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COMENTÁRIO
Partido pressiona Sharon
MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO
O premiê israelense, Ariel Sharon, sofre pressões partidárias para efetuar guinada política na direção da direita nacionalista. O
comitê central de seu partido, o
Likud, terá um importante encontro no domingo, no qual é esperada a adoção de uma resolução condenando em fortes termos
a criação de qualquer tipo de Estado palestino no futuro próximo.
Nas décadas anteriores aos
acordos de paz de Oslo (1993),
Sharon se negava a reconhecer a
existência do povo palestino e sugeria que ele já tinha um Estado, a
vizinha Jordânia. O processo de
paz israelo-palestino e a criação
de um embrião de Estado sob
controle de Iasser Arafat em áreas
da faixa de Gaza e da Cisjordânia
pareciam ter enterrado os sonhos
da "Grande Israel" da direita nacionalista.
As idéias tradicionais likudistas
postuladas por Sharon caíram em
desuso -em diversas ocasiões
nos últimos anos, o atual premiê
deu o braço a torcer e admitiu
aceitar um Estado palestino como
parte da solução para o conflito.
As circunstâncias levam-no
agora a reconsiderar sua posição a
esse respeito. Os intermináveis
ataques suicidas e a percepção da
ausência de uma autoridade capaz de controlar o caos nos territórios palestinos têm levado o
eleitorado israelense a adotar argumentos de políticos situados à
direita de Sharon, como o ex-premiê Binyamin "Bibi" Netanyahu.
Ele já ameaça Sharon em popularidade nas pesquisas de opinião
e tem ganhado força sobretudo
dentro do Likud. Seus planos são
conquistar a liderança partidária
para encabeçar a chapa de candidatos nas eleições de 2003, o que
lhe garantiria o posto de premiê
em caso de vitória eleitoral.
Ou, no caso de o Partido Trabalhista (centro-esquerda), do
chanceler Shimon Peres, se retirar
do governo e levar ao colapso da
atual coalizão de "união nacional", Netanyahu poderia costurar
um novo bloco mais à direita.
É em meio a essa tormenta política que Sharon precisa manobrar. Propostas de negociação diplomática com os palestinos em
moldes próximos aos sugeridos
pelos trabalhistas arruinariam o
apoio a Sharon na base partidária.
Por outro lado, a continuação
de uma atuação apenas militarista
-com a possível extensão da
ofensiva na Cisjordânia à faixa de
Gaza- e da intransigência em relação a concessões aos palestinos
(a plataforma eleitoral de Netanyahu) levaria provavelmente ao
fim do período de "união nacional" com os trabalhistas.
Sharon tende a buscar um meio
termo que prolongue a sua sobrevivência no cargo. Deve apresentar como retórica algum tipo de
plano diplomático, prometendo
"concessões dolorosas", para
agradar a esquerda da coalizão (e
aos EUA), enquanto conduz na
prática os planos do Likud e de
partidos mais à direita sustentados pelos votos dos colonos judeus dos territórios palestinos.
Entretanto, no momento em
que se ver obrigado a tomar um
rumo político claro, o premiê deve optar por suas raízes na direita
nacionalista e tentar mostrar ao
eleitorado radicalizado pela Intifada que tem pulso mais forte que
Netanyahu para trazer "paz e segurança" à população.
O primeiro forte indício de que
tomaria esse caminho foi dado
em reunião do gabinete há cerca
de duas semanas, quando decretou que não aceitará discussão sobre o desmantelamento de assentamentos judaicos até a eleição de
2003. Sharon declarou que, ao seu
ver, não há diferença entre Netzarim (assentamento isolado na faixa de Gaza) e Tel Aviv.
As colônias, erguidas em áreas
tomadas na guerra de 1967 e sobre
as quais resoluções da ONU exigem que Israel se retire, são um
dos principais motivos de revolta
entre a população palestina. Ao se
opor em princípio a debater a retirada dos colonos, Sharon impossibilita qualquer tipo de negociação diplomática séria, agradando ao eleitorado de Netanyahu e a cúpula do Likud que votará
contra a criação de um novo Estado no Oriente Médio.
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