São Paulo, sábado, 09 de novembro de 2002

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AMÉRICA LATINA

Ministro da Justiça brasileiro nega que haja células terroristas na região, como afirmou o governo argentino

Brasil vê "demonização" da tríplice fronteira

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

O ministro da Justiça do Brasil, Paulo de Tarso Ramos Ribeiro, negou ontem a existência de células terroristas na tríplice fronteira com o Paraguai e a Argentina, conforme divulgado anteontem pela rede de TV CNN a partir de informação do serviço de inteligência argentino. Para ele, há uma tentativa de "demonização" da região.
Ribeiro, que participava em Salvador de um encontro de ministros da Justiça do Mercosul, da Bolívia e do Chile, evitou criticar a Argentina, fonte da notícia. Referindo-se apenas à CNN, que já havia veiculado reportagens semelhantes, "existe uma campanha da emissora para fazer uma demonização da região".
"Certamente existe um exagero muito grande na divulgação da notícia, já que autoridades dos três países ainda não detectaram nenhum problema relacionado ao terrorismo", disse, novamente sem se referir à Argentina.
Segundo a reportagem da CNN, houve uma reunião de grupos terroristas ligados à rede Al Qaeda e membros do libanês Hizbollah (Partido de Deus) na região para planejar ataques a alvos dos EUA e de Israel.
"Os países do Mercosul já declararam que não vão dar trégua ao terrorismo, mas não aceitam divulgações infundadas, que prejudicam a região", disse a ministra da Justiça e dos Direitos Humanos da Bolívia, Gina Luz Mendez Hurtado.
Já Juan José Alvarez, ministro da Justiça, Segurança e Direitos Humanos da Argentina, disse que não iria comentar o tema ontem.

Barakat
O libanês naturalizado paraguaio Assad Ahmad Barakat, 36, apontado pela CNN como terrorista, está preso na Polícia Federal, em Brasília. Ele está à disposição do STF (Supremo Tribunal Federal), que analisa pedido de extradição do governo paraguaio.
Anteontem, a CNN divulgou incorretamente notícia que Barakat estava foragido.
Logo após o 11 de setembro, o governo paraguaio acusou Barakat de arrecadar fundos para o Hizbollah, grupo guerrilheiro considerado terrorista pelos EUA.
Barakat, que vive em Foz do Iguaçu desde 1987, é casado com uma brasileira e tem três filhos. Ele nega as acusações, mas admite que é ligado ao Hizbollah, que, segundo ele, é um partido político.
Preso em Foz em 21 de junho, Barakat está em Brasília aguardando decisão do STF sobre pedido de habeas corpus. Ele sofre processo de extradição, a pedido do governo paraguaio.
Sua mulher, Marlene, disse ontem que Barakat ficou sabendo de sua "fuga" pelos agentes da PF na Delegacia de Custódia em Brasília. "É mais um absurdo nesse teatro de mentiras que inventaram contra meu marido", afirmou.
Em 3 de outubro do ano passado, Barakat teve sua loja, em Ciudad del Este, lacrada pela Polícia Nacional do Paraguai.
Três funcionários de Barakat - Mazen Ali Saleh, Sobhi Mahamoud Fayad e Saleh Mahamoud Fayad- foram presos acusados de terrorismo. Foram soltos sem provas, mas estão proibidos de deixar o Paraguai.
O governo paraguaio acusa Sobhi Mahamoud Fayad de enviar, ilegalmente, US$ 25 mil a Nova York em maio de 1999. A embaixada americana em Assunção aponta Fayad como o elo entre o Hizbollah e Barakat -que disse que o dinheiro foi para pagamento de mercadorias da loja em que ele e Fayad eram sócios.


Colaborou José Maschio, da Agência Folha, em Brasília



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