São Paulo, terça-feira, 09 de julho de 2002

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Analista se diz pessimista e defende cautela

DA REDAÇÃO

A integração na África deveria ser mais lenta e privilegiar a promoção da democracia, disse à Folha, por telefone, Robert Rotberg, professor de política africana na Universidade Harvard e presidente da Fundação Mundial para a Paz. (PDF)

Folha - O que muda com a União Africana, além do nome da organização? E quais seus principais desafios?
Robert Rotberg -
Desenvolver uma organização que funcione já que sua predecessora não tinha a mínima capacidade de resolver os problemas africanos. Estava sempre quebrada porque a maioria dos países recusava pagar a sua parte. De fato, a Organização da Unidade Africana era um tigre desdentado. A nova União Africana tem uma grande diferença: o presidente sul-africano, Thabo Mbeki [líder da organização", disse que ela poderá intervir em outros países para prevenir conflitos. Mas isso ainda é teoria.

Folha - As forças de manutenção da paz vão atuar?
Rotberg -
Espero que sim, seria extremamente positivo, mas até agora não houve vontade política para permitir que os militares de diferentes nações trabalhassem em conjunto. As forças de paz ajudariam a encerrar e a evitar conflitos na África.

Folha - O que o sr. acha da estrutura da UA, com a proposta de um Banco Central e de um Parlamento único?
Rotberg -
A teoria é boa, mas depende do que vai ocorrer na prática. Esperamos que não seja apenas uma mudança de nome.

Folha - Eleições legítimas não são um parâmetro para um país participar da organização, haja visto a participação de países como Líbia e Zimbábue e a falta de debates sobre as políticas do zimbabuano Robert Mugabe. Haverá promoção da democracia?
Rotberg -
Essa é a pergunta-chave. Sem isso, nada de muito positivo pode acontecer. Como Zimbábue não faz parte da pauta de discussões e Muammar Gaddafi é um dos líderes mais importantes na organização, sendo dele originalmente a idéia, eu estou cético e pessimista.

Folha - Qual sua opinião sobre o Nepad (sigla em inglês para Nova Parceria para o Desenvolvimento da África)?
Rotberg -
É uma boa idéia, mas antes é preciso colocar a economia em ordem. A África precisa ser menos corrupta e mais bem governada.

Folha - Quais as principais semelhanças e diferenças entre a União Africana e a União Européia?
Rotberg -
A África tem 53 países. A União Européia começou pequena e foi crescendo. A questão de ceder soberania é mais complicada que na Europa, onde o processo foi lento e cauteloso. Na África, a idéia é integrar tudo de uma vez, sem a paciência, sem os recursos e sem as lideranças da Europa.

Folha - A integração deveria ser regional?
Rotberg -
Sim, lugares como o sul ou o oeste da África poderiam desenvolver seu próprio Banco Central e sua própria unificação monetária. Seria muito mais recomendável.



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