São Paulo, sexta-feira, 09 de março de 2007

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Último ditador da Argentina é detido

Reynaldo Bignone responde por violações de direitos humanos, seqüestro e apologia da violência

BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

Foi detido ontem o ex-presidente argentino Reynaldo Bignone, 79, o último da ditadura militar, encerrada em 1983. A ordem de prisão saiu de processo em que o ex-ditador é acusado de violações aos direitos humanos praticadas no Campo de Mayo, onde funcionava um centro de detenção clandestino durante o regime.
Ontem, por ordem de um juiz federal, Bignone foi levado justamente para o instituto carcerário do Campo de Mayo. Por causa de sua idade, entretanto, deve ser beneficiado pelo direito à prisão domiciliar.
O ex-presidente estava em liberdade desde 2005, quando foi solto após sete anos de prisão sem condenação definitiva. Ele também é processado pelo seqüestro de seis bebês nascidos em cativeiro ilegal e por apologia ao crime.
No ano passado, o ex-ditador reapareceu para apoiar uma marcha da Comissão de Homenagem Permanente aos Mortos pela Subversão, formada por familiares de militares mortos por guerrilheiros e por figuras políticas da extrema direita.
Bignone publicou um artigo no site da entidade de extrema direita Argentinos pela Memória Completa em que pedia aos jovens que terminassem "o que nós [os militares] não conseguimos fazer".
O ex-ditador também deu declarações de que "o roubo de bebês [crime pelo qual ele mesmo é processado] é uma invenção". Com base no artigo e nas declarações de Bignone, foi iniciado o processo por apologia e incitação à violência.
Governando entre julho de 1982 e dezembro de 1983, Bignone fez a transição para o governo democrático do radical Raúl Alfonsín. Nesse período, ordenou a eliminação de registros e documentos sobre prisões, torturas, assassinatos de desaparecidos e o paradeiro de bebês nascidos em cativeiro.
As Avós da Praça de Maio formam uma entidade que pretende justamente encontrar e localizar os filhos de desaparecidos políticos, hoje adultos. Estela Carlotto, que preside a ONG, teve a filha morta pela repressão e até hoje busca o neto, que ficou sob o poder dos torturadores. De acordo com manifestações da Justiça argentina, o "roubo" de bebês é um crime contra a humanidade, o que o torna imprescritível.


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