também é parte dessa linha de raciocínio, e o mesmo se aplica à sugestão apresentada por ele antes da eleição ao general David Petraeus, então comandante das forças americanas no Iraque, de que os EUA talvez devessem se contentar com o "confuso e desordenado status quo" que existia naquele país.
Antes que Obama aprove o deslocamento de soldados adicionais ao Afeganistão, Gates também sugeriu que os EUA deveriam reduzir a escala de suas ambições.

Continuidade
Mas, embora os objetivos estabelecidos pelo governo Obama possam parecer diferentes (ou talvez mais pragmáticos) em relação aos endossados pelo governo Bush, as ferramentas empregadas nos dois casos são muitas vezes as mesmas. Na semana passada, Gates sinalizou que os EUA continuariam a lançar ataques com mísseis contra suspeitos de terrorismo no Paquistão. Menos de três dias depois da posse de Obama, a CIA (Agência Central de Inteligência) executou um desses ataques, quase que certamente aprovado pelo novo presidente.
Outros instrumentos estabelecidos por Bush e que devem ser mantidos incluem as negociações hexalaterais com a Coréia do Norte pelo fim do programa nuclear do país, que Hillary Clinton definiu como "essenciais". "Onde a continuidade for apropriada, nós a adotaremos", disse ela.
"Do Irã aos planos para um encontro rápido com [o presidente russo Dmitri] Medvedev, passando pelas recentes declarações quanto ao Afeganistão, existe um forte realismo, ainda que não esteja garantido que ele continue a predominar ao final", disse Cliff Kupchan, analista político em Washington e antigo funcionário do governo Bill Clinton (1993-2001).
Embora o debate entre realistas e idealistas que rachou o governo Bush continue, Kupchan observa que agora "as porções de carne e as de legumes mudaram de tamanho".

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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