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QUEDA DO MURO: 20 ANOS DEPOIS
Ex-burocrata aponta dedo soviético no fim da RDA
Queda do muro só foi possível após saída de dirigente coagido pela URSS, diz Schabowski
Revelação foi feita ao historiador brasileiro Moniz Bandeira, que lança nova edição de seu livro sobre reunificação da Alemanha
JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Às 19h daquele 9 de novembro de 1989 um dos dirigentes
da RDA (República Democrática Alemã), Günter Schabowski,
reúne correspondentes estrangeiros e anuncia que os cidadãos do país comunista poderiam atravessar livremente as
fronteiras. Nas horas seguintes,
caía o Muro de Berlim, abrindo
o caminho para que as duas
Alemanhas se reunificassem
em outubro de 1990.
Schabowski, em entrevista
ao historiador e cientista político brasileiro Luiz Alberto Moniz Bandeira, diz que o episódio
só foi possível após a queda, em
outubro, de Erich Honecker,
primeiro-secretário do SED
(Partido Socialista Unificado),
que resistia às pressões internas e soviéticas por reformas
que tomassem por modelo a
perestroika do líder soviético
Mikhail Gorbatchev. Schabowski diz que as articulações
para a queda partiram dele e de
dois outros dirigentes, Egon
Krenz e Siegfried Lorenz.
Em "A Reunificação da Alemanha -do ideal socialista ao
socialismo real", que acaba de
sair em terceira edição (Unesp,
236 págs.), Moniz Bandeira
lembra a fragilidade econômica
e institucional que havia desfigurado a RDA. Antes da queda
do muro, 225 mil alemães
orientais haviam em poucas semanas deixado o país pelas
fronteiras com Tchecoslováquia e Polônia, levando ao colapso a indústria e os serviços
estatais. A dívida da Alemanha
Oriental com o Ocidente, de
US$ 26,5 bilhões, era tecnicamente impagável.
O dedo de Moscou
O historiador brasileiro argumenta, contudo, que as mudanças tiveram também o discreto
e decisivo dedo de Moscou. Se
Gorbatchev em pouco influenciou as reformas na Polônia e
Hungria, ele foi bem mais ativo
na Tchecoslováquia, na Bulgária, na Romênia "e, sobretudo,
na RDA", onde o KGB (departamento de segurança interna da
URSS) atuou ao lado da Stasi,
polícia secreta da Alemanha comunista, representada por dois
fortes conspiradores, Markus
Wolf e Erich Mielke.
Este último estava disposto a
chantagear Honecker com um
dossiê que comprovaria sua colaboração com a Gestapo durante o regime nazista.
Gorbatchev desejava para as
duas Alemanhas uma união de
modelo confederado e que não
as mantivesse na esfera dos
dois blocos militares na época
existentes, a Otan e o Pacto de
Varsóvia. De forma tortuosa, isso neutralizaria a Guerra Fria e
favoreceria o plano de integração da Rússia à Europa.
O problema estava em controlar um cronograma torpedeado dentro da RDA por organizações da sociedade civil, que
davam provas de robustez com
grandes manifestações de rua
em Leipizig ou Berlim. A resposta repressiva estava na lógica de Honecker e de parte de
sua entourage. Mas ele não pôde desencadeá-la. Os ventos da
democracia e da reunificação
sopraram mais rápido.
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