São Paulo, segunda-feira, 09 de outubro de 2006

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Guerra no Iraque consome US$ 2 bilhões por semana

Levantamento é do Congresso dos EUA; boa parte acaba perdida em corrupção

Uma única firma americana tem 13 obras sob suspeita; gastos militares desde os atentados terroristas de 11 de setembro são de US$ 1 tri

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

A Guerra do Iraque já custa aos norte-americanos US$ 2 bilhões por semana, ou cerca de US$ 200 mil por minuto. É o dobro do que quando completou um ano, em 2004, e 20% mais do que no ano passado. O número engorda os gastos militares gerais dos EUA, que somam US$ 1 trilhão desde o ataque de 11 de Setembro.
O levantamento foi feito pelo Congressional Research Service, serviço apartidário de pesquisas do Capitólio subordinado à Biblioteca do Congresso norte-americano, e contempla ainda os gastos no Afeganistão desde o início da guerra, em 2001, que subiram também 20% no último ano, passando para US$ 370 milhões semanais. O Departamento de Defesa não divulga números oficiais, tidos como estratégicos.
No caso específico do Iraque, o problema é que boa parte desse dinheiro não chega ao destino, conforme relatório do Sigir (Office of the Special Inspector General for Iraq Reconstruction) a que a Folha teve acesso. A agência federal temporária foi criada pelo Congresso para investigar fraudes, desperdício e mal-uso de fundos destinados para a reconstrução daquele país árabe.
O exemplo mais recente é o da Parsons, empresa da Califórnia que ganhou concorrência de US$ 1 bi para construir 14 obras de infra-estrutura -o sucateamento e destruição das instalações iraquianas desde a invasão norte-americana, em 2003, é a principal crítica à maneira como a administração de George W. Bush vem conduzindo a guerra. Dessas 14 obras, 13 estão sob investigação.
O problema mais grave foi encontrado na construção da Academia de Polícia de Bagdá, que o governo dos EUA pretendia tornar um símbolo do sucesso da colaboração entre os dois países. A obra consumiu US$ 75 milhões, teve o contrato supervisionado pelo Army Corps of Engineers, o conselho de engenheiros militares, ligado ao Pentágono, e foi entregue no final de agosto. No dia da inspeção final e às vésperas da inauguração, foi interditada.

Chuva de fezes
Entre outros problemas, a obra corria o risco de desabar sobre os recrutas, por uma falha na estrutura. Além disso, erros no projeto do encanamento faziam com que o alojamento dos estudantes recebesse chuva de fezes e urina a cada vez que os banheiros eram utilizados. Resíduos de amianto, substância cancerígena, foram encontrados por toda parte.
"A Academia de Polícia de Bagdá é um desastre", disse Stuart Bowen, do Sigir, autor do relatório de 27 páginas sobre desmandos em diversas construções. "É o projeto de segurança civil mais importante para o país, e é um fracasso." A descoberta causou protestos tanto no Partido Republicano quanto entre democratas.
"Não é só um desperdício do dinheiro dos contribuintes", disse o democrata Henry Waxman, da Câmara dos Representantes (deputados federais), durante depoimento do proprietário da Parsons no Congresso. "Põe em risco todo o esforço no Iraque." Ao ser informado de que 13 dos 14 projetos da empresa estavam sob suspeita, o republicano Tom Davis disparou: "O que está acontecendo aqui?".
Earnest Robbins, vice-presidente da empresa, afirmou em depoimento que parte do problema veio da contratação de empresas iraquianas para ajudar nas obras, que ainda foram prejudicadas por ataques da insurgência. Indagado sobre o caso específico do encanamento, disse: "Tenho apenas algumas suposições".
Outras empresas cujas obras estão sendo investigadas são a Bechtel e a KBR, antes conhecida como Kellogg Brown & Root e subsidiária da Halliburton, que já teve o vice-presidente Dick Cheney no comando.


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