São Paulo, domingo, 09 de abril de 2006

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EUROPA

Para Massimo Razzi, diretor-adjunto do jornal "La Repubblica", virada de última hora de Berlusconi é improvável

Premiê perde com polarização, diz analista

DA REPORTAGEM LOCAL

Massimo Razzi, 54, é diretor-adjunto do jornal "La Repubblica" e respeitado analista político. Ele acredita ser improvável uma virada de última hora que dê a vitória hoje a Silvio Berlusconi.
O atual premiê tornou-se minoritário numa Itália polarizada. Até o empresariado está dividido sobre sua reeleição, enquanto a igreja, sem temer a centro-esquerda, manteve-se eqüidistante. Eis trechos de sua entrevista. (JBN)

Folha - As últimas pesquisas deram de 3,5 a 5 pontos de vantagem a Prodi. Berlusconi pode vencer?
Massimo Razzi -
As chances de recuperação são muito pequenas. Pesquisas não publicadas feitas nestes últimos dias indicam uma desvantagem de 4,5 a 5 pontos.

Folha - Foi por desespero que o premiê qualificou de "coglioni" (imbecis) os eleitores da oposição?
Razzi -
A utilização desse termo grosseiro fez muito barulho por aqui. Mas a Itália é um país polarizado. O eleitorado de Berlusconi não mudará seu voto em razão desse episódio, e o eleitorado da oposição reforçará sua impressão de que falta algum parafuso na cabeça do premiê. A questão verdadeira está em saber de que forma essas loucuras são recebidas pelos eleitores indecisos. O que percebemos é que a oposição de centro-esquerda tem uma oferta mais diversificada de partidos. É possível que ela lucre um pouco com as declarações do premiê.

Folha - A polarização também existe entre os empresários?
Razzi -
Há também uma divisão, mas diferente. Os grandes empresários, que há cinco anos apoiaram em peso Berlusconi, estão mais hesitantes. A Confindustria [espécie de Fiesp italiana] se distanciou do premiê e se recusou desta vez a orientar o voto de seus associados. Mas os pequenos industriais e comerciantes continuam a apoiar Berlusconi, na esperança de que possam pagar menos impostos. Mesmo entre eles, no entanto, há pouco entusiasmo.

Folha - O premiê tem sido acusado de corrupção. Qual a repercussão eleitoral disso?
Razzi -
Há fatos comprovados, como a corrupção de juízes por parte de uma de suas empresas. Os partidários de Berlusconi acreditam que ele desconhecia a prática. Mas há ainda casos de compra de testemunhas, de sonegação de impostos, de expansão fraudulenta de seus negócios. Nesse quadro, prevalece a mesma polarização. Os que acreditam no premiê acham que ele é vítima de uma conspiração de juízes e promotores simpatizantes da esquerda. Os que não acreditam nele confirmam a impressão que já tinham.

Folha - Com tudo isso, a imagem dele melhorou ou piorou?
Razzi -
Piorou em relação a 2001, quando Berlusconi teve uma vitória significativa. Uma parte dos italianos mudou de opinião.

Folha - Mas seus partidários o defendem incondicionalmente.
Razzi -
Nesse ponto Berlusconi representou algo de novo na política italiana. Seus partidários crêem nele cegamente. O bloco de oposição é objeto de lutas internas às vezes violentas. Mas o centro-direita, com raras exceções, segue alinhado sob o premiê.

Folha - Como explicar a quase ausência, na campanha, do alinhamento de Berlusconi aos EUA e seu apoio à invasão do Iraque?
Razzi -
O assunto não foi tão importante em razão da repercussão na Itália dos atentados de Madri, em 2004. Berlusconi capitalizou com o fato de a Al Qaeda não ter atingido a Itália. Ele argumenta que sua política protegeu o país do terrorismo. Já Prodi prometeu que os 2.600 militares italianos sairão do Iraque nos primeiros dias de seu governo.

Folha - Por que a igreja se mantém tão discreta nessa eleição?
Razzi -
A igreja foi bastante ativa quando a Democracia Cristã era um grande partido, dos anos 50 aos 70, e fazia campanha para impedir a vitória do Partido Comunista. Hoje os párocos dividem-se entre partidários do centro-direita e do centro-esquerda. Em termos de hierarquia, a igreja reitera nessas eleições seu quadro de valores. Não há tomada de posição.

Folha - Não é estranho que nessas eleições Romano Prodi não tenha sido um personagem central?
Razzi -
Verdade. O centro-esquerda não tem um líder carismático. Além disso, a oposição se uniu com o objetivo primordial de derrotar Berlusconi. Desta vez até a Refundação Comunista, o partido mais à esquerda, quer que Prodi governe por cinco anos.


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