São Paulo, sábado, 08 de março de 2008

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Assassinato tem efeito incerto no pleito

Espanha expressa solidariedade, mas crime pode fortalecer acusação de que o PSOE é omisso no combate ao terrorismo

Governo frustra tentativa da oposição de incluir no comunicado do Parlamento um compromisso de não voltar a negociar com o ETA

DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI

A unidade dos partidos políticos espanhóis contra o terrorismo, às vésperas da eleição, teve um matiz: o PP tentou, sem êxito, incluir no comunicado um compromisso comum de "não voltar a negociar com o ETA", como informou o deputado Ignacio Astarloa.
O fato de o PSOE ter negociado com o grupo basco foi um dos principais eixos das críticas do PP durante a campanha eleitoral. Antes, o presidente do governo, José Luis Rodríguez Zapatero, havia dito: "Sabíamos que o ETA podia ainda causar dano e dor irreparável a todos os espanhóis. Hoje, somaram uma vítima mais à sua longa lista de ignomínia".
Emendou Zapatero: "Sabemos que o ETA está já vencida com a democracia, repudiada e ilhada pelo conjunto dos espanhóis e da sociedade basca".
Reforçou o líder oposicionista Mariano Rajoy: "Todos devemos estar unidos contra o ETA". Acrescentou: a organização terrorista deve perder "toda esperança de conseguir seus objetivos políticos", porque acabará derrotada.
Mesmo Eusko Alkartasuna bateu forte: "O ETA é o primeiro inimigo de nosso povo [basco]", diz comunicado do grupo. Mais: "O ETA faz ouvidos surdos à vontade clamorosamente majoritária da sociedade, que lhe exigiu e continua claramente exigindo que abandone definitivamente as armas".
Rajoy e Zapatero tiveram outro gesto comum: foram ambos, em momentos diferentes, a Mondragón para solidarizar-se com a família. Zapatero foi aplaudido pelos seus companheiros socialistas. Rajoy foi recebido em silêncio.

Impacto eleitoral dúbio
O que não está claro é o eventual efeito eleitoral do assassinato de Carrasco. Certamente não beneficia o governo e há detalhes, embora débeis, que podem causar efeito negativo para Zapatero.
Pouco antes do atentado, o diretor-geral da Polícia e da Guarda Civil, Joan Mesquida, informou que as forças policiais estavam no "nível máximo de alerta", para evitar qualquer possível atentado. Disse também que a presença policial fora "muito reforçada" em lugares de grande concentração de pessoas, além das vias férreas e em serviços públicos, especialmente de abastecimento de água e energia.
Se, ainda assim, o ETA mata, pode passar a impressão de que os socialistas não usam a mão tão dura como pede a oposição.
De todo modo, seria uma impressão no mínimo exagerada. Carrasco vivia em uma rua longe do centro, portanto longe das zonas de alerta máximo. Trabalhava em um posto de pedágio na rodovia A-8 e dispensara a escolta.
Em segundo lugar, Carrasco havia sido o número 6 na lista do PSE (Partido Socialista de Euskadi, o nome regional do PSOE para o País Basco), no pleito municipal do ano passado. Como os socialistas só conseguiram quatro lugares, ficou de fora da Câmara Municipal.
O partido vitorioso foi a ANV (Ação Nacionalista Vasca), acusada de ter vínculos com o ETA e cuja ilegalização o Partido Popular demanda desde o momento em que o grupo se apresentou nas municipais de 2007.
É óbvio que um crime em uma cidade governada por um grupo apontado como próximo do ETA tende a fortalecer a acusação oposicionista de que o PSOE acaba, por omissão, dando legitimidade política ao bando terrorista, ainda que a ilegalização da ANV dependa da Justiça e não do Executivo.
Por fim, a ANV foi o único partido que se recusou a endossar documento dos outros quatro com vereadores na Câmara de Mondragón que condena "o vil assassinato" de Carrasco.


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