São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dossiê revela fraqueza de Arafat

ROBERT FISK
DO "THE INDEPENDENT" EM RAMALLAH

O chamado "Livro do Terror" de Israel, criado para provar que Iasser Arafat está envolvido em ataques suicidas e apresentado ao presidente George W. Bush pelo premiê Ariel Sharon, está repleto de erros e omissões deliberadas.
Em alguns casos, traduções de documentos palestinos supostamente apreendidos pelas tropas israelenses na Cisjordânia foram maquiadas para "provar" a responsabilidade de Arafat em ataques contra Israel.
A intenção de Sharon é mostrar com o dossiê que o líder palestino é um mestre do terror, um chefe guerreiro do mal patrocinado por Irã e Arábia Saudita. Na verdade, eles são um retrato da impotência de Arafat. Pintam um quadro vívido da sua perda de poder na comunidade palestina nos últimos 12 meses, da corrupção entre seus subordinados e do recrutamento de seus homens pelo Hamas e pelo Jihad Islâmico.
Uma leitura dos textos em árabe sugere que Israel combate homens que há muito escaparam do controle de Arafat, possuem mais recursos financeiros que a Autoridade Nacional Palestina (ANP) e cujas ações podem apenas ocasionalmente ser evitadas pelos agentes ainda leais a Arafat.
Um caso típico é o de Mahmoud Freih, 17, estudante de Tulkarem. Relatório do Escritório de Segurança Preventiva de Arafat informou que Freih era originalmente da Frente Democrática (grupo marxista pró-Arafat), mas havia entrado para o Jihad.
Os homens de Arafat planejavam interrogá-lo sobre a sua deserção. Na época, ele planejava colocar uma mina terrestre improvisada em estrada usada por tanques israelenses perto de Shweikeh. O ataque foi cancelado devido à presença de soldados.
Ele, então, colocou uma bomba e conectou um de seus fios a uma árvore nas proximidades. Quando voltou ao local, percebeu que o pavio havia sido cortado. Um especialista em explosivos da ANP e outro agente o esperavam. Ele confessou sua atividades e foi depois libertado sob a condição de passar a atuar em favor da ANP.
A história de como um jovem de idade escolar entrou para o Jihad Islâmico e tentava destruir tanques israelenses após as aulas revela uma face da militância dos jovens palestinos. Mas o relato apresentado por Israel afirma apenas que ele colocou explosivos na estrada usada pelos tanques, foi preso pela ANP e solto após concordar em se juntar ao time de Arafat. Exclui todas as referências ao papel da ANP evitando o atentado contra os israelenses. A íntegra do texto mostra que os homens de Arafat fizeram exatamente aquilo que Israel deseja: impediram um ataque e convenceram o garoto a mudar de lado.
A última coisa que os documentos originais apresentados provam é que Arafat está por trás da onda de atentados suicidas em Israel. Mas Sharon quer remover Arafat do poder. Assim, um dos homens mais impotentes da Palestina teve de ser apresentado como um dos mais poderosos terroristas do mundo.



Texto Anterior: Comentário: Partido pressiona Sharon
Próximo Texto: Guerra sem limites: Al Qaeda é suspeita de atentado no Paquistão
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.