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EUROPA
Ebulição das manifestações anti-Le Pen desaparece, e eleitores se mostram desinteressados pela votação de amanhã
França volta a exibir apatia antes de eleição
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
A apatia política voltou a tomar conta dos franceses com as eleições legislativas, que acontecem amanhã. As manifestações sucessivas e espetaculares feitas em todo o país contra a extrema direita parecem coisa de um passado remoto.
Logo depois que o candidato
extremista Jean-Marie Le Pen
chegou ao segundo turno das eleições presidenciais, em 21 de abril,
partidos e associações convocaram os franceses para defenderem a democracia nas ruas.
Durante duas semanas, até o segundo turno, a França entrou em
ebulição, com centenas de passeatas em várias cidades. Confirmada a vitória de Jacques Chirac
(centro-direita) sobre Le Pen, em
5 de maio, tudo voltou ao que era
antes.
Os jovens foram os protagonistas das mobilizações. Agora, nas
ruas de Paris, eles caíram na indiferença e estão mais preocupados
com as provas de fim de curso do
que com o destino político da
França.
"Não creio que as manifestações
tenham mudado muita coisa. Na
época, as pessoas tiveram medo
de que Le Pen avançasse. Agora,
esse medo é bem menor. Le Pen
não deve obter nenhuma cadeira
na Assembléia Nacional", disse à
Folha o estudante de direito Emmanuel, 25 (não quis dizer o sobrenome), que estudava o Código
Civil num café.
A Frente Nacional de Le Pen pode levar mais de 200 candidatos
ao segundo turno das legislativas.
Mas obteria no máximo quatro
cadeiras na Assembléia, no resultado final, segundo pesquisa do
instituto Ipsos para o jornal "Le
Figaro", divulgada ontem.
O centro-direita obteria entre
339 e 381 cadeiras. O centro-esquerda teria entre 174 e 216, perdendo a sua atual maioria parlamentar. A indecisão de 29% dos
eleitores pode trazer surpresas. A
pesquisa aponta que 74% dos
franceses se dizem interessados
nas legislativas.
"As pessoas de fato estão mais
preocupadas com a Copa do
Mundo e o torneio de Roland
Garros do que com as legislativas,
pelo que tenho visto em conversas", afirma o estudante de medicina Pascal, 23. "Le Pen perdeu
sua chance de ser presidente. Estará velho demais na próxima vez,
com 79 anos. Foi ele que despertou toda essa reação. Sempre haverá 20% de fascistas na França."
Para Fréderic, 22, funcionário
da companhia de transporte ferroviário da França SNRF, "a França tem memória curta". "Mesmo
no futebol eles repetem os mesmos erros. Eles não estão percebendo que essa história já aconteceu antes, com o Terceiro Reich.
Tenho certeza de que a Frente Nacional terá mais votos da próxima
vez. Deveriam continuar se manifestando", diz.
Ontem, faltando dois dias para
as eleições, Emmanuel, Pascal e
Fréderic não tinham ainda o candidato em que irão votar. "Vou
me informar com uns amigos de
esquerda", conta Emmanuel.
"É uma multidão de candidatos,
mas vou escolher um de direita,
para evitar a coabitação, que não
foi bem sucedida antes", afirma
Caroline, 23, também estudante
de direito, referindo-se à forma de
governo em que o presidente é de
um partido e o primeiro-ministro
de outro.
Concorrem em toda a França
8.456 candidatos. Eles estão espalhados por uma multidão de partidos, entre eles formações extravagantes, como o Partido Político
Apolítico (PPA). "Não temos programa, não fazemos alianças", diz
a presidente do PPA, a pintora
Maria Roclore, 67.
"Há circunscrições que têm mais de 20 candidatos. É ridículo.
Tudo isso se deve ao modo de financiamento dos partidos (leia
texto nesta página). É preciso que a lei mude, porque a situação já
está ficando caricatural", diz Thierry Coste, coordenador do
partido Caça, Pesca, Natureza e Tradição, que ficou em nono lugar nas eleições presidenciais.
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