São Paulo, sexta-feira, 09 de janeiro de 2009

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EUA sabiam que Exército colombiano matava civis

Documentos oficiais afirmam que assassinatos eram conhecidos desde 1994

Ex-embaixador afirma que Washington não tinha como intervir; para ministro da Defesa colombiano, não se deve "inflar problema"

DA REDAÇÃO

A CIA e diplomatas de alto escalão dos Estados Unidos sabiam desde 1994 que as forças de segurança colombianas operavam como esquadrão da morte, cooperavam com grupos paramilitares de tráfico de drogas e estimulavam a política dos "falsos positivos" -o assassinato de civis inocentes para inflar o número de baixas inimigas obtidas pelos militares.
As informações estão em documentos oficiais tornados públicos ontem na internet pela ONG National Security Archive, da Universidade George Washington, nos EUA.
"Nós sabíamos. Não sabíamos de todos os detalhes, mas quando falávamos com os militares sobre esses rumores, eles os negavam ruidosamente", declarou o ex-embaixador norte-americano em Bogotá Myles Frechette a uma rádio da capital colombiana.
"Nessa época, 1994, a ajuda militar [à Colômbia] foi quase proibida pelo Congresso americano por causa das violações dos direitos humanos nos anos anteriores, e o foco da ajuda era para combater o narcotráfico."
"Não tínhamos muito a dar ao Exército", continuou Frechette, dizendo que, por isso, "não tínhamos como exigir que nos informassem nem cortar ajuda militar, porque não havia dinheiro envolvido". Ainda assim, segundo o ex-embaixador, a situação foi denunciada ao então presidente colombiano, Ernesto Samper (1994-1998).

Defesa
Ao comentar a divulgação dos documentos, o atual ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, afirmou que é preciso "ter cuidado com quem quer inflar o problema além do que realmente é".
O ministro não fez comentários sobre o conteúdo dos documentos, mas defendeu as políticas de defesa dos direitos humanos do governo do presidente Álvaro Uribe.
Santos afirmou haver "tolerância zero com qualquer violação dos direitos humanos" e que "não há Exército em todo o mundo que tenha tido mais treinamento, mais capacitação em matéria de direitos humanos [que o colombiano]". "O Estado e a Justiça estão diante desse problema. Nosso objetivo, neste ano de 2009, é que nenhum culpado fique impune."

Investigação
Os registros jogam luz sobre uma prática -cuja investigação foi iniciada em outubro pelo governo colombiano- que influenciou o comportamento de comandantes militares durante anos e que acabou levando a execuções extrajudiciais.
Em setembro do ano passado, os corpos de pelo menos 19 jovens foram encontrados num cemitério no norte da Colômbia. A versão do Exército foi de que eles haviam sido mortos em combate, após serem aliciados ou sequestrados por grupos narcotraficantes. Mas surgiram suspeitas pelo fato de os jovens terem morrido apenas um ou dois dias após as notificações de desaparecimento.
O comandante do Exército colombiano, general Mario Montoya -ponte entre o Pentágono e as Forças Armadas da Colômbia- renunciou ao cargo, pressionado pela repercussão do escândalo.
Montoya estimulou por muito tempo a ideia de usar a contagem de corpos para medir o progresso do Exército na luta contra as guerrilhas. Os militares recebiam bonificações pelo sucesso das operações.


Com agências internacionais


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