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Iraque recupera relíquias saqueadas
Objetos levados durante invasão dos EUA, em 2003, retornam, mas ainda há mais de 600 obras desaparecidas
País tem 12 mil sítios
arqueológicos, que vêm
sofrendo dilapidações e
saques desde o governo
de Saddam Hussein
STEVEN LEE MYERS
DO "NEW YORK TIMES", EM BAGDÁ O Iraque anunciou anteontem o retorno de centenas de antiguidades saqueadas que foram parar nos
EUA, enquanto um funcionário de seu governo revelava
que 632 peças repatriadas em
2009 e entregues ao gabinete
do premiê Nuri al Maliki têm
paradeiro desconhecido.
As devoluções refletem
não só uma história que remonta às antigas civilizações, como um histórico recente de guerra, saques e
contrabando, iniciado sob
Saddam Hussein, acelerado
durante a ocupação pelos
EUA e ainda perceptível.
Os itens devolvidos incluem uma estátua do rei Entemena de Lagash, de 4.400
anos, roubada do Museu Nacional de Bagdá depois da invasão americana, em 2003, e
362 tijolos de argila com escrita cuneiforme apreendidos pelos EUA em 2001 e que
eram armazenados no World
Trade Center.
Há também um fuzil AK-47
cromado, com coronha de
madrepérola e gravura com a
imagem de Saddam, capturado por um soldado americano e exposto em Fort Lewis, Washington.
Embora autoridades celebrem a repatriação, o destino
de peças devolvidas anteriormente gerou dúvidas sobre a
capacidade do país de preservar e proteger tesouros.
Em cerimônia na qual os
artefatos foram expostos no
Ministério do Exterior, Samir
Sumaidaie, embaixador iraquiano nos EUA, disse que
antiguidades foram enviadas
ao Iraque em 2009, em avião
militar e sob autorização do
general David Petraeus, mas
que as peças desapareceram.
Ele não acusou o governo
de Maliki, mas expressou
frustração pelo fato de seus
esforços para repatriar antiguidades terem resultado em
confusão e mistério.
Qahtan al Jibouri, ministro
do Turismo e Antiguidades,
disse que, se as relíquias não
estão sob a custódia do premiê, provavelmente foram
entregues ao Ministério da
Cultura, que supervisiona os
museus. O porta-voz do ministério não quis comentar.
Amira Edan, diretora do
Museu Nacional iraquiano,
disse que nenhuma peça foi
restituída ao seu acervo.
INCERTEZA
Talvez por essa incerteza,
Jibouri e o ministro do Exterior, Hoshyar Zebari, assinaram em público documentos
que transferem ao museu a
custódia do lote chegado a
Bagdá nessa semana.
"Os artefatos são o que nos
incentiva a construir nosso
presente e futuro, para que
mereçamos essa grande herança", disse Zebari.
Os EUA devolveram 1.046
antiguidades ao Iraque desde a invasão de 2003.
Muitos dos itens já haviam
sido levados para fora do
país antes da invasão. Eles
foram rastreados e apreendidos pelo FBI e por outras
agências policiais americanas, muitas vezes após denúncias feitas por funcionários da embaixada iraquiana.
Poucos itens devolvidos
terça-feira eram do Museu
Nacional. Muitos o Iraque
nunca soube ter perdido.
O Iraque tem 12 mil sítios
arqueológicos em locais que
já abrigaram cidades sumérias, acádias, babilônias e
persas e depois islâmicas.
Muitos continuam desprotegidos e sofrem saques há
anos, especialmente em
2006 e 2007, o período mais
sangrento da guerra.
Uma força policial especial foi criada em 2008 para
defendê-los mas ainda não
está operando, devido à burocracia e à falta de apoio.
Funcionários dizem ter devolvido ao governo mais de
30 mil obras de arte e antiguidades desde 2003. O Museu
Nacional tem espaço para
uma fração desse total.
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