São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

entrevista

"Distúrbios não devem afetar base dos EUA"

DA REDAÇÃO

A oposição que tomou o poder no Quirguistão é pragmática e provavelmente tentará manter boas relações com EUA e Rússia, opina Scott Radnitz, especialista em Ásia central da Universidade de Washington (Seattle). Por isso, diz ele, as operações dos EUA na base aérea de Manas, que abastece suas tropas no Afeganistão, não devem ser afetadas pela crise política. A divisão de poder no país, porém, ainda é incerta. (PAULA ADAMO IDOETA)

 

FOLHA - O que provocou os distúrbios no Quirguistão?
SCOTT RADNITZ
- Desde que assumiu o poder, após a Revolução das Tulipas [movimento democrático que depôs o governo quirguiz em 2005], o presidente [Kurmanbek] Bakiev tem sido acusado de nepotismo e corrupção, e a oposição se mobilizou. As condições sociais do Quirguistão tampouco melhoraram. [O estopim] foi quando o governo elevou os preços de gás e eletricidade, o que gerou descontentamento maciço e protestos.

FOLHA - O sr. diz que a religião não tem um papel crucial na política quirguiz. Então é um caso diferente de outras ex-repúblicas soviéticas, como Daguestão e Tchetchênia?
RADNITZ
- É um caso muito diferente. É improvável [que o ocorrido se espalhe pela região]. E a revolta quirguiz não é uma questão ideológica -não há muitas diferenças entre as lideranças políticas nesse quesito. A questão é que as pessoas querem ter a sensação de estarem sendo governadas com justiça.

FOLHA - Como a crise afeta a operação dos EUA em Manas?
RADNITZ
- Não acho que [a coalizão que assumiu o poder] vai fechar a base. A oposição criticava os EUA por apoiar Bakiev -mas isso não era tanto uma oposição à presença americana, e sim ao fato de os EUA ignorarem as transgressões do presidente. A oposição não é ideológica, não sente a necessidade de se alinhar fortemente a um país ou outro. É pragmática. Para um país pequeno como o Quirguistão, é importante não ficar tão dependente de uma única superpotência. Interessa a ele manter boas relações com EUA e Rússia.

FOLHA - O que esperar do governo interino?
RADNITZ
- Não se sabe. [A ex-chanceler] Roza Otunbaieva se autoproclamou em controle, mas ela não tem uma base popular tão grande, e não se sabe ao certo quem está governando ou como [sua coalizão] dividirá o poder.


Texto Anterior: Interina foi chanceler e fez carreira na URSS
Próximo Texto: Foco: "Império dos Anões" se destaca no turismo chinês
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.