São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para moradores de Bagdá, explosão já entrou na rotina

Folha visita palcos de ataques, onde curiosos diagnosticam métodos usados no ataque

Embora em decréscimo desde 2007, atentados como os de ontem mostram que insurgência ainda não está derrotada após 7 anos

DO ENVIADO A BAGDÁ

A maioria dos corpos já havia sido retirada dos escombros quando a Folha chegou nos cenários dos dois maiores atentados que sacudiram Bagdá antes das 7h da manhã de ontem.
O carro da reportagem teve de contornar várias barreiras policiais até encontrar uma brecha que permitisse alcançar as duas áreas atingidas, separadas por alguns quarteirões num bairro de classe média baixa onde moram principalmente xiitas.
A primeira zona visitada havia sido atingida horas antes por um míssil, segundo as autoridades. Um prédio de três andares estava reduzido a uma montanha de escombros que bombeiros e militares escalavam com dificuldade à procura de algum sinal de vida.
Para facilitar as buscas, escavadeiras avançavam por cima do entulho, derrubando o que restara de colunas de concreto e ferro retorcido.
Do outro lado da rua, jaziam, desfigurados e cobertos por uma grossa camada de poeira, seis carros que estavam numa oficina mecânica.
O mais chocante era a visão dos objetos pessoais que emergiam e eram engolidos de volta pelo entulho a cada movimento da escavadeira. Entre outros pertences, havia uma toalha com estampa da Hello Kitty, restos de um ventilador, cadeiras de plástico e cobertores -é provável que as vítimas dormissem na hora da explosão.
Homens de todas as idades, com ares de resignação, disputavam espaço em cima de um monte de pedregulho para enxergar melhor o trabalho das autoridades. Uma mulher usando um véu preto que lhe cobria todo o corpo comentou que seis famílias moravam no prédio. Adolescentes e crianças riam despreocupadamente ao passar pelo local.
A alguns quarteirões dali, na beira da principal avenida do bairro, as ruínas de uma casa destroçada num atentado também atraíam curiosos.
Mas nesse cenário o entulho estava aglomerado ao redor de uma cratera com uns três metros de profundidade. Sinal de que a bomba explodiu dentro da casa, explicaram vizinhos, com natural convicção.
Havia lama por toda parte, por causa da mistura entre a poeira que emanava dos escombros e a água que jorrava das tubulações destruídas.
Um cortejo de jipes, vans e blindados militares parou no local. Um comandante desceu do carro, seguido por uma trupe de subordinados, subiu nos entulhos, questionou alguns bombeiros e voltou rapidamente para o comboio, que tomou a direção do centro da cidade. Helicópteros do Exército iraquiano faziam rasantes a toda hora. Mais discreto, um zepelim da Inteligência americana pairava sobre o bairro.
Corriam relatos de que na casa vivia uma família sunita instalada ali havia poucos meses. Teriam fugido de Baquba por causa da forte presença do braço iraquiano da Al Qaeda.
Houve gente dizendo que os explosivos haviam sido escondidos na casa pelos antigos moradores, supostos terroristas.
O número de atentados e mortes de civis no Iraque vem caindo desde 2007, mas episódios como o de ontem mostram que a insurgência ainda não está derrotada após sete anos de ocupação americana. (SA)


Texto Anterior: Atentados matam 38, mas não detêm voto de iraquianos
Próximo Texto: Teerã anuncia a produção de mísseis de curto alcance
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.