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Para moradores de Bagdá, explosão já entrou na rotina
Folha visita palcos de ataques, onde curiosos diagnosticam métodos usados no ataque
Embora em decréscimo desde 2007, atentados como os de ontem mostram que insurgência ainda não está derrotada após 7 anos
DO ENVIADO A BAGDÁ
A maioria dos corpos já havia
sido retirada dos escombros
quando a Folha chegou nos cenários dos dois maiores atentados que sacudiram Bagdá antes
das 7h da manhã de ontem.
O carro da reportagem teve
de contornar várias barreiras
policiais até encontrar uma
brecha que permitisse alcançar
as duas áreas atingidas, separadas por alguns quarteirões
num bairro de classe média
baixa onde moram principalmente xiitas.
A primeira zona visitada havia sido atingida horas antes
por um míssil, segundo as autoridades. Um prédio de três
andares estava reduzido a uma
montanha de escombros que
bombeiros e militares escalavam com dificuldade à procura
de algum sinal de vida.
Para facilitar as buscas, escavadeiras avançavam por cima
do entulho, derrubando o que
restara de colunas de concreto
e ferro retorcido.
Do outro lado da rua, jaziam,
desfigurados e cobertos por
uma grossa camada de poeira,
seis carros que estavam numa
oficina mecânica.
O mais chocante era a visão
dos objetos pessoais que emergiam e eram engolidos de volta
pelo entulho a cada movimento da escavadeira. Entre outros
pertences, havia uma toalha
com estampa da Hello Kitty,
restos de um ventilador, cadeiras de plástico e cobertores -é
provável que as vítimas dormissem na hora da explosão.
Homens de todas as idades,
com ares de resignação, disputavam espaço em cima de um
monte de pedregulho para enxergar melhor o trabalho das
autoridades. Uma mulher
usando um véu preto que lhe
cobria todo o corpo comentou
que seis famílias moravam no
prédio. Adolescentes e crianças
riam despreocupadamente ao
passar pelo local.
A alguns quarteirões dali, na
beira da principal avenida do
bairro, as ruínas de uma casa
destroçada num atentado também atraíam curiosos.
Mas nesse cenário o entulho
estava aglomerado ao redor de
uma cratera com uns três metros de profundidade. Sinal de
que a bomba explodiu dentro
da casa, explicaram vizinhos,
com natural convicção.
Havia lama por toda parte,
por causa da mistura entre a
poeira que emanava dos escombros e a água que jorrava
das tubulações destruídas.
Um cortejo de jipes, vans e
blindados militares parou no
local. Um comandante desceu
do carro, seguido por uma trupe de subordinados, subiu nos
entulhos, questionou alguns
bombeiros e voltou rapidamente para o comboio, que tomou a direção do centro da cidade. Helicópteros do Exército
iraquiano faziam rasantes a toda hora. Mais discreto, um zepelim da Inteligência americana pairava sobre o bairro.
Corriam relatos de que na
casa vivia uma família sunita
instalada ali havia poucos meses. Teriam fugido de Baquba
por causa da forte presença do
braço iraquiano da Al Qaeda.
Houve gente dizendo que os
explosivos haviam sido escondidos na casa pelos antigos moradores, supostos terroristas.
O número de atentados e
mortes de civis no Iraque vem
caindo desde 2007, mas episódios como o de ontem mostram
que a insurgência ainda não está derrotada após sete anos de
ocupação americana.
(SA)
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