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DIREITOS HUMANOS
Relatório pede fiscalização da polícia
Material de segurança é usado para tortura, diz Anistia Internacional
MARIA LUIZA ABBOTT
DE LONDRES
A Anistia Internacional (AI) está denunciando o crescente uso
em tortura de equipamentos que
deveriam ser aplicados em segurança, como cassetetes, revólveres
de eletrochoque para atordoamento e gás lacrimogêneo. Em
seu relatório "Os Mercadores da
Dor", a organização pede que os
governos fiscalizem a utilização
desse material pela polícia e controlem a exportação desses equipamentos. Também pede a simples proibição de equipamentos
"desenhados para tortura", como
cintos de eletrochoque ou algemas de polegar.
O relatório denuncia os Estados
Unidos por autorizarem a exportação de material que pode ser
usado em tortura para países que
o próprio governo americano denuncia por esse tipo de prática,
entre eles o Brasil. Segundo a AI, o
Departamento de Comércio dos
EUA aprovou licenças de exportação de aparelhos como cassetetes de eletrochoque para países
criticados pelo Departamento de
Estado pela prática de tortura.
"Em 2002, esses países incluíram Bangladesh, Brasil, Equador,
Gana, Honduras, Índia, Jordânia,
Líbano, México, Arábia Saudita,
África do Sul e Venezuela", diz o
relatório. A Anistia cita casos recentes de tortura policial no Brasil, entre eles um depoimento a
um jornal de um policial que diz
ter "prazer" em torturar prisioneiros com eletrochoque.
O levantamento da Anistia
aponta a existência de 59 fabricantes de equipamentos de eletrochoques em 12 países do mundo.
Uma dessas fábricas, a única da
América do Sul, fica no Brasil. Há
16 em Taiwan, 13 na China, dez na
Coréia do Sul e oito nos EUA e em
outros países.
Segundo a pesquisadora Anthea Lawson, uma das autoras do
relatório, a organização reconhece o direito e o dever da polícia de
proteger a população. No entanto
ela diz que a ação policial deve ser
feita de acordo com os preceitos
da Organização das Nações Unidas (ONU) de respeito aos direitos humanos.
"A Anistia tem constatado que o
uso da força em muitos países está indo além do mínimo necessário estabelecido pela ONU", disse
Anthea Lawson à Folha. "Bater
nas pessoas, por exemplo, é punir
a população, não protegê-la."
O relatório apóia proposta da
União Européia (UE) para controlar o comércio internacional
de produtos que podem ser usados em tortura. O texto, ainda em
preparação, prevê a proibição de
exportação para fora da UE de
equipamentos como cintos de
eletrochoques (usados nos Estados Unidos para que policiais
possam controlar -por controle
remoto- os presos que estão
sendo transportados). A ONU, segundo a Anistia, também prepara
regulamentação semelhante.
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