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"Violamos a lei", diz agente condenada por ação da CIA
Para Sabrina De Sousa, EUA abandonaram réus por sequestro na Itália em 2003
Ela e 22 americanos foram condenados na quarta-feira pela abdução de um clérigo muçulmano; "tudo o que fiz teve o aval de Washington"
DO "INDEPENDENT"
Um dos agentes americanos
condenados à revelia por um
tribunal italiano por sua participação na abdução de um clérigo muçulmano por agentes da
CIA, em 2003, reconheceu que
os agentes "violaram a lei" e se
queixou de ter recebido proteção insuficiente de seus superiores em Washington.
Sabrina De Sousa, que na
época do sequestro trabalhava
no consulado dos EUA em Milão, deixou claro em entrevista
à ABC News que estava insatisfeita com o fato de ela e outros
22 americanos condenados por
um tribunal de Milão na quarta-feira terem sido na prática
abandonados por seu país para
se defenderem por conta própria durante o julgamento.
De Sousa, que não declarou
de forma explícita ter trabalhado diretamente para a CIA, foi
sentenciada a cinco anos de
prisão. Na verdade, no dia em
que o clérigo, conhecido como
Abu Omar, foi sequestrado na
rua e levado clandestinamente
primeiro para a Alemanha e de
lá para o Egito, ela estava fora
da cidade, tendo tirado folga.
A sentença mais longa, de oito anos, foi dada ao ex-chefe de
estação da CIA em Milão, Robert Seldon Lady. Parece pouco
provável que os americanos
condenados venham a cumprir
as penas, entre outras razões
porque Roma se negou a pedir a
extradição deles dos EUA, em
parte pelo receio do desgaste
que isso poderia causar às relações com o governo americano.
É provável, porém, que os 22
condenados sempre corram o
risco de serem presos se deixarem o território americano a
trabalho ou a lazer, especialmente à Itália. Segundo relatos,
o promotor Armando Spataro
estaria estudando a possibilidade pedir mandados internacionais de prisão contra todos
os condenados.
Dizendo se sentir "abandonada e traída" enquanto o julgamento foi levado adiante, ao
longo de três anos, De Sousa
disse: "Tudo o que eu fiz foi
aprovado por Washington. E
estamos pagando agora pelos
erros cometidos por quem autorizou e aprovou isso".
O fato de tantos antigos e
atuais agentes da CIA terem sido levados a julgamento em um
tribunal no exterior também
começou a causar indignação
entre alguns funcionários no
Capitólio. "Acho que essas pessoas foram abandonadas ali, foram deixadas na mão", queixou-se o deputado republicano
Pete Hoekstra, da Comissão de
Inteligência da Câmara. "Elas
estão sofrendo as consequências de uma decisão tomada por
seus superiores em nossas
agências. Isso não está certo."
A CIA está se negando a comentar o caso, que está sendo
visto como forte repreensão ao
governo do presidente George
W. Bush. É a primeira vez que
agentes da CIA são levados a
julgamento fora do país por
suas atividades dentro da
"guerra ao terror" de Bush.
O sequestro de Abu Omar,
subsequentemente torturado
em uma prisão do Egito, foi
uma das chamadas transferências forçadas em que suspeitos
de terrorismo foram levados
clandestinamente a terceiros
países para interrogatório.
Em entrevista ao jornal italiano "Il Giornale", Lady aparentemente falou com franqueza sobre a maneira legalmente
obscura em que o clérigo foi detido. "É claro que foi uma operação ilegal", disse. "Mas esse é
o nosso trabalho. Estamos em
guerra contra o terrorismo."
Spataro saudou as condenações. "Está claro que o sequestro foi um grave erro. Causou
danos graves na luta ao terrorismo, porque não precisamos
de tortura, não precisamos de
transferência forçada, não precisamos de prisões secretas."
Tradução de CLARA ALLAIN
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