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Analista se diz pessimista e defende cautela
DA REDAÇÃO
A integração na África deveria ser mais lenta e privilegiar a promoção da democracia, disse à Folha, por telefone, Robert Rotberg, professor de política africana na Universidade Harvard e presidente da Fundação Mundial para a Paz.
(PDF)
Folha - O que muda com a
União Africana, além do nome da organização? E quais
seus principais desafios?
Robert Rotberg - Desenvolver uma organização que
funcione já que sua predecessora não tinha a mínima
capacidade de resolver os
problemas africanos. Estava
sempre quebrada porque a
maioria dos países recusava
pagar a sua parte. De fato, a
Organização da Unidade
Africana era um tigre desdentado. A nova União Africana tem uma grande diferença: o presidente sul-africano, Thabo Mbeki [líder da
organização", disse que ela
poderá intervir em outros
países para prevenir conflitos. Mas isso ainda é teoria.
Folha - As forças de manutenção da paz vão atuar?
Rotberg - Espero que sim,
seria extremamente positivo, mas até agora não houve
vontade política para permitir que os militares de diferentes nações trabalhassem
em conjunto. As forças de
paz ajudariam a encerrar e a
evitar conflitos na África.
Folha - O que o sr. acha da
estrutura da UA, com a proposta de um Banco Central e
de um Parlamento único?
Rotberg - A teoria é boa,
mas depende do que vai
ocorrer na prática. Esperamos que não seja apenas
uma mudança de nome.
Folha - Eleições legítimas
não são um parâmetro para
um país participar da organização, haja visto a participação de países como Líbia e
Zimbábue e a falta de debates
sobre as políticas do zimbabuano Robert Mugabe. Haverá promoção da democracia?
Rotberg - Essa é a pergunta-chave. Sem isso, nada de
muito positivo pode acontecer. Como Zimbábue não faz
parte da pauta de discussões
e Muammar Gaddafi é um
dos líderes mais importantes
na organização, sendo dele
originalmente a idéia, eu estou cético e pessimista.
Folha - Qual sua opinião sobre o Nepad (sigla em inglês
para Nova Parceria para o Desenvolvimento da África)?
Rotberg - É uma boa idéia,
mas antes é preciso colocar a
economia em ordem. A África precisa ser menos corrupta e mais bem governada.
Folha - Quais as principais
semelhanças e diferenças entre a União Africana e a União
Européia?
Rotberg - A África tem 53
países. A União Européia começou pequena e foi crescendo. A questão de ceder
soberania é mais complicada que na Europa, onde o
processo foi lento e cauteloso. Na África, a idéia é integrar tudo de uma vez, sem a paciência, sem os recursos e sem as lideranças da Europa.
Folha - A integração deveria ser regional?
Rotberg - Sim, lugares como o sul ou o oeste da África
poderiam desenvolver seu próprio Banco Central e sua própria unificação monetária. Seria muito mais recomendável.
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