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Benazir desafia ditador paquistanês
Ex-premiê convoca protestos; em telefonema dos EUA, Bush faz apelo a Musharraf por eleições
Mudança de atitude da ex-premiê se deve a temores pelo esperado adiamento das eleições gerais após a imposição de emergência
DA REDAÇÃO
A ex-premiê do Paquistão
Benazir Bhutto desafiou o ditador do país, Pervez Musharraf,
ao exigir ontem o fim imediato
do estado de emergência decretado no último sábado e convocar grandes protestos para
amanhã em Rawalpindi (norte). "Apelo ao povo do Paquistão para que se manifeste. Estamos sob ataque", afirmou.
Ao apelo de Benazir se somou outro, vindo de um telefonema dos EUA: o presidente
americano, George W. Bush,
afirmou em entrevista coletiva
ontem que ligou para Musharraf para pedir a ele que deixe a
farda e convoque eleições. Foi a
primeira vez que os dois conversaram diretamente desde o
estado de emergência.
Mas Washington, que tem no
Paquistão um de seus principais aliados contra o terrorismo, continua apoiando o ditador. Segundo o vice-secretário
de Estado americano, John Negroponte, apesar da "forte discordância" com o estado de
emergência, Musharraf é "um
aliado indispensável". "A parceria com o Paquistão e seu povo é a única opção", disse ele ao
Congresso ontem.
Já a clara mudança de posição de Benazir -que havia inicialmente moderado as críticas
e evitado se colocar contra
Musharraf- está sendo encarada como uma tentativa de
reavivar suas chances de se tornar premiê em 2008, ameaçadas pelo esperado adiamento
das eleições gerais de janeiro.
Antes do estado de emergência, Benazir e Musharraf negociavam um acordo de divisão de
poder que permitiria a ela se
tornar premiê enquanto o ditador continuaria na Presidência.
O partido de Benazir, o laico
PPP (Partido do Povo do Paquistão), era o favorito na disputa pelo Parlamento, mas o
decreto lançou dúvidas sobre a
data das eleições e deixou o
acordo em suspenso.
Além da marcha de amanhã,
ela promete repetir o protesto
no próximo dia 13 se Musharraf
não suspender o estado de
emergência e marcar a votação,
mas não descartou negociar se
as exigências forem atendidas.
Golpe sobre golpe
No poder desde 1999, quando
deu um primeiro golpe, Musharraf decretou o estado de
emergência há seis dias alegando crescente oposição no Judiciário, na mídia e na política.
A Constituição foi suspensa,
juízes da Corte Suprema foram
destituídos, canais de TV privados foram tirados do ar e 3.500
pessoas foram presas, segundo
dissidentes -o governo admite
metade desse número.
Acredita-se que o decreto foi
motivado pelo questionamento
da Suprema Corte sobre a reeleição de Musharraf -ele acumula a chefia das Forças Armadas e a Presidência, o que é
proibido pela Constituição.
Como nos últimos cinco dias,
confrontos ocorreram ontem:
depois da fala de Benazir contra o decreto, cerca de 400 partidários da ex-premiê saíram às
ruas de Islamabad e entraram
em confronto com policiais,
que usaram gás lacrimogêneo e
prenderam participantes perto
do Parlamento -onde o estado
de emergência fora aprovado
em votação pouco antes.
Com agências internacionais
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