São Paulo, domingo, 08 de novembro de 2009

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QUEDA DO MURO: 20 ANOS DEPOIS

Ex-burocrata aponta dedo soviético no fim da RDA

Queda do muro só foi possível após saída de dirigente coagido pela URSS, diz Schabowski

Revelação foi feita ao historiador brasileiro Moniz Bandeira, que lança nova edição de seu livro sobre reunificação da Alemanha

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Às 19h daquele 9 de novembro de 1989 um dos dirigentes da RDA (República Democrática Alemã), Günter Schabowski, reúne correspondentes estrangeiros e anuncia que os cidadãos do país comunista poderiam atravessar livremente as fronteiras. Nas horas seguintes, caía o Muro de Berlim, abrindo o caminho para que as duas Alemanhas se reunificassem em outubro de 1990.
Schabowski, em entrevista ao historiador e cientista político brasileiro Luiz Alberto Moniz Bandeira, diz que o episódio só foi possível após a queda, em outubro, de Erich Honecker, primeiro-secretário do SED (Partido Socialista Unificado), que resistia às pressões internas e soviéticas por reformas que tomassem por modelo a perestroika do líder soviético Mikhail Gorbatchev. Schabowski diz que as articulações para a queda partiram dele e de dois outros dirigentes, Egon Krenz e Siegfried Lorenz.
Em "A Reunificação da Alemanha -do ideal socialista ao socialismo real", que acaba de sair em terceira edição (Unesp, 236 págs.), Moniz Bandeira lembra a fragilidade econômica e institucional que havia desfigurado a RDA. Antes da queda do muro, 225 mil alemães orientais haviam em poucas semanas deixado o país pelas fronteiras com Tchecoslováquia e Polônia, levando ao colapso a indústria e os serviços estatais. A dívida da Alemanha Oriental com o Ocidente, de US$ 26,5 bilhões, era tecnicamente impagável.

O dedo de Moscou
O historiador brasileiro argumenta, contudo, que as mudanças tiveram também o discreto e decisivo dedo de Moscou. Se Gorbatchev em pouco influenciou as reformas na Polônia e Hungria, ele foi bem mais ativo na Tchecoslováquia, na Bulgária, na Romênia "e, sobretudo, na RDA", onde o KGB (departamento de segurança interna da URSS) atuou ao lado da Stasi, polícia secreta da Alemanha comunista, representada por dois fortes conspiradores, Markus Wolf e Erich Mielke.
Este último estava disposto a chantagear Honecker com um dossiê que comprovaria sua colaboração com a Gestapo durante o regime nazista.
Gorbatchev desejava para as duas Alemanhas uma união de modelo confederado e que não as mantivesse na esfera dos dois blocos militares na época existentes, a Otan e o Pacto de Varsóvia. De forma tortuosa, isso neutralizaria a Guerra Fria e favoreceria o plano de integração da Rússia à Europa.
O problema estava em controlar um cronograma torpedeado dentro da RDA por organizações da sociedade civil, que davam provas de robustez com grandes manifestações de rua em Leipizig ou Berlim. A resposta repressiva estava na lógica de Honecker e de parte de sua entourage. Mas ele não pôde desencadeá-la. Os ventos da democracia e da reunificação sopraram mais rápido.

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