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São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2003

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Premiê ataca a gerontocracia de seu partido

DA REDAÇÃO

O premiê japonês, Junichiro Koizumi, diz ter como objetivo transformar a política do país, fazendo reformas ousadas e livrando-a do que considera, a portas fechadas, ser um dos maiores problemas do Japão contemporâneo: a gerontocracia de seu Partido Liberal-Democrático (PLD).
Para tanto, tomou medidas controversas -indicou o popular Shinzo Abe, 49, para a secretaria geral do partido e Nobuteru Ishihara, 46, para o Ministério dos Transportes, ambos tidos como jovens demais para um posto de comando na política japonesa.
Há pouco mais de uma semana, Koizumi, 61, anunciou que deixará a cena política quando fizer 65 anos, quatro meses após o final de seu mandato de presidente do PLD. Com isso, disseram analistas à Folha, o premiê dificilmente conseguirá levar a cabo seu projeto de reformas -mesmo que tenha vontade política para introduzi-lo em seu segundo governo.
"Koizumi é menos importante para o futuro do Japão que os políticos que o sucederão. Ele é um pioneiro no que se refere à reestruturação do país, às reformas e à renovação do modo de pensar dos políticos nipônicos. Mesmo com vontade política, porém, o premiê não poderá terminar seu trabalho em menos de uma década", analisou Jon Mills, do Centro Ásia da Universidade Harvard.
"Se outro reformista vier a sucedê-lo, Koizumi terá, então, aberto o caminho para uma transformação mais profunda. Por outro lado, se a velha-guarda do PLD retomar o poder depois que o premiê deixar o governo, o Japão poderá ter outra "década perdida"."
Em seu esforço de modernização do partido, Koizumi impediu que o ex-premiê Yasuhiro Nakasone, 85, fosse candidato no pleito de hoje, argumentando que as regras do PLD fixam o limite de 73 anos de idade para os candidatos.
Há pouco mais de uma semana, outro ex-premiê (Kiichi Miyazawa, 84) desistiu da disputa a pedido de Koizumi. Tradicionalmente, os pesos pesados do partido aproveitavam a força da legenda para ganhar um assento na Câmara Baixa sem grande esforço.
Outro aspecto que fortalece a iniciativa de Koizumi é o descrédito popular da velha-guarda do PLD, vista como responsável pela "década perdida", cuja lentidão econômica foi inédita na história do país no pós-guerra.
"Koizumi percebeu que o Partido Democrático do Japão poderia tirar vantagem do fato de ter candidatos mais jovens e menos identificados com o sistema de troca de favores do PLD. Com isso, decidiu fazer um expurgo em seu partido, rejuvenescendo quadros", disse Robert Immerman, da Universidade Columbia.
Até que ponto o premiê conseguirá manter sua determinação de pôr fim à política de conchavos que caracteriza o Japão desde a década de 50 é uma questão sem resposta. Afinal, se for longe demais, Koizumi perderá uma parte crucial do apoio parlamentar de que necessita para realizar suas tão propaladas reformas. (MSM)


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