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Legislativo perdeu poder que tinha, diz analista
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
A crise política equatoriana é
resultado de um Congresso
oposicionista fragilizado diante
de um presidente popular, mas
que agia como se ainda retivesse o amplo poder dos últimos
anos, quando destituiu três
mandatários, segundo a avaliação de Adrián Bonilla, professor da Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais). Para ele, dificilmente os
57 deputados de oposição a Rafael Correa recuperarão seus
mandatos. Leia, a seguir, trechos da entrevista concedida à
Folha, de Quito:
FOLHA - O afastamento do presidente do TSE pelo Congresso e a destituição de 57 parlamentares têm
respaldo constitucional?
ADRIÁN BONILLA - Não se trata de
um problema jurídico. Em
qualquer uma das duas posições, é possível encontrar opiniões jurídicas contra ou a favor das medidas. É um problema político em relação à convocatória de uma consulta popular sobre uma Assembléia
Constituinte. Por diferentes
motivos, um grupo majoritário
de parlamentares vinha tentando bloquear essa consulta.
Parece difícil, neste momento,
que a consulta possa ser detida.
FOLHA - Como fica o Congresso?
BONILLA - O Congresso equatoriano, nos períodos anteriores,
era muito forte politicamente e
pôde dar três golpes de Estado.
Era um Congresso que pôde tirar os presidentes do sério desde o começo, diante do temor
de que podiam ser destituídos.
E desse Congresso dependiam
depois os presidentes interinos
que sucediam os derrubados.
O Congresso atual, no entanto, é débil por duas razões básicas: primeiro, porque o presidente deliberadamente não
apresentou candidatos parlamentares para dar credibilidade à sua proposta eleitoral de
convocar uma Assembléia
Constituinte. Em segundo, o
presidente é muito popular.
De forma que um Congresso
de oposição é débil, mas atuou
nestes dois meses como se fosse um fortíssimo Congresso de
períodos anteriores. Perdeu a
perspectiva da luta política e
tensionou tanto as coisas que
parece difícil reconstituir-se na
sua forma anterior.
FOLHA - Quais são os cenários?
BONILLA - Eu vejo dois: o primeiro é que a decisão do TSE se
consolide, e isso significa que
os 57 parlamentares serão destituídos. E a segunda possibilidade, menos provável, é que haja um transigência mediante a
qual os parlamentares continuariam com mandato, desde
que não haja nenhuma interferência no referendo. Isso dependerá do apoio político que o
Congresso conseguirá reunir.
No momento, é pouco: apenas
alguns meios de comunicação.
FOLHA - Não pode haver uma pressão de fora?
BONILLA - A possibilidade de
que a comunidade internacional interprete isso como uma
ruptura democrática também é
muito distante porque a destituição se produz não pelo presidente, mas por parte de um
organismo colegiado nomeado
pelo próprio Congresso há apenas seis semanas.
FOLHA - O sr., portanto, considera
que o Congresso foi destituído?
BONILLA - É uma destituição da
maioria dos deputados feita pelo TSE, nomeado por esse mesmo Congresso, para evitar ser
destituído por essa maioria. Ou
seja, é uma reação do TSE diante da iminente destituição desse tribunal pelo Congresso.
FOLHA - A bancada do ex-presidente Lucio Gutiérrez também foi destituída, apesar de ele ter indicado o
presidente do TSE, Jorge Acosta, até
recentemente seu advogado pessoal. Como houve essa mudança radical em tão pouco tempo?
BONILLA - É o partido de Gutiérrez, PSP, que precipita a crise porque concorda em destituir o presidente do TSE. Isso
ocorreu por que Acosta deixou
passar o processo do referendo.
Gutiérrez apoiava a Constituinte na retórica, mas na prática cria obstáculos com os votos de seu partido.
FOLHA - Está criado um clima de
polarização comparável ao que existe na Venezuela?
BONILLA - Não, o país é muito
fragmentado. Temos um conflito político, mas isso não significa que a população tenha se
polarizado a favor de Correa ou
contra ele. Ele tem um partido
quase inexistente e uma Assembléia Constituinte também
será fragmentada, com uma
maioria de centro-esquerda,
mas não de forças homogêneas.
Correa tem de pactuar com várias forças, assim como a oposição.
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