São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2008

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comentário

Candidatos fogem da realidade

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

John McCain ou Barack Obama sentará na cadeira de presidente dos EUA em 20 de janeiro com uma das maiores crises da história no colo. Mas ambos negam-se a olhar de frente o tamanho do problema. Pois não parece razoável que ainda não tenham entendido, a ponto de listar energia, saúde e segurança como suas "principais prioridades".
O caos nos EUA e na Europa nos últimos dias é ante-sala do estrago que vem aí. Os faróis de milha do mercado já enxergaram isso. Daí o pânico.
A crise é uma crise de crédito. De sumiço de dinheiro para quem não tinha dinheiro. É uma ressaca. O fim da festa de quase cinco anos regada por consumo a base de crédito. Crédito tão potente e volumoso que tirou os EUA rapidamente da recessão de 2000 e irradiou seus efeitos para todo o planeta. Foi a fase mais exuberante em três décadas.
Problema: descobriu-se que um único dólar em crédito a receber lastreava até outros US$ 13 em empréstimos bichados. Tudo girava no vazio, que agora suga grandes bancos, mutuários e consumidores para a falência. A cadeia toda bate recordes de endividamento.
Mais de três quartos do PIB dos EUA vêm do consumo, que é movido a crédito. Ele agora secou até para empresas que faturam bilhões, obrigando as autoridades a ligar a máquina de dólares.
Pois bem. No debate de ontem, a crise esteve menos no centro do que deveria. "Ficaremos piores em termos econômicos antes de ficarmos melhores?", questionou o mediador Tom Brokaw.
Obama respondeu que "confia na força da economia americana" e desviou o assunto para a necessidade de "regular o mercado". Para McCain, "depende do que vamos fazer".
Somados, os resgates do Tesouro e do Fed já roçam os US$ 2 trilhões. De onde vem tanto dinheiro? Do déficit fiscal, que tende a dobrar no curtíssimo prazo e se tornar de difícil administração em um cenário de recessão, quando consumidores deixam de gastar, e o governo arrecada menos.
Mas Obama prometeu "um corte de impostos a 90% dos norte-americanos". McCain, "não elevar nenhum tributo e dobrar várias deduções".
Diante do front econômico, o resto do tempo foi gasto em Iraque, Irã, Afeganistão e Israel. O fato confirma a regra: debate é igual em qualquer lugar. Não serve para quase nada.


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