São Paulo, sábado, 09 de junho de 2001

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REINO UNIDO

Premiê coloca Jack Straw no lugar de Robin Cook, em possível sinal de mudança de posição sobre adesão ao euro

Blair surpreende ao mudar o ministro do Exterior

LEONARDO CRUZ
DE LONDRES

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, 48, iniciou ontem seu segundo mandato com alterações no alto escalão de seu governo e ao menos uma surpresa: a troca dos titulares nos ministérios do Interior e do Exterior.
Robin Cook, ministro do Exterior no primeiro governo, perdeu seu cargo para Jack Straw, o ex-ministro do Interior que atuou no caso da detenção em Londres e posterior liberação do ex-ditador chileno Augusto Pinochet. A troca pode representar uma mudança no posicionamento de Blair em relação à adesão ao euro -Cook é um dos trabalhistas mais simpáticos à proposta da moeda única européia, enquanto Straw prefere a manutenção da libra.
A permanência de Cook na pasta do Exterior era dada como certa por analistas políticos já que, em campanha, Blair deixara claro sua posição a favor do euro e da realização de um plebiscito até 2003 para debater o tema.
"Ao colocar um "eurocético" na pasta que cuidará das relações com a União Européia, Blair parece querer mostrar ao país que a questão do euro ainda precisa ser debatida", disse à Folha Alan Beattie, coordenador do departamento de governo da London School of Economics.
O anúncio dessa alteração ocorreu no final de um dia em que a libra esterlina voltou a cair em relação ao dólar e fechou cotada a US$ 1,379, o valor mais baixo em 16 anos.
Segundo executivos da City, o centro financeiro londrino, o mercado teme que o segundo governo Blair comece a promover em breve uma campanha para que o Reino Unido adote o euro. Como as mudanças no gabinete foram anunciadas só na noite de ontem, ainda não se sabe o impacto que terão sobre o mercado.
Ainda ontem, a moeda britânica também foi abalada pela renúncia de William Hague do comando do Partido Conservador. Em campanha, Hague apoiou a manutenção da libra -acredita-se que, com sua saída, os conservadores possam ficar mais favoráveis ao euro.
Para o lugar de Jack Straw no Ministério do Interior, Blair deslocou David Blankett, responsável pela pasta da Educação na primeira gestão. O ministro das Finanças, Gordon Brown, considerado responsável pelo fortalecimento da economia britânica nos últimos quatro anos, foi mantido.
Outra alteração importante foi a extinção do Ministério da Agricultura, extremamente criticado por sua condução da crise de febre aftosa que afetou o país no primeiro semestre deste ano. A pasta será substituída pelo Departamento para Questões Agrárias e Ambientais.
Pela manhã, o premiê britânico voltou a afirmar, em seu primeiro discurso oficial da segunda gestão, que o novo mandato "exigirá muito mais reformas e investimentos do que o anterior". "Está claro o sinal do eleitorado de que temos de entregar o que estamos prometendo, principalmente na área social", declarou Blair.
A apuração dos votos da eleição parlamentar britânica foi encerrada na noite de ontem. No total, os trabalhistas receberam 40,8% dos votos e conquistaram 413 cadeiras no Parlamento -cinco a menos do que em 1997. Os conservadores ficaram com 31,8%, mas venceram em apenas 166 distritos -um a mais do que em 97.
Os liberal-democratas confirmaram as projeções de crescimento: tiveram 18,3% dos votos e elegeram 52 parlamentares -haviam sido 46 em 1997.


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