São Paulo, sábado, 08 de junho de 2002

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EUROPA

Ebulição das manifestações anti-Le Pen desaparece, e eleitores se mostram desinteressados pela votação de amanhã

França volta a exibir apatia antes de eleição

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

A apatia política voltou a tomar conta dos franceses com as eleições legislativas, que acontecem amanhã. As manifestações sucessivas e espetaculares feitas em todo o país contra a extrema direita parecem coisa de um passado remoto.
Logo depois que o candidato extremista Jean-Marie Le Pen chegou ao segundo turno das eleições presidenciais, em 21 de abril, partidos e associações convocaram os franceses para defenderem a democracia nas ruas.
Durante duas semanas, até o segundo turno, a França entrou em ebulição, com centenas de passeatas em várias cidades. Confirmada a vitória de Jacques Chirac (centro-direita) sobre Le Pen, em 5 de maio, tudo voltou ao que era antes.
Os jovens foram os protagonistas das mobilizações. Agora, nas ruas de Paris, eles caíram na indiferença e estão mais preocupados com as provas de fim de curso do que com o destino político da França.
"Não creio que as manifestações tenham mudado muita coisa. Na época, as pessoas tiveram medo de que Le Pen avançasse. Agora, esse medo é bem menor. Le Pen não deve obter nenhuma cadeira na Assembléia Nacional", disse à Folha o estudante de direito Emmanuel, 25 (não quis dizer o sobrenome), que estudava o Código Civil num café.
A Frente Nacional de Le Pen pode levar mais de 200 candidatos ao segundo turno das legislativas. Mas obteria no máximo quatro cadeiras na Assembléia, no resultado final, segundo pesquisa do instituto Ipsos para o jornal "Le Figaro", divulgada ontem.
O centro-direita obteria entre 339 e 381 cadeiras. O centro-esquerda teria entre 174 e 216, perdendo a sua atual maioria parlamentar. A indecisão de 29% dos eleitores pode trazer surpresas. A pesquisa aponta que 74% dos franceses se dizem interessados nas legislativas.
"As pessoas de fato estão mais preocupadas com a Copa do Mundo e o torneio de Roland Garros do que com as legislativas, pelo que tenho visto em conversas", afirma o estudante de medicina Pascal, 23. "Le Pen perdeu sua chance de ser presidente. Estará velho demais na próxima vez, com 79 anos. Foi ele que despertou toda essa reação. Sempre haverá 20% de fascistas na França."
Para Fréderic, 22, funcionário da companhia de transporte ferroviário da França SNRF, "a França tem memória curta". "Mesmo no futebol eles repetem os mesmos erros. Eles não estão percebendo que essa história já aconteceu antes, com o Terceiro Reich. Tenho certeza de que a Frente Nacional terá mais votos da próxima vez. Deveriam continuar se manifestando", diz.
Ontem, faltando dois dias para as eleições, Emmanuel, Pascal e Fréderic não tinham ainda o candidato em que irão votar. "Vou me informar com uns amigos de esquerda", conta Emmanuel.
"É uma multidão de candidatos, mas vou escolher um de direita, para evitar a coabitação, que não foi bem sucedida antes", afirma Caroline, 23, também estudante de direito, referindo-se à forma de governo em que o presidente é de um partido e o primeiro-ministro de outro.
Concorrem em toda a França 8.456 candidatos. Eles estão espalhados por uma multidão de partidos, entre eles formações extravagantes, como o Partido Político Apolítico (PPA). "Não temos programa, não fazemos alianças", diz a presidente do PPA, a pintora Maria Roclore, 67.
"Há circunscrições que têm mais de 20 candidatos. É ridículo. Tudo isso se deve ao modo de financiamento dos partidos (leia texto nesta página). É preciso que a lei mude, porque a situação já está ficando caricatural", diz Thierry Coste, coordenador do partido Caça, Pesca, Natureza e Tradição, que ficou em nono lugar nas eleições presidenciais.



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