São Paulo, sábado, 08 de julho de 2006

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entrevista

Pressão ainda é insuficiente, diz ex-militar

MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM TEL AVIV

Como chefe do Comando Sul do Exército de Israel, Tzvika Fogel era responsável pelas operações militares na faixa de Gaza. Quando os planos de retirada foram revelados pelo então premiê Ariel Sharon, Fogel deixou o cargo. Achava que não era certo retirar-se sem garantias de que grupos terroristas deixariam de disparar morteiros Qassam contra Israel.
Mesmo assim, prestou um serviço profissional ao governo, organizando a logística da saída de Gaza, completada em setembro do ano passado. Agora, Fogel está no coro dos que dizem "nós avisamos que a retirada seria entendida como um prêmio ao terrorismo e que incentivaria mais ataques".
Para ele, a pressão militar que Israel está aplicando não é suficiente. Fogel defende uma linha ainda mais dura para que a população palestina force o Hamas a aceitar a paz. Mas, sobre o soldado seqüestrado, ele tem uma posição mais branda do que a do governo. Acha que Israel deve libertar até "prisioneiros perversos" em troca de Gilad Shalit. A seguir, trechos da entrevista de Fogel à Folha.
 
FOLHA - O que o sr. acha da operação de Israel em Gaza?
TZVIKA FOGEL
- Ela é necessária. É uma questão de quem vai "quebrar" primeiro, Israel ou os palestinos. Mas é preciso fazer mais pressão sobre o Hamas e sobre a população palestina.

FOLHA - A pressão da operação não é suficiente?
FOGEL
- Não. Se dependesse de mim, esses bairros onde o Exército está atuando estariam vazios. Eu avisaria que iria bombardear e daria tempo para a população sair. Deixaria o local limpo, para que não pudesse servir aos grupos que lançam morteiros. Cada foguete precisa ter um preço alto para os palestinos. É preciso também atacar o Hamas com mais força.

FOLHA - O Hamas precisa ser derrubado?
FOGEL
- É preciso que surjam os verdadeiros representantes dos palestinos, que entendam as necessidades da população. Mas não sei quem são eles e não acho que Israel deva interferir. Todas as vezes em que Israel interferiu no processo político de seus vizinhos, saiu perdendo.

FOLHA - O objetivo declarado de acabar com os disparos de morteiros contra Israel é viável?
FOGEL
- Os disparos não vão acabar em dois ou três dias. Mas, com mais pressão, podem diminuir e chegar a um nível suportável. É preciso fazer mais pressão sobre a população. Só os palestinos comuns podem pressionar para que os morteiros parem. Só a população, quando entender que é a maior prejudicada pelos foguetes.

FOLHA - A operação não pode ter o resultado contrário, ou seja, aumentar os disparos?
FOGEL
- É preciso fazer o outro lado entender que tem algo a ganhar se Israel parar com a ação militar -e não que tem algo a perder se atacar com morteiros. Os palestinos têm muito a ganhar se os disparos acabarem e se houver paz. Eles poderão construir um porto, um aeroporto, o comércio pode voltar e poderão recuperar empregos. Isso é pouco?

FOLHA - O sr. é a favor da libertação de prisioneiros palestinos em troca do soldado Gilad Shalit?
FOGEL
- Sim. O seqüestro e os morteiros são questões diferentes. É preciso negociar e libertar prisioneiros palestinos para trazer Gilad de volta e vivo. Sou a favor de negociar questões práticas. Se nós tivermos que libertar prisioneiros perversos para trazê-lo de volta, não vejo problema. O problema seria negociar questões políticas. Se o Hamas exigisse o fim dos assassinatos de terroristas, ou a troca do governo em Israel, eu seria totalmente contra.

FOLHA - O sr. foi contra a retirada de Gaza. Acha que ela provocou a atual situação?
FOGEL
- Sim, mas pela maneira burra como foi feita. Era preciso retirar-se, mas saímos de maneira repentina, de uma vez, e esse foi o maior erro. É claro que os mais fortes preencheriam o vácuo deixado por Israel. E foi o que aconteceu, o Hamas assumiu o comando de Gaza.

FOLHA - Qual seria a melhor forma de acabar com a ocupação?
FOGEL
- A retirada tinha que ter sido feita em fases. Primeiro, os assentamentos. O Exército só poderia se retirar após um entendimento com os egípcios. Era necessário treiná-los a tomar conta da fronteira, para impedir a entrada de armas.


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