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Eleição foi a "mais limpa da história", diz Calderón
À espera da ratificação da vitória, conservador afirma que buscará a oposição
Para futuro presidente, México tem de assumir
um papel maior na região, estreitar laço com Brasil e se aproximar da Petrobras
Dario Lopez-Mills/Associated Press
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Simpatizantes do conservador Calderón "enforcam" boneco de seu rival, o esquerdista López Obrador, na Cidade do México |
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO
Ainda à espera de ser ratificado como presidente eleito do
México, o conservador Felipe
Calderón afirmou, em entrevista coletiva ontem, que não
tem dúvidas sobre a legitimidade de sua vitória, que tentará
estender pontes à oposição e
que pretende aprofundar a relação do país com o Brasil. Na
tarde de ontem, recebeu um telefonema do vizinho do norte, o
presidente George W. Bush,
que o cumprimentou.
O esquerdista Andrés Manuel López Obrador deve entrar com pedido de impugnação da eleição e de recontagem
de todos os votos na próxima
segunda-feira. Ele promove hoje à tarde uma manifestação
contra o resultado das eleições,
no Zócalo, a praça principal da
Cidade do México.
Na coletiva, Calderón afirmou estar "satisfeito" por ter
vencido a "mais competitiva, a
mais limpa e a mais democrática eleição da história do México". A seguir, os principais trechos da entrevista.
APURAÇÃO POLÊMICA
"O resultado confirmou que
a apuração preliminar estava
certa. Foi contado voto por voto, na melhor hora, quando as
urnas foram fechadas. Há centenas de fiscais dos partidos, e
os dirigentes das seções eleitorais estão presentes.
Na época do Partido Revolucionário Institucional [PRI],
quando as urnas iam a caminho
do cômputo, os resultados
eram adulterados. Muitos que
estão com meu adversário são
dessa época, eram contra a democracia."
RELAÇÃO COM O BRASIL
"O México vai assumir um lugar claro e preponderante na
América Latina, a região será
prioridade. Quero relações
muito melhores com o Brasil.
As economias podem ser complementares. Já temos sinergia
na indústria automobilística, e
quero me aproximar da Petrobras. Sua tecnologia de exploração petrolífera em águas profundas interessa muito ao México. Também interessa conhecer o projeto de etanol [álcool]
como combustível para o mercado interno."
PARLAMENTO
"Espero sensatez do PRD
[Partido da Revolução Democrática, de López Obrador] e
aposto no fortalecimento das
instituições democráticas. Não
acho que será tão difícil alcançar maiorias. Farei um governo
de conciliação e vou tentar ganhar a confiança dos adversários -seguir a tolerância de Patricia Mercado, enfatizar a segurança de Roberto Madrazo,
priorizar o combate à pobreza
defendido por López Obrador."
RELAÇÃO COM EUA
"Acredito em uma América
do Norte com liberdade comercial, de investimentos e de mercado de trabalho. Vou propor
um programa de investimentos
em infra-estrutura e atividades
produtivas nas regiões que
mais expulsam mão-de-obra.
Um quilômetro de estradas em
Zacatecas é mais efetivo que 10
km de muro no Texas."
IMIGRAÇÃO ILEGAL
"Vou trabalhar contra qualquer idéia de segregação e discriminação contra nossos conterrâneos nos EUA. Não é com
tropas ou muros que se resolve
a imigração. É com mais empregos e melhores salários no
México."
NAFTA
"Não acho que seja a melhor
hora para qualquer revisão. Conhecendo-se a natureza dos sócios e o atual Congresso americano, não penso que o México
seria vencedor em uma renegociação agrícola. E temos superávit agrícola com os EUA. Um
de cada dois abacates do mundo é produzido no México. Antes nenhum deles podia entrar
nos EUA. Hoje eles são vendidos em quase todos os Estados
americanos, com barreiras na
Flórida e na Califórnia."
CHÁVEZ E FIDEL
"Que posso dizer de Fidel
Castro, se, quando nasci, ele já
estava no poder? Independentemente de minha posição pessoal, quero ter boas relações
com Cuba. Quanto à Venezuela, integrantes do governo venezuelano não querem deixar
dúvida de que tinham preferência pelo meu adversário. Lamento tê-los decepcionado por
ter vencido as eleições."
POBREZA
"Acho que minha proposta é
viável para reduzir a pobreza e
igualar as oportunidades. O governo de Vicente Fox reduziu a
pobreza extrema em 25% nos
últimos quatro anos. Junto
com o Chile, somos o único país
da região a conseguir esse feito.
Quero que o México continue a ser um país de segurança
jurídica e bom para investimentos, que crie novos empregos e com remuneração decente. Acredito no livre comércio
para isso. Com produtos mais
baratos, importação facilitada
de tecnologia e equipamentos
que favoreçam a produção teremos um ambiente melhor para
o crescimento."
HERANÇA POLÍTICA
"Quando eu era pequeno,
meu pai me levava para distribuir panfletos e fazer campanha para o PAN [Partido da
Ação Nacional]. Disseram-me
na escola: "Por que você faz
campanha, se, mesmo que ganhe, a vitória não será reconhecida?". Nos tempos do PRI era
assim. Só que meu pai disse que
continuaríamos a fazer campanha porque era o nosso dever."
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