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entrevista
"Distúrbios não devem afetar base dos EUA"
DA REDAÇÃO
A oposição que tomou o
poder no Quirguistão é pragmática e provavelmente tentará manter boas relações
com EUA e Rússia, opina
Scott Radnitz, especialista
em Ásia central da Universidade de Washington (Seattle). Por isso, diz ele, as operações dos EUA na base aérea de Manas, que abastece
suas tropas no Afeganistão,
não devem ser afetadas pela
crise política. A divisão de
poder no país, porém, ainda é
incerta.
(PAULA ADAMO IDOETA)
FOLHA - O que provocou os distúrbios no Quirguistão?
SCOTT RADNITZ- Desde que assumiu o poder, após a Revolução das Tulipas [movimento democrático que depôs o
governo quirguiz em 2005],
o presidente [Kurmanbek]
Bakiev tem sido acusado de
nepotismo e corrupção, e a
oposição se mobilizou. As
condições sociais do Quirguistão tampouco melhoraram. [O estopim] foi quando
o governo elevou os preços
de gás e eletricidade, o que
gerou descontentamento
maciço e protestos.
FOLHA - O sr. diz que a religião
não tem um papel crucial na política quirguiz. Então é um caso diferente de outras ex-repúblicas
soviéticas, como Daguestão e
Tchetchênia?
RADNITZ- É um caso muito
diferente. É improvável [que
o ocorrido se espalhe pela região]. E a revolta quirguiz
não é uma questão ideológica
-não há muitas diferenças
entre as lideranças políticas
nesse quesito. A questão é
que as pessoas querem ter a
sensação de estarem sendo
governadas com justiça.
FOLHA - Como a crise afeta a
operação dos EUA em Manas?
RADNITZ- Não acho que [a
coalizão que assumiu o poder] vai fechar a base. A oposição criticava os EUA por
apoiar Bakiev -mas isso não
era tanto uma oposição à
presença americana, e sim ao
fato de os EUA ignorarem as
transgressões do presidente.
A oposição não é ideológica,
não sente a necessidade de se
alinhar fortemente a um país
ou outro. É pragmática. Para
um país pequeno como o
Quirguistão, é importante
não ficar tão dependente de
uma única superpotência.
Interessa a ele manter boas
relações com EUA e Rússia.
FOLHA - O que esperar do governo interino?
RADNITZ- Não se sabe. [A ex-chanceler] Roza Otunbaieva
se autoproclamou em controle, mas ela não tem uma
base popular tão grande, e
não se sabe ao certo quem está governando ou como [sua
coalizão] dividirá o poder.
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