São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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AMÉRICA LATINA

Taxa dobra na década de 90; para especialistas, desestruturação familiar devido à crise no país explica alta

Suicídio de jovens argentinos dispara


JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O número de suicídios entre jovens na Argentina praticamente dobrou na década de 90, período em que o país começou a sofrer sua atual derrocada econômica.
De acordo com o Ministério da Saúde do país, a taxa de suicídios, que era de 4,7 para cada 100 mil habitantes na faixa entre 10 a 19 anos em 1990, cresceu para 8,3 por 100 mil em 2000. Hoje, o país registra cinco suicídios semanais.
Para especialistas, o crescimento representa um dos lados mais sombrios da crise. A Argentina, que chegou a ser considerada pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) um exemplo a ser seguido pelos países em desenvolvimento, transformou-se na "ovelha negra" mundial, segundo o próprio presidente Eduardo Duhalde.
O coordenador do Centro de Assistência ao Suicida, Carlos Boronat, disse à Folha que essa crise desencadeou um processo de destruição de valores, como a família.
Para ele, os chefes de família encontram-se ou bastante preocupados em manter seu emprego ou desempregados. O nível de tensão acaba por reduzir a comunicação entre pais e filhos, o que, em casos de adolescentes que já possuem tendência de autodegradação, acaba sendo fatal.
Boronat explicou que o processo acontece em etapas. Primeiro, o jovem entra em depressão frente aos problemas que não consegue solucionar. Depois, com a falta de perspectivas futuras, o adolescente pode responder inadequadamente aos problemas.
"Os jovens ainda estão em formação, não têm elementos suficientes para tomar decisões e precisam estar acompanhados por adultos em certas situações. Quando os adultos faltam, cresce a possibilidade do suicídio."
Para Carlos Martínez, presidente da Associação de Prevenção ao Suicídio, o aumento dos casos também pode ser explicado pela destruição de outros valores existentes nos jovens, além da família.
"No começo da década, a cultura da corrupção afetou o sistema de valores sociais, tirou o sentido das instituições tradicionais. Mas, agora, os sintomas são mais graves, porque não restam nem as lembranças daqueles valores."
Para ele, as pessoas ficam mais vulneráveis nesse contexto a algum tipo de resposta autodestrutiva. "Se até agora havia ideais, ainda que sejam econômicos, e isso desaparece, ao que as pessoas podem se apegar?"
Outro destino cada vez mais frequentes entre jovens é a emigração. Segundo pesquisas recentes, 140 mil argentinos abandonaram o país desde 2000. Hoje, 22% da população estuda procurar uma vida melhor em outro país.


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