São Paulo, quinta-feira, 09 de abril de 2009

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Prédios históricos cairão, diz Berlusconi

Premiê italiano promete reconstruir edifícios da região devastada por terremoto, sede de patrimônio artístico importante

País enterra mortos do tremor de segunda-feira; 17 mil desabrigados esperam para saber se e quando voltarão para suas casas


MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ÁQUILA (ITÁLIA)

Três dias depois do terremoto que devastou a região central do país, a Itália começou ontem a enterrar os seus mortos, que chegaram a 272, enquanto tinha uma ideia mais clara dos danos irreversíveis ao rico patrimônio histórico local.
Em visita a Áquila, uma das cidades mais atingidas pelo tremor e que guarda dezenas de construções de inestimável valor artístico e histórico, o premiê italiano, Silvio Berlusconi, admitiu que muitas delas estão condenadas e terão que cair para ser reerguidas.
"Áquila é uma cidade não só ferida, mas em condições dramáticas, com edifícios de grande valor histórico destruídos", disse Berlusconi. "Eles terão que ser derrubados e reconstruídos pelo projeto original."
Mais de 10 mil construções foram danificadas ou destruídas na região, segundo estimativas iniciais. Segundo Agostino Miozzo, da defesa civil, a reconstrução pode levar anos.
Berlusconi, que recusou ajuda humanitária internacional, disse que outros países poderão contribuir na restauração do patrimônio histórico. A ideia foi mencionada na conversa que o premiê teve na terça-feira com o presidente americano, Barack Obama.
Nos últimos dias, equipes dos bombeiros e da defesa civil tentaram reforçar as estruturas de prédios históricos para evitar que desabassem. Em muitos casos, porém, os tremores secundários tornaram a tarefa impossível -como na igreja Santa Maria do Sufrágio, do século 18, cujo domo desmoronou em etapas, expondo detalhes que antes só se podia enxergar de seu interior.
"O nível de destruição chegou a um ponto em que é melhor remover partes inteiras da igreja para tentar reaproveitá-las", disse à Folha o engenheiro Ennio Schilachi, da defesa civil, pouco depois de inspecionar o domo de perto pendurado por um guindaste.

Susto
Não é preciso mais do que uma breve caminhada pelo centro histórico de Áquila para perceber que pouquíssimos prédios escaparam ilesos.
"Achei que o terremoto havia afetado somente as casas velhas quando olhei do helicóptero, mas agora estou vendo que não há nenhuma casa inteira", disse Berlusconi, que levou um susto pouco antes de uma entrevista, quando um novo tremor sacudiu Áquila. Foi uma das muitas réplicas ocorridas desde o terremoto de segunda.
Após ser criticado por ter dito aos desabrigados que a experiência deveria ser vista como "um camping de fim de semana", Berlusconi ontem anunciou que uma nova cidade será erguida ao lado de Áquila. De acordo com cálculos preliminares do governo, os prejuízos chegam a US$1,6 bilhão.
Para as cerca de 17 mil pessoas abrigadas nos 31 acampamentos montados pela defesa civil, além da perda de parentes e amigos há a angústia para saber quando poderão voltar a suas casas -se isso for possível.
"Saí só com a roupa do corpo na noite do terremoto, e ninguém me diz até quando ficaremos aqui", queixou-se o mecânico aposentado Massimo, sentado numa das oito camas de solteiro na barraca que habita há três dias em um estádio.


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