São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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COMENTÁRIO

Partido pressiona Sharon

MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO

O premiê israelense, Ariel Sharon, sofre pressões partidárias para efetuar guinada política na direção da direita nacionalista. O comitê central de seu partido, o Likud, terá um importante encontro no domingo, no qual é esperada a adoção de uma resolução condenando em fortes termos a criação de qualquer tipo de Estado palestino no futuro próximo.
Nas décadas anteriores aos acordos de paz de Oslo (1993), Sharon se negava a reconhecer a existência do povo palestino e sugeria que ele já tinha um Estado, a vizinha Jordânia. O processo de paz israelo-palestino e a criação de um embrião de Estado sob controle de Iasser Arafat em áreas da faixa de Gaza e da Cisjordânia pareciam ter enterrado os sonhos da "Grande Israel" da direita nacionalista.
As idéias tradicionais likudistas postuladas por Sharon caíram em desuso -em diversas ocasiões nos últimos anos, o atual premiê deu o braço a torcer e admitiu aceitar um Estado palestino como parte da solução para o conflito.
As circunstâncias levam-no agora a reconsiderar sua posição a esse respeito. Os intermináveis ataques suicidas e a percepção da ausência de uma autoridade capaz de controlar o caos nos territórios palestinos têm levado o eleitorado israelense a adotar argumentos de políticos situados à direita de Sharon, como o ex-premiê Binyamin "Bibi" Netanyahu.
Ele já ameaça Sharon em popularidade nas pesquisas de opinião e tem ganhado força sobretudo dentro do Likud. Seus planos são conquistar a liderança partidária para encabeçar a chapa de candidatos nas eleições de 2003, o que lhe garantiria o posto de premiê em caso de vitória eleitoral.
Ou, no caso de o Partido Trabalhista (centro-esquerda), do chanceler Shimon Peres, se retirar do governo e levar ao colapso da atual coalizão de "união nacional", Netanyahu poderia costurar um novo bloco mais à direita.
É em meio a essa tormenta política que Sharon precisa manobrar. Propostas de negociação diplomática com os palestinos em moldes próximos aos sugeridos pelos trabalhistas arruinariam o apoio a Sharon na base partidária.
Por outro lado, a continuação de uma atuação apenas militarista -com a possível extensão da ofensiva na Cisjordânia à faixa de Gaza- e da intransigência em relação a concessões aos palestinos (a plataforma eleitoral de Netanyahu) levaria provavelmente ao fim do período de "união nacional" com os trabalhistas.
Sharon tende a buscar um meio termo que prolongue a sua sobrevivência no cargo. Deve apresentar como retórica algum tipo de plano diplomático, prometendo "concessões dolorosas", para agradar a esquerda da coalizão (e aos EUA), enquanto conduz na prática os planos do Likud e de partidos mais à direita sustentados pelos votos dos colonos judeus dos territórios palestinos.
Entretanto, no momento em que se ver obrigado a tomar um rumo político claro, o premiê deve optar por suas raízes na direita nacionalista e tentar mostrar ao eleitorado radicalizado pela Intifada que tem pulso mais forte que Netanyahu para trazer "paz e segurança" à população.
O primeiro forte indício de que tomaria esse caminho foi dado em reunião do gabinete há cerca de duas semanas, quando decretou que não aceitará discussão sobre o desmantelamento de assentamentos judaicos até a eleição de 2003. Sharon declarou que, ao seu ver, não há diferença entre Netzarim (assentamento isolado na faixa de Gaza) e Tel Aviv.
As colônias, erguidas em áreas tomadas na guerra de 1967 e sobre as quais resoluções da ONU exigem que Israel se retire, são um dos principais motivos de revolta entre a população palestina. Ao se opor em princípio a debater a retirada dos colonos, Sharon impossibilita qualquer tipo de negociação diplomática séria, agradando ao eleitorado de Netanyahu e a cúpula do Likud que votará contra a criação de um novo Estado no Oriente Médio.



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