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entrevista
Pressão ainda é insuficiente, diz ex-militar
MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM TEL AVIV
Como chefe do Comando
Sul do Exército de Israel,
Tzvika Fogel era responsável
pelas operações militares na
faixa de Gaza. Quando os planos de retirada foram revelados pelo então premiê Ariel
Sharon, Fogel deixou o cargo. Achava que não era certo
retirar-se sem garantias de
que grupos terroristas deixariam de disparar morteiros
Qassam contra Israel.
Mesmo assim, prestou um
serviço profissional ao governo, organizando a logística da saída de Gaza, completada em setembro do ano
passado. Agora, Fogel está no
coro dos que dizem "nós avisamos que a retirada seria
entendida como um prêmio
ao terrorismo e que incentivaria mais ataques".
Para ele, a pressão militar
que Israel está aplicando não
é suficiente. Fogel defende
uma linha ainda mais dura
para que a população palestina force o Hamas a aceitar a
paz. Mas, sobre o soldado seqüestrado, ele tem uma posição mais branda do que a do
governo. Acha que Israel deve libertar até "prisioneiros
perversos" em troca de Gilad
Shalit. A seguir, trechos da
entrevista de Fogel à Folha.
FOLHA - O que o sr. acha da operação de Israel em Gaza? TZVIKA FOGEL - Ela é necessária. É uma questão de quem
vai "quebrar" primeiro, Israel ou os palestinos. Mas é
preciso fazer mais pressão
sobre o Hamas e sobre a população palestina.
FOLHA - A pressão da operação
não é suficiente?
FOGEL - Não. Se dependesse
de mim, esses bairros onde o
Exército está atuando estariam vazios. Eu avisaria que
iria bombardear e daria tempo para a população sair.
Deixaria o local limpo, para
que não pudesse servir aos
grupos que lançam morteiros. Cada foguete precisa ter
um preço alto para os palestinos. É preciso também atacar o Hamas com mais força.
FOLHA - O Hamas precisa ser
derrubado?
FOGEL - É preciso que surjam os verdadeiros representantes dos palestinos, que
entendam as necessidades
da população. Mas não sei
quem são eles e não acho que
Israel deva interferir. Todas
as vezes em que Israel interferiu no processo político de
seus vizinhos, saiu perdendo.
FOLHA - O objetivo declarado de
acabar com os disparos de morteiros contra Israel é viável?
FOGEL - Os disparos não vão
acabar em dois ou três dias.
Mas, com mais pressão, podem diminuir e chegar a um
nível suportável. É preciso
fazer mais pressão sobre a
população. Só os palestinos
comuns podem pressionar
para que os morteiros parem. Só a população, quando
entender que é a maior prejudicada pelos foguetes.
FOLHA - A operação não pode
ter o resultado contrário, ou seja,
aumentar os disparos?
FOGEL - É preciso fazer o outro lado entender que tem algo a ganhar se Israel parar
com a ação militar -e não
que tem algo a perder se atacar com morteiros. Os palestinos têm muito a ganhar se
os disparos acabarem e se
houver paz. Eles poderão
construir um porto, um aeroporto, o comércio pode
voltar e poderão recuperar
empregos. Isso é pouco?
FOLHA - O sr. é a favor da libertação de prisioneiros palestinos em
troca do soldado Gilad Shalit?
FOGEL - Sim. O seqüestro e
os morteiros são questões diferentes. É preciso negociar
e libertar prisioneiros palestinos para trazer Gilad de
volta e vivo. Sou a favor de
negociar questões práticas.
Se nós tivermos que libertar
prisioneiros perversos para
trazê-lo de volta, não vejo
problema. O problema seria
negociar questões políticas.
Se o Hamas exigisse o fim
dos assassinatos de terroristas, ou a troca do governo em
Israel, eu seria totalmente
contra.
FOLHA - O sr. foi contra a retirada de Gaza. Acha que ela provocou a atual situação?
FOGEL - Sim, mas pela maneira burra como foi feita.
Era preciso retirar-se, mas
saímos de maneira repentina, de uma vez, e esse foi o
maior erro. É claro que os
mais fortes preencheriam o
vácuo deixado por Israel. E
foi o que aconteceu, o Hamas
assumiu o comando de Gaza.
FOLHA - Qual seria a melhor forma de acabar com a ocupação?
FOGEL - A retirada tinha que
ter sido feita em fases. Primeiro, os assentamentos. O
Exército só poderia se retirar
após um entendimento com
os egípcios. Era necessário
treiná-los a tomar conta da
fronteira, para impedir a entrada de armas.
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