São Paulo, sábado, 08 de dezembro de 2007

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Rússia quer paridade nuclear com os EUA

Retomar produção de mísseis intercontinentais é estratégico, diz vice-premiê; "fracos não são ouvidos"

DA REDAÇÃO

O vice-premiê russo Sergei Ivanov, apontado por analistas como um possível sucessor do presidente Vladimir Putin, disse ontem que o país precisa alcançar a paridade nuclear com os Estados Unidos. "Os fracos não são amados nem ouvidos -são insultados; quando tivermos paridade eles falarão conosco de outro modo", afirmou Ivanov aos veteranos e atuais membros do Comitê Militar-Industrial russo, órgão oriundo da Guerra Fria que completou ontem 50 anos.
O presidenciável russo falou ao comitê sobre um belicoso conselho que teria recebido do ex-secretário da Defesa norte-americano Donald Rumsfeld, um dos principais articuladores da Doutrina Bush. "O mesmo Donald Rumsfeld, que passou a infância em Chicago, famosa pelos mafiosos, me disse: "eles ouvem melhor seus argumentos se, além de sorrir, você tiver um arma no bolso"."
A paridade seria qualitativa e não quantitativa, segundo Ivanov. Ele diz que a cada ano a Rússia deve fabricar seis ou sete Topol-M -seus mais modernos mísseis nucleares intercontinentais-, embora seja capaz de produzir de 25 a 30. Desde as décadas de 70 e 80, uma série de acordos busca regulamentar a redução do arsenal nuclear mundial.
O presidente Vladimir Putin parabenizou ontem o Comitê Militar-Industrial, pelas "significativas contribuições" ao desenvolvimento econômico e à segurança do país. Impedido constitucionalmente de exercer um terceiro mandato consecutivo, o popularíssimo Putin terá influência decisiva nas eleições de março e a próxima gestão deve acompanhar as diretrizes estratégicas do seu governo -que buscou uma reinserção da Rússia como potência internacional.

Relações tensas
As aspirações de grandeza russa vêm deteriorando as relações do país com Estados Unidos ao longo das duas gestões de Putin.
O 11 de Setembro representou uma breve trégua, com a ascensão global da agenda antiterrorismo de Bush, que ajudou a legitimar as iniciativas de Moscou para reprimir separatistas, em especial islâmicos.
Logo, porém, a curta lua-de-mel entre o Kremlin e a Casa Branca seria ofuscada por divergências sobre importantes questões geopolíticas, sobretudo no Cáucaso e em relação ao Irã. Moscou defende o programa nuclear de Teerã e se opõe a novas sanções contra o país.

Propaganda anti-russa
O chancelar russo Sergei Lavrov acusou ontem a americana Fundação Jamestown de espalhar propaganda anti-russa e criticou os Estados Unidos por terem permitido a realização, na semana passada, de evento do think-tank em Washington.
As tensões separatistas nos Bálcãs e na Chechênia eram o tema do debate da Jamestown, que criticou duramente as políticas russas nas duas regiões. Segundo o chanceler, os palestrantes "receberam carta branca para espalhar propaganda extremistas e incitar discórdia étnica e religiosa". A Fundação Jamestown tem entre seus membros Zbigniew Brzezinski, conselheiro de Segurança Nacional durante a gestão de Jimmy Carter na Casa Branca.
A interferência estrangeira em assuntos internos é tema corrente no debate político russo. Durante a campanha legislativa, Putin chamou seus opositores de "hienas" alimentadas pelo dinheiro ocidental.


Com agências internacionais


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