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Assassinato tem efeito incerto no pleito
Espanha expressa solidariedade, mas crime pode fortalecer acusação de que o PSOE é omisso no combate ao terrorismo
Governo frustra tentativa da oposição de incluir no comunicado do Parlamento um compromisso de não voltar a negociar com o ETA
DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI
A unidade dos partidos políticos espanhóis contra o terrorismo, às vésperas da eleição,
teve um matiz: o PP tentou,
sem êxito, incluir no comunicado um compromisso comum de
"não voltar a negociar com o
ETA", como informou o deputado Ignacio Astarloa.
O fato de o PSOE ter negociado com o grupo basco foi um
dos principais eixos das críticas
do PP durante a campanha eleitoral. Antes, o presidente do governo, José Luis Rodríguez Zapatero, havia dito: "Sabíamos
que o ETA podia ainda causar
dano e dor irreparável a todos
os espanhóis. Hoje, somaram
uma vítima mais à sua longa lista de ignomínia".
Emendou Zapatero: "Sabemos que o ETA está já vencida
com a democracia, repudiada e
ilhada pelo conjunto dos espanhóis e da sociedade basca".
Reforçou o líder oposicionista Mariano Rajoy: "Todos devemos estar unidos contra o
ETA". Acrescentou: a organização terrorista deve perder "toda esperança de conseguir seus
objetivos políticos", porque
acabará derrotada.
Mesmo Eusko Alkartasuna
bateu forte: "O ETA é o primeiro inimigo de nosso povo [basco]", diz comunicado do grupo.
Mais: "O ETA faz ouvidos surdos à vontade clamorosamente
majoritária da sociedade, que
lhe exigiu e continua claramente exigindo que abandone definitivamente as armas".
Rajoy e Zapatero tiveram outro gesto comum: foram ambos, em momentos diferentes,
a Mondragón para solidarizar-se com a família. Zapatero foi
aplaudido pelos seus companheiros socialistas. Rajoy foi
recebido em silêncio.
Impacto eleitoral dúbio
O que não está claro é o eventual efeito eleitoral do assassinato de Carrasco. Certamente
não beneficia o governo e há
detalhes, embora débeis, que
podem causar efeito negativo
para Zapatero.
Pouco antes do atentado, o
diretor-geral da Polícia e da
Guarda Civil, Joan Mesquida,
informou que as forças policiais estavam no "nível máximo
de alerta", para evitar qualquer
possível atentado. Disse também que a presença policial fora "muito reforçada" em lugares de grande concentração de
pessoas, além das vias férreas e
em serviços públicos, especialmente de abastecimento de
água e energia.
Se, ainda assim, o ETA mata,
pode passar a impressão de que
os socialistas não usam a mão
tão dura como pede a oposição.
De todo modo, seria uma impressão no mínimo exagerada.
Carrasco vivia em uma rua longe do centro, portanto longe
das zonas de alerta máximo.
Trabalhava em um posto de pedágio na rodovia A-8 e dispensara a escolta.
Em segundo lugar, Carrasco
havia sido o número 6 na lista
do PSE (Partido Socialista de
Euskadi, o nome regional do
PSOE para o País Basco), no
pleito municipal do ano passado. Como os socialistas só conseguiram quatro lugares, ficou
de fora da Câmara Municipal.
O partido vitorioso foi a ANV
(Ação Nacionalista Vasca), acusada de ter vínculos com o ETA
e cuja ilegalização o Partido Popular demanda desde o momento em que o grupo se apresentou nas municipais de 2007.
É óbvio que um crime em
uma cidade governada por um
grupo apontado como próximo
do ETA tende a fortalecer a
acusação oposicionista de que o
PSOE acaba, por omissão, dando legitimidade política ao bando terrorista, ainda que a ilegalização da ANV dependa da
Justiça e não do Executivo.
Por fim, a ANV foi o único
partido que se recusou a endossar documento dos outros quatro com vereadores na Câmara
de Mondragón que condena "o
vil assassinato" de Carrasco.
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