São Paulo, sábado, 09 de novembro de 2002

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UNIÃO EUROPÉIA

Washington pede a Berlim que intervenha

Admissão da Turquia "seria o fim da UE", diz autoridade européia

DA REDAÇÃO

A União Européia procurou ontem distanciar-se dos comentários do ex-presidente francês Valéry Giscard d'Estaing, que chefia o órgão encarregado de elaborar o documento que servirá de base para a futura Constituição européia, de que a admissão da Turquia "seria o fim da UE".
Em entrevista ao diário "Le Monde", Giscard d'Estaing afirmou que a Turquia jamais cumpriria os critérios de adesão ao bloco e que os governos dos 15 países-membros deveriam dizer isso claramente aos turcos.
"A Turquia é um país importante para a Europa, mas não é um país europeu. Sua capital não é na Europa", disse Giscard d'Estaing. Em seguida, ele afirmou que a adesão da Turquia à UE causaria o "fim do bloco".
Jean-Christophe Filori, porta-voz da UE, declarou que a opinião de Giscard d'Estaing não era compartilhada pelos líderes do 15 países-membros, que, em 2001, colocaram o ex-presidente francês à frente da Convenção sobre o Futuro da Europa.
Esta tem como função elaborar o texto que será usado nas negociações sobre a Constituição européia, que ocorrerão em Copenhague, em dezembro.
"A candidatura da Turquia não foi questionada por nenhum chefe de Estado ou de governo dos países da UE", declarou Filori.
Giscard d'Estaing disse ao diário francês que os líderes europeus deveriam deixar de utilizar uma "linguagem ambígua" em relação às possibilidades da Turquia de entrar na UE.
"Na realidade, a maioria dos membros da UE já se pronunciaram negativamente [em relação à adesão da Turquia], mas eles nunca disseram isso aos turcos", afirmou Giscard d'Estaing.
Por outro lado, em entrevista ao diário espanhol "El País", o presidente da Comissão Européia, Romano Prodi, disse que "seria uma tragédia considerar a religião um fator de divisão" entre os países europeus. De acordo com ele, "se não houver diálogo [com a Turquia], haverá uma tragédia".
Ele afirmou também que a "convivência entre diferentes religiões é a base do mundo moderno". A UE tem maioria cristã; a Turquia, muçulmana.
Os comentários de Giscard d'Estaing refletem a idéia -particularmente forte em partidos de direita da Europa- de que a UE deveria permanecer cristã e de que admitir um país grande e de maioria muçulmana só causaria atritos e conflitos.
O presidente dos EUA, George W. Bush, falou ontem com o chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, e pediu-lhe que a Alemanha interceda pela Turquia. Segundo a Casa Branca, Washington quer que a UE "estenda a mão" aos turcos.
Os tratados da UE não mencionam a questão religiosa nas regras que impõem aos países-membros. Em princípio, qualquer país democrático e partidário da economia de mercado pode fazer parte da UE.


Com agências internacionais


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