São Paulo, domingo, 08 de novembro de 2009

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"Violamos a lei", diz agente condenada por ação da CIA

Para Sabrina De Sousa, EUA abandonaram réus por sequestro na Itália em 2003

Ela e 22 americanos foram condenados na quarta-feira pela abdução de um clérigo muçulmano; "tudo o que fiz teve o aval de Washington"

DO "INDEPENDENT"

Um dos agentes americanos condenados à revelia por um tribunal italiano por sua participação na abdução de um clérigo muçulmano por agentes da CIA, em 2003, reconheceu que os agentes "violaram a lei" e se queixou de ter recebido proteção insuficiente de seus superiores em Washington.
Sabrina De Sousa, que na época do sequestro trabalhava no consulado dos EUA em Milão, deixou claro em entrevista à ABC News que estava insatisfeita com o fato de ela e outros 22 americanos condenados por um tribunal de Milão na quarta-feira terem sido na prática abandonados por seu país para se defenderem por conta própria durante o julgamento.
De Sousa, que não declarou de forma explícita ter trabalhado diretamente para a CIA, foi sentenciada a cinco anos de prisão. Na verdade, no dia em que o clérigo, conhecido como Abu Omar, foi sequestrado na rua e levado clandestinamente primeiro para a Alemanha e de lá para o Egito, ela estava fora da cidade, tendo tirado folga.
A sentença mais longa, de oito anos, foi dada ao ex-chefe de estação da CIA em Milão, Robert Seldon Lady. Parece pouco provável que os americanos condenados venham a cumprir as penas, entre outras razões porque Roma se negou a pedir a extradição deles dos EUA, em parte pelo receio do desgaste que isso poderia causar às relações com o governo americano.
É provável, porém, que os 22 condenados sempre corram o risco de serem presos se deixarem o território americano a trabalho ou a lazer, especialmente à Itália. Segundo relatos, o promotor Armando Spataro estaria estudando a possibilidade pedir mandados internacionais de prisão contra todos os condenados.
Dizendo se sentir "abandonada e traída" enquanto o julgamento foi levado adiante, ao longo de três anos, De Sousa disse: "Tudo o que eu fiz foi aprovado por Washington. E estamos pagando agora pelos erros cometidos por quem autorizou e aprovou isso".
O fato de tantos antigos e atuais agentes da CIA terem sido levados a julgamento em um tribunal no exterior também começou a causar indignação entre alguns funcionários no Capitólio. "Acho que essas pessoas foram abandonadas ali, foram deixadas na mão", queixou-se o deputado republicano Pete Hoekstra, da Comissão de Inteligência da Câmara. "Elas estão sofrendo as consequências de uma decisão tomada por seus superiores em nossas agências. Isso não está certo."
A CIA está se negando a comentar o caso, que está sendo visto como forte repreensão ao governo do presidente George W. Bush. É a primeira vez que agentes da CIA são levados a julgamento fora do país por suas atividades dentro da "guerra ao terror" de Bush.
O sequestro de Abu Omar, subsequentemente torturado em uma prisão do Egito, foi uma das chamadas transferências forçadas em que suspeitos de terrorismo foram levados clandestinamente a terceiros países para interrogatório.
Em entrevista ao jornal italiano "Il Giornale", Lady aparentemente falou com franqueza sobre a maneira legalmente obscura em que o clérigo foi detido. "É claro que foi uma operação ilegal", disse. "Mas esse é o nosso trabalho. Estamos em guerra contra o terrorismo."
Spataro saudou as condenações. "Está claro que o sequestro foi um grave erro. Causou danos graves na luta ao terrorismo, porque não precisamos de tortura, não precisamos de transferência forçada, não precisamos de prisões secretas."


Tradução de CLARA ALLAIN

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