São Paulo, quinta-feira, 09 de setembro de 2010

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Iraque recupera relíquias saqueadas

Objetos levados durante invasão dos EUA, em 2003, retornam, mas ainda há mais de 600 obras desaparecidas

País tem 12 mil sítios arqueológicos, que vêm sofrendo dilapidações e saques desde o governo de Saddam Hussein

STEVEN LEE MYERS
DO "NEW YORK TIMES", EM BAGDÁ

O Iraque anunciou anteontem o retorno de centenas de antiguidades saqueadas que foram parar nos EUA, enquanto um funcionário de seu governo revelava que 632 peças repatriadas em 2009 e entregues ao gabinete do premiê Nuri al Maliki têm paradeiro desconhecido.
As devoluções refletem não só uma história que remonta às antigas civilizações, como um histórico recente de guerra, saques e contrabando, iniciado sob Saddam Hussein, acelerado durante a ocupação pelos EUA e ainda perceptível.
Os itens devolvidos incluem uma estátua do rei Entemena de Lagash, de 4.400 anos, roubada do Museu Nacional de Bagdá depois da invasão americana, em 2003, e 362 tijolos de argila com escrita cuneiforme apreendidos pelos EUA em 2001 e que eram armazenados no World Trade Center.
Há também um fuzil AK-47 cromado, com coronha de madrepérola e gravura com a imagem de Saddam, capturado por um soldado americano e exposto em Fort Lewis, Washington.
Embora autoridades celebrem a repatriação, o destino de peças devolvidas anteriormente gerou dúvidas sobre a capacidade do país de preservar e proteger tesouros.
Em cerimônia na qual os artefatos foram expostos no Ministério do Exterior, Samir Sumaidaie, embaixador iraquiano nos EUA, disse que antiguidades foram enviadas ao Iraque em 2009, em avião militar e sob autorização do general David Petraeus, mas que as peças desapareceram.
Ele não acusou o governo de Maliki, mas expressou frustração pelo fato de seus esforços para repatriar antiguidades terem resultado em confusão e mistério.
Qahtan al Jibouri, ministro do Turismo e Antiguidades, disse que, se as relíquias não estão sob a custódia do premiê, provavelmente foram entregues ao Ministério da Cultura, que supervisiona os museus. O porta-voz do ministério não quis comentar.
Amira Edan, diretora do Museu Nacional iraquiano, disse que nenhuma peça foi restituída ao seu acervo.

INCERTEZA
Talvez por essa incerteza, Jibouri e o ministro do Exterior, Hoshyar Zebari, assinaram em público documentos que transferem ao museu a custódia do lote chegado a Bagdá nessa semana.
"Os artefatos são o que nos incentiva a construir nosso presente e futuro, para que mereçamos essa grande herança", disse Zebari.
Os EUA devolveram 1.046 antiguidades ao Iraque desde a invasão de 2003.
Muitos dos itens já haviam sido levados para fora do país antes da invasão. Eles foram rastreados e apreendidos pelo FBI e por outras agências policiais americanas, muitas vezes após denúncias feitas por funcionários da embaixada iraquiana.
Poucos itens devolvidos terça-feira eram do Museu Nacional. Muitos o Iraque nunca soube ter perdido.
O Iraque tem 12 mil sítios arqueológicos em locais que já abrigaram cidades sumérias, acádias, babilônias e persas e depois islâmicas.
Muitos continuam desprotegidos e sofrem saques há anos, especialmente em 2006 e 2007, o período mais sangrento da guerra.
Uma força policial especial foi criada em 2008 para defendê-los mas ainda não está operando, devido à burocracia e à falta de apoio.
Funcionários dizem ter devolvido ao governo mais de 30 mil obras de arte e antiguidades desde 2003. O Museu Nacional tem espaço para uma fração desse total.


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