São Paulo, quinta-feira, 08 de novembro de 2007

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Benazir desafia ditador paquistanês

Ex-premiê convoca protestos; em telefonema dos EUA, Bush faz apelo a Musharraf por eleições

Mudança de atitude da ex-premiê se deve a temores pelo esperado adiamento das eleições gerais após a imposição de emergência

DA REDAÇÃO

A ex-premiê do Paquistão Benazir Bhutto desafiou o ditador do país, Pervez Musharraf, ao exigir ontem o fim imediato do estado de emergência decretado no último sábado e convocar grandes protestos para amanhã em Rawalpindi (norte). "Apelo ao povo do Paquistão para que se manifeste. Estamos sob ataque", afirmou.
Ao apelo de Benazir se somou outro, vindo de um telefonema dos EUA: o presidente americano, George W. Bush, afirmou em entrevista coletiva ontem que ligou para Musharraf para pedir a ele que deixe a farda e convoque eleições. Foi a primeira vez que os dois conversaram diretamente desde o estado de emergência.
Mas Washington, que tem no Paquistão um de seus principais aliados contra o terrorismo, continua apoiando o ditador. Segundo o vice-secretário de Estado americano, John Negroponte, apesar da "forte discordância" com o estado de emergência, Musharraf é "um aliado indispensável". "A parceria com o Paquistão e seu povo é a única opção", disse ele ao Congresso ontem.
Já a clara mudança de posição de Benazir -que havia inicialmente moderado as críticas e evitado se colocar contra Musharraf- está sendo encarada como uma tentativa de reavivar suas chances de se tornar premiê em 2008, ameaçadas pelo esperado adiamento das eleições gerais de janeiro.
Antes do estado de emergência, Benazir e Musharraf negociavam um acordo de divisão de poder que permitiria a ela se tornar premiê enquanto o ditador continuaria na Presidência. O partido de Benazir, o laico PPP (Partido do Povo do Paquistão), era o favorito na disputa pelo Parlamento, mas o decreto lançou dúvidas sobre a data das eleições e deixou o acordo em suspenso.
Além da marcha de amanhã, ela promete repetir o protesto no próximo dia 13 se Musharraf não suspender o estado de emergência e marcar a votação, mas não descartou negociar se as exigências forem atendidas.

Golpe sobre golpe
No poder desde 1999, quando deu um primeiro golpe, Musharraf decretou o estado de emergência há seis dias alegando crescente oposição no Judiciário, na mídia e na política.
A Constituição foi suspensa, juízes da Corte Suprema foram destituídos, canais de TV privados foram tirados do ar e 3.500 pessoas foram presas, segundo dissidentes -o governo admite metade desse número.
Acredita-se que o decreto foi motivado pelo questionamento da Suprema Corte sobre a reeleição de Musharraf -ele acumula a chefia das Forças Armadas e a Presidência, o que é proibido pela Constituição.
Como nos últimos cinco dias, confrontos ocorreram ontem: depois da fala de Benazir contra o decreto, cerca de 400 partidários da ex-premiê saíram às ruas de Islamabad e entraram em confronto com policiais, que usaram gás lacrimogêneo e prenderam participantes perto do Parlamento -onde o estado de emergência fora aprovado em votação pouco antes.


Com agências internacionais


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