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comentário
Candidatos fogem da realidade
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
John McCain ou Barack
Obama sentará na cadeira de
presidente dos EUA em 20
de janeiro com uma das
maiores crises da história no
colo. Mas ambos negam-se a
olhar de frente o tamanho do
problema. Pois não parece
razoável que ainda não tenham entendido, a ponto de
listar energia, saúde e segurança como suas "principais
prioridades".
O caos nos EUA e na Europa nos últimos dias é ante-sala do estrago que vem aí.
Os faróis de milha do mercado já enxergaram isso. Daí o
pânico.
A crise é uma crise de crédito. De sumiço de dinheiro
para quem não tinha dinheiro. É uma ressaca. O fim da
festa de quase cinco anos regada por consumo a base de
crédito. Crédito tão potente
e volumoso que tirou os EUA
rapidamente da recessão de
2000 e irradiou seus efeitos
para todo o planeta. Foi a fase mais exuberante em três
décadas.
Problema: descobriu-se
que um único dólar em crédito a receber lastreava até
outros US$ 13 em empréstimos bichados. Tudo girava
no vazio, que agora suga
grandes bancos, mutuários e
consumidores para a falência. A cadeia toda bate recordes de endividamento.
Mais de três quartos do
PIB dos EUA vêm do consumo, que é movido a crédito.
Ele agora secou até para empresas que faturam bilhões,
obrigando as autoridades a
ligar a máquina de dólares.
Pois bem. No debate de ontem, a crise esteve menos no
centro do que deveria. "Ficaremos piores em termos econômicos antes de ficarmos
melhores?", questionou o
mediador Tom Brokaw.
Obama respondeu que
"confia na força da economia
americana" e desviou o assunto para a necessidade de
"regular o mercado". Para
McCain, "depende do que
vamos fazer".
Somados, os resgates do
Tesouro e do Fed já roçam os
US$ 2 trilhões. De onde vem
tanto dinheiro? Do déficit
fiscal, que tende a dobrar no
curtíssimo prazo e se tornar
de difícil administração em
um cenário de recessão,
quando consumidores deixam de gastar, e o governo
arrecada menos.
Mas Obama prometeu
"um corte de impostos a 90%
dos norte-americanos".
McCain, "não elevar nenhum tributo e dobrar várias
deduções".
Diante do front econômico, o resto do tempo foi gasto
em Iraque, Irã, Afeganistão e
Israel. O fato confirma a regra: debate é igual em qualquer lugar. Não serve para
quase nada.
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