|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FORTALEZA EUROPA
Governo de centro-direita apresenta projeto de cotas de imigração; brasileiros não têm tratamento especial
Portugal endurece sua legislação contra imigração
RODRIGO UCHÔA
DA REDAÇÃO
Em mais um desdobramento da
onda antiimigração na Europa, o
Parlamento português deve aprovar em breve a lei que define cotas
anuais para imigração e restringe
os vistos de trabalho no país. A lei
faz parte do Plano Nacional de
Imigração, que o premiê Durão
Barroso (centro-direita) quer implementar até o fim do ano.
"É uma maneira de "endurecer",
sem dúvida. O Ministério da Administração Interna fala em deportações sumárias e nega qualquer tipo de legalização extraordinária", diz António Guimaraens, advogado português especialista em naturalização.
Segundo Guimaraens, quem
entrou no país depois do dia 30 de
novembro de 2001, quando terminou a última "leva de legalização", só conseguirá visto se voltar
para seu país de origem e, de lá, se
candidatar a uma vaga de trabalho. Então o pleiteante ficaria esperando o cumprimento da cota.
As organizações patronais e sindicais terão de mandar um relatório ao governo explicitando o número de postos de trabalho disponíveis em Portugal. Depois disso,
o governo estabelecerá, consultando a igreja e representações
dos imigrantes, a cota de 2002.
A estimativa dessa cota deverá
ser renovada a cada dois anos.
Estima-se que, para 2002, essa
cota deva ficar em 27 mil vagas. E
quem estiver no país ilegalmente
não poderá se candidatar.
Os setores que mostram necessidade de mais mão-de-obra são,
principalmente, construção civil,
comércio, hotelaria e turismo.
Portugal tem hoje cerca de 10,5
milhões de habitantes, entre eles
quase 400 mil estrangeiros -180
mil têm autorização de residência
de um ano, que é renovada com a
apresentação de um contrato de
trabalho. Estes poderão continuar
a renovar seus vistos. Se não o fizerem, terão de voltar a seus países e pleitear novo visto.
"Portugal busca se adequar às
políticas da União Européia. Imigração certamente será o principal tema do encontro dos países
da UE na Espanha, no final do
mês", comentou Guimaraens.
Grupos de apoio a imigrantes,
principalmente os ligados à Igreja
Católica, dizem que a legislação
alimentaria um "círculo vicioso"
de exclusão social.
Brasileiros
Entre os que receberam visto de
permanência em Portugal até o
fim de maio, havia 64.457 ucranianos, 32.707 brasileiros, 12.507
moldávios e 10.886 romenos.
"Os dados mostram que não há
grande favorecimento aos países
de língua portuguesa. É uma tradição em Portugal receber imigrantes das ex-colônias da África
(Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique), mas isso está sendo superado pela onda do
Leste Europeu", afirma Pedro
Amaral Cardosin, cientista político da Universidade de Lisboa.
Quanto aos brasileiros, disse
Cardosin, a grande leva de imigração ocorreu nos anos 1980 e no
início dos 1990. Eles conseguiram,
em sua maioria, regularizar suas
situações durante as grandes legalizações de 1993 e 1996.
"Os brasileiros ocuparam espaços importantes no comércio e
em profissões liberais. Os europeus orientais, por sua vez, buscam a construção civil", afirmou.
Para Cardosin, "essa onda de
procura por trabalho não-qualificado se deve aos maciços investimentos da União Européia no
país, os quais se refletiram em
obras de infra-estrutura".
Não seriam os brasileiros os
candidatos naturais a ocupar cargos de mão-de-obra qualificada
em setores como turismo e comércio? O cientista político diz
que não: "Apesar da simpatia pelos brasileiros, Portugal já está suficientemente "europeizada" para não se apegar apenas a isso".
Texto Anterior: Número de candidatos bate recorde no país Próximo Texto: Justiça: Brasil intima Oviedo por pressão paraguaia Índice
|