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EUROPA
Para Massimo Razzi, diretor-adjunto do jornal "La Repubblica", virada de última hora de Berlusconi é improvável
Premiê perde com polarização, diz analista
DA REPORTAGEM LOCAL
Massimo Razzi, 54, é diretor-adjunto do jornal "La Repubblica" e respeitado analista político.
Ele acredita ser improvável uma
virada de última hora que dê a vitória hoje a Silvio Berlusconi.
O atual premiê tornou-se minoritário numa Itália polarizada. Até
o empresariado está dividido sobre sua reeleição, enquanto a igreja, sem temer a centro-esquerda,
manteve-se eqüidistante. Eis trechos de sua entrevista.
(JBN)
Folha - As últimas pesquisas deram de 3,5 a 5 pontos de vantagem
a Prodi. Berlusconi pode vencer?
Massimo Razzi - As chances de
recuperação são muito pequenas.
Pesquisas não publicadas feitas
nestes últimos dias indicam uma
desvantagem de 4,5 a 5 pontos.
Folha - Foi por desespero que o
premiê qualificou de "coglioni"
(imbecis) os eleitores da oposição?
Razzi - A utilização desse termo
grosseiro fez muito barulho por
aqui. Mas a Itália é um país polarizado. O eleitorado de Berlusconi
não mudará seu voto em razão
desse episódio, e o eleitorado da
oposição reforçará sua impressão
de que falta algum parafuso na cabeça do premiê. A questão verdadeira está em saber de que forma
essas loucuras são recebidas pelos
eleitores indecisos. O que percebemos é que a oposição de centro-esquerda tem uma oferta
mais diversificada de partidos. É
possível que ela lucre um pouco
com as declarações do premiê.
Folha - A polarização também
existe entre os empresários?
Razzi - Há também uma divisão,
mas diferente. Os grandes empresários, que há cinco anos apoiaram em peso Berlusconi, estão
mais hesitantes. A Confindustria
[espécie de Fiesp italiana] se distanciou do premiê e se recusou
desta vez a orientar o voto de seus
associados. Mas os pequenos industriais e comerciantes continuam a apoiar Berlusconi, na esperança de que possam pagar menos impostos. Mesmo entre eles,
no entanto, há pouco entusiasmo.
Folha - O premiê tem sido acusado de corrupção. Qual a repercussão eleitoral disso?
Razzi - Há fatos comprovados,
como a corrupção de juízes por
parte de uma de suas empresas.
Os partidários de Berlusconi acreditam que ele desconhecia a prática. Mas há ainda casos de compra
de testemunhas, de sonegação de
impostos, de expansão fraudulenta de seus negócios. Nesse quadro,
prevalece a mesma polarização.
Os que acreditam no premiê
acham que ele é vítima de uma
conspiração de juízes e promotores simpatizantes da esquerda. Os
que não acreditam nele confirmam a impressão que já tinham.
Folha - Com tudo isso, a imagem
dele melhorou ou piorou?
Razzi - Piorou em relação a 2001,
quando Berlusconi teve uma vitória significativa. Uma parte dos
italianos mudou de opinião.
Folha - Mas seus partidários o defendem incondicionalmente.
Razzi - Nesse ponto Berlusconi
representou algo de novo na política italiana. Seus partidários
crêem nele cegamente. O bloco de
oposição é objeto de lutas internas às vezes violentas. Mas o centro-direita, com raras exceções,
segue alinhado sob o premiê.
Folha - Como explicar a quase ausência, na campanha, do alinhamento de Berlusconi aos EUA e seu
apoio à invasão do Iraque?
Razzi - O assunto não foi tão importante em razão da repercussão
na Itália dos atentados de Madri,
em 2004. Berlusconi capitalizou
com o fato de a Al Qaeda não ter
atingido a Itália. Ele argumenta
que sua política protegeu o país
do terrorismo. Já Prodi prometeu
que os 2.600 militares italianos
sairão do Iraque nos primeiros
dias de seu governo.
Folha - Por que a igreja se mantém tão discreta nessa eleição?
Razzi - A igreja foi bastante ativa
quando a Democracia Cristã era
um grande partido, dos anos 50
aos 70, e fazia campanha para impedir a vitória do Partido Comunista. Hoje os párocos dividem-se
entre partidários do centro-direita e do centro-esquerda. Em termos de hierarquia, a igreja reitera
nessas eleições seu quadro de valores. Não há tomada de posição.
Folha - Não é estranho que nessas
eleições Romano Prodi não tenha
sido um personagem central?
Razzi - Verdade. O centro-esquerda não tem um líder carismático. Além disso, a oposição se
uniu com o objetivo primordial
de derrotar Berlusconi. Desta vez
até a Refundação Comunista, o
partido mais à esquerda, quer que
Prodi governe por cinco anos.
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