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IRAQUE NA MIRA
Após quase dois meses de negociações, até Síria aprova resolução mais importante do Conselho desde 1990
Votação expõe o poder dos EUA e revigora a ONU
DAVID USBORNE
DO "THE INDEPENDENT"
Foram precisos quase dois meses, mas na manhã de ontem não
havia dúvida de que a resolução
sobre o Iraque seria aprovada no
Conselho de Segurança da ONU.
Os EUA, com apoio britânico,
haviam feito o máximo diplomaticamente -em todos os níveis
de governo, do presidente George
W. Bush, que usou o telefone como nunca, para baixo- para garantir que isso acontecesse. Mas
ninguém ousara prever 15 braços
erguidos em aprovação unânime
no Conselho de Segurança (CS).
O significado da unanimidade
tornou-se instantaneamente óbvio para o satisfeito Hans Blix, o
chefe dos inspetores de armas da
ONU, e todos os demais presentes
no Conselho de Segurança (CS).
O órgão executivo da ONU obtivera unanimidade em uma decisão mais importante do que qualquer outra tomada desde que autorizou o uso da força para expulsar os invasores iraquianos do
Kuwait, em 1990. Assim, nos poucos segundos que durou a votação
formal, muitas coisas foram conseguidas. Blix recebeu a máxima
autoridade para vasculhar o Iraque em busca de armas. O Iraque
foi confrontado sem hesitação. E
uma outra realidade da diplomacia mundial se tornou clara: poucos países ousam desafiar o poder
dos EUA quando eles realmente
querem alguma coisa.
Em parte, o motivo é dinheiro.
Quando o Iêmen votou em 1990
contra a resolução que autorizava
o uso da força para expulsar as
forças iraquianas do Kuwait, foi
punido materialmente. Os EUA
suspenderam um pacote de US$
70 milhões em assistência ao país,
e a Arábia Saudita expulsou milhares de trabalhadores iemenitas
de seu território. E quando o governo de Maurício retirou seu
embaixador das Nações Unidas,
na semana passada, todos sabiam
o motivo: Jagdish Koonjul não fora subserviente o bastante em seu
apoio a Washington na ONU. Dólares estavam em jogo.
Enquanto assistíamos à cena da
votação unânime, que decerto encontrará lugar nos livros de história, era como se o CS, debilitado
por anos de disputas internas sobre o Iraque, tivesse recebido uma
injeção de esteróides. Seus ombros subitamente se alargaram.
Bastou essa resolução para torná-lo resoluto, enfim.
Será preciso agradecer à Síria.
Ninguém sabia de que maneira a
Síria votaria. Como vizinho do
Iraque e membro da lista dos
EUA de países que apóiam o terrorismo, decerto os sírios devem
ter sentido a tentação de votar
"não" ou ao menos de se abster.
Mas Faysall Mekdad, o representante sírio, não hesitou. Disse sim.
E, como quase todos os demais
países -do México à Irlanda,
passando pela Bulgária-, a Síria,
disse ele, votou "sim" porque
Washington e Londres prometeram que a resolução não representa de maneira alguma uma luz
verde para uma ação militar norte-americana e não contém "gatilhos" ou "automaticidade" no
que tange a deflagrar uma guerra.
Foi uma promessa reafirmada
tanto por John Negroponte, o embaixador dos EUA junto à ONU,
quanto por sir Jeremy Greenstock, o representante britânico.
"Nós ouvimos com clareza, durante as negociações, as preocupações quanto a automaticidade e
gatilhos ocultos. Não existe automaticidade", disse o britânico.
Mas tanto os EUA quanto o Reino Unido queriam que o CS tivessem em mente que a perspectiva
de guerra estava longe de afastada. Se o Iraque não revelar seus
programas de armas e não jogar
limpo com Blix, as ""sérias conseqüências" a que a resolução se refere decerto surgirão. É verdade
que a resolução compele Washington e Londres a consultar o
CS, se isso acontecer. Mas não
contém nada que impeça o presidente Bush de enviar os bombardeiros caso o Iraque se comporte
mal.
Será que Rússia, China e França,
todas as três potências dotadas do
direito de veto no CS, além de
EUA e Londres, aceitam a opção
militar? Talvez essa pergunta não
precise ser respondida. Mas, dado
o histórico do Iraque de iludir e
frustrar os inspetores, poucos
apostariam nessa hipótese.
Tradução de Clara Allain
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