São Paulo, terça-feira, 08 de agosto de 2006

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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Histórico mostra inação da ONU na região

Até a retirada de Israel do sul do Líbano, em 2000, o Conselho de Segurança aprovou mais de 60 resoluções insistindo na desocupação

Texto aprovado em 1978 é semelhante ao que se tenta obter agora para chegar a cessar-fogo, mas cenário desde então tem piorado


GUSTAVO CHACRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Tropas israelenses ocupavam o sul do Líbano para combater milícias inimigas. O governo de Beirute não conseguia estender a sua autoridade para a região. E a ONU aprovava uma resolução, a 425. Era 19 de março de 1978.
"Gravemente preocupado com a deterioração da situação no Oriente Médio e as conseqüências para a paz internacional", começava o texto, "e convencido de que a presente situação impede o alcance de uma paz justa no Oriente Médio", o Conselho de Segurança pedia o "respeito à integridade territorial do Líbano" com fronteiras reconhecidas; que Israel deixasse o país e encerrasse as operações militares; e criava a Unifil (Forca Interina da ONU para o Sul do Líbano).
Até a retirada de Israel do sul, em 2000, o Conselho de Segurança da ONU aprovou mais de 60 resoluções insistindo na desocupação israelense e no exercício de autoridade, pelo Líbano, no sul do país. Nenhuma das duas coisas ocorrera até então. E a Unifil se tornou uma inerte força de monitoramento cujo mandato era prorrogado sempre em janeiro e julho.
No meio tempo, a guerra civil do Líbano se intensificou; Israel ocupou uma capital árabe pela primeira vez; marines dos EUA e soldados da França que tentavam intervir no conflito foram vítimas de atentados de um grupo desconhecido na época, o Hizbollah; o presidente do Líbano Bashir Gemayel foi assassinado; Beirute foi destruída; milhares de civis palestinos e xiitas libaneses foram assassinados por falangistas cristãos-maronitas com permissão de Israel nos massacres de Sabra e Chatila, e Israel permaneceu no sul do país afirmando lutar contra o crescimento do Hizbollah, que dizia estar resistindo à ocupação.
Porém o texto da resolução 1.310, em 27 de julho de 2000, continha um fato novo: "O Conselho de Segurança da ONU e o secretário-geral chegaram a conclusão que em 16 de junho de 2000 Israel retirou suas forças do Líbano em acordo com a resolução 425".

Pressão sobre Beirute
Nos janeiros e julhos seguintes, novas resoluções foram aprovadas para prorrogar o mandato da Unifil e insistindo que o Líbano exercesse a sua autoridade no sul do país. A partir de então, a pressão caiu sobre Beirute, que assistia passiva ao Hizbollah se armar.
Em janeiro de 2004, a resolução 1.525, visivelmente se referindo a Israel e ao Hizbollah, afirmou que havia sérias "violações" da fronteira israelo-libanesa. Mas a resolução mais importante daquele ano foi a 1.559. De forma direta, o texto pedia a retirada das forças estrangeiras do Líbano (referência à Síria, mas que muitos libaneses afirmam também se referir as fazendas de Shebaa), o desarmamento das milícias libanesas e não-libanesas e apoiava o controle do governo libanês sobre o território.
O ex-premiê e então líder da oposição à presença síria Rafik Hariri foi morto em atentado, o que levou à Revolução dos Cedros e à retirada das forças militares e de inteligência sírias.
Na resolução 1.655, aprovada em janeiro, ficava claro que a tensão se elevava no sul.
Em maio, dias após visita do premie libanês, Fouad Siniora, aos EUA, nova resolução do CS da ONU foi aprovada, a 1.680. O governo do Líbano era elogiado por avanços na implementação da 1.559 por meio "de um diálogo nacional", mas o CS insistia que faltava ainda desarmar as milícias e controlar todo o território. Havia preocupação com o "movimento de armas para milícias no território libanês nos últimos seis meses" (provavelmente do Irã para o Hizbollah), uma expressão inédita e que de certa forma antecipava o que estava por vir.
A última resolução, a 1.697, de julho, prorroga o mandato da Unifil e cita preocupação com a escalada da violência.
Agora, estuda-se uma nova resolução para um cessar-fogo definitivo -muito parecido com 1978. Na época, o Líbano estava dividido na guerra civil. Agora, por enquanto, ainda não há combates internos. Mas, aparentemente, os dois países devem seguir como tema de 1 em cada 18 resoluções do CS.


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