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São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2003

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Paulista julga processos sobre massacres de 99

DO ENVIADO ESPECIAL A TIMOR LESTE

A juíza paulista Dora Aparecida Martins de Morais acompanhou pela imprensa, em 1999, as chacinas cometidas em Timor Leste pelas milícias pró-Indonésia. Hoje ela julga, ao lado de cinco outros juízes, os criminosos.
A ONU criou em 2000 o Painel de Crimes e dividiu os juízes em dois grupos. Dora trabalha com um juiz italiano e um timorense. Há 350 pessoas em julgamento por crimes contra a humanidade; "65% dos réus estão na Indonésia", afirmou Dora em uma entrevista em seu escritório em Dili, no final de outubro.
Dora nasceu em Botucatu, estudou direito em Bauru e, como juíza auxiliar da capital, trabalhava na 2ª Vara da Família no Foro Regional de Jabaquara. Através da sua militância na Associação Juízes para a Democracia, ficou sabendo que havia vaga para trabalhar em Timor Leste. Cedida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, chegou a Timor em março passado e deve ficar até dezembro. "Se pudesse, continuaria por mais um ano. O painel deve ir até 2005."
O trabalho é complexo, e as audiências podem ser muito longas, necessitando às vezes três traduções dos depoimentos. Orelhas cortadas, crianças esfaqueadas, pessoas queimadas vivas, corpos abandonados comidos pelos porcos. Os processos estão longe de ser uma leitura agradável.
Um dos processos sob seus cuidados foi um caso famoso na época. Um bando de milicianos invadiu a casa, em Dili, de um político influente, Manuel Carrascalão, de uma família que chegou mesmo a colaborar com os ocupantes indonésios. Em 17 de abril de 1999, havia mais de cem refugiados na casa; 12 morreram, incluindo o filho de Carrascalão, e muitos foram feridos.
"O Brasil tem tudo para colaborar com Timor na área judiciária", diz ela, citando como exemplo a área de defensoria pública. Uma das carências do sistema judicial do novo país é particularmente curiosa: faltam advogados. (RBN)


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