São Paulo, sábado, 08 de julho de 2006

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Eleição foi a "mais limpa da história", diz Calderón

À espera da ratificação da vitória, conservador afirma que buscará a oposição

Para futuro presidente, México tem de assumir um papel maior na região, estreitar laço com Brasil e se aproximar da Petrobras

Dario Lopez-Mills/Associated Press
Simpatizantes do conservador Calderón "enforcam" boneco de seu rival, o esquerdista López Obrador, na Cidade do México


RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO

Ainda à espera de ser ratificado como presidente eleito do México, o conservador Felipe Calderón afirmou, em entrevista coletiva ontem, que não tem dúvidas sobre a legitimidade de sua vitória, que tentará estender pontes à oposição e que pretende aprofundar a relação do país com o Brasil. Na tarde de ontem, recebeu um telefonema do vizinho do norte, o presidente George W. Bush, que o cumprimentou.
O esquerdista Andrés Manuel López Obrador deve entrar com pedido de impugnação da eleição e de recontagem de todos os votos na próxima segunda-feira. Ele promove hoje à tarde uma manifestação contra o resultado das eleições, no Zócalo, a praça principal da Cidade do México.
Na coletiva, Calderón afirmou estar "satisfeito" por ter vencido a "mais competitiva, a mais limpa e a mais democrática eleição da história do México". A seguir, os principais trechos da entrevista.
 

APURAÇÃO POLÊMICA
"O resultado confirmou que a apuração preliminar estava certa. Foi contado voto por voto, na melhor hora, quando as urnas foram fechadas. Há centenas de fiscais dos partidos, e os dirigentes das seções eleitorais estão presentes.
Na época do Partido Revolucionário Institucional [PRI], quando as urnas iam a caminho do cômputo, os resultados eram adulterados. Muitos que estão com meu adversário são dessa época, eram contra a democracia."

RELAÇÃO COM O BRASIL
"O México vai assumir um lugar claro e preponderante na América Latina, a região será prioridade. Quero relações muito melhores com o Brasil. As economias podem ser complementares. Já temos sinergia na indústria automobilística, e quero me aproximar da Petrobras. Sua tecnologia de exploração petrolífera em águas profundas interessa muito ao México. Também interessa conhecer o projeto de etanol [álcool] como combustível para o mercado interno."

PARLAMENTO
"Espero sensatez do PRD [Partido da Revolução Democrática, de López Obrador] e aposto no fortalecimento das instituições democráticas. Não acho que será tão difícil alcançar maiorias. Farei um governo de conciliação e vou tentar ganhar a confiança dos adversários -seguir a tolerância de Patricia Mercado, enfatizar a segurança de Roberto Madrazo, priorizar o combate à pobreza defendido por López Obrador."

RELAÇÃO COM EUA
"Acredito em uma América do Norte com liberdade comercial, de investimentos e de mercado de trabalho. Vou propor um programa de investimentos em infra-estrutura e atividades produtivas nas regiões que mais expulsam mão-de-obra. Um quilômetro de estradas em Zacatecas é mais efetivo que 10 km de muro no Texas."

IMIGRAÇÃO ILEGAL
"Vou trabalhar contra qualquer idéia de segregação e discriminação contra nossos conterrâneos nos EUA. Não é com tropas ou muros que se resolve a imigração. É com mais empregos e melhores salários no México."

NAFTA
"Não acho que seja a melhor hora para qualquer revisão. Conhecendo-se a natureza dos sócios e o atual Congresso americano, não penso que o México seria vencedor em uma renegociação agrícola. E temos superávit agrícola com os EUA. Um de cada dois abacates do mundo é produzido no México. Antes nenhum deles podia entrar nos EUA. Hoje eles são vendidos em quase todos os Estados americanos, com barreiras na Flórida e na Califórnia."

CHÁVEZ E FIDEL
"Que posso dizer de Fidel Castro, se, quando nasci, ele já estava no poder? Independentemente de minha posição pessoal, quero ter boas relações com Cuba. Quanto à Venezuela, integrantes do governo venezuelano não querem deixar dúvida de que tinham preferência pelo meu adversário. Lamento tê-los decepcionado por ter vencido as eleições."

POBREZA
"Acho que minha proposta é viável para reduzir a pobreza e igualar as oportunidades. O governo de Vicente Fox reduziu a pobreza extrema em 25% nos últimos quatro anos. Junto com o Chile, somos o único país da região a conseguir esse feito.
Quero que o México continue a ser um país de segurança jurídica e bom para investimentos, que crie novos empregos e com remuneração decente. Acredito no livre comércio para isso. Com produtos mais baratos, importação facilitada de tecnologia e equipamentos que favoreçam a produção teremos um ambiente melhor para o crescimento."

HERANÇA POLÍTICA
"Quando eu era pequeno, meu pai me levava para distribuir panfletos e fazer campanha para o PAN [Partido da Ação Nacional]. Disseram-me na escola: "Por que você faz campanha, se, mesmo que ganhe, a vitória não será reconhecida?". Nos tempos do PRI era assim. Só que meu pai disse que continuaríamos a fazer campanha porque era o nosso dever."


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