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ARTIGO
Centro destruiu plano
PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"
Como se chama quem elimina centenas de milhares de empregos, priva milhões de pessoas de nutrição e atendimento
médico adequados, enfraquece
escolas, mas oferece bônus de
US$ 15 mil a pessoas ricas que
querem trocar de casa?
Centrista orgulhoso. Pois foi
exatamente isso o que fizeram
os senadores que definiram o
pacote de estímulo americano.
Mesmo que o plano original
de Obama -cerca de US$ 800
bilhões em estímulo, sendo
uma fração substancial dedicada a reduções ineficazes de impostos- tivesse sido aprovado,
não seria suficiente para preencher o buraco crescente na economia dos EUA, que deve chegar a US$ 2,9 trilhões até 2012.
Mas os centristas fizeram o
possível para enfraquecer e
piorar o plano. Um dos melhores pontos do plano original era
a ajuda aos governos estaduais,
que teria dado incentivo rápido
à economia e preservado serviços essenciais. Mas os centristas insistiram em tirar US$ 40
bilhões dessa verba.
Dos gastos com a construção
de escolas foram cortados US$
16 bilhões; a ajuda aos desempregados, sobretudo para manter seu atendimento médico, e
o auxílio-alimentação foram
cortados. Mais de US$ 80 bilhões foram cortados, a maior
parte, de medidas que teriam
efeito na redução da profundidade e dor desta recessão.
Por outro lado, os centristas
não viram problema no crédito
fiscal para imóveis residenciais
proposto pelo Senado.
Tudo contabilizado, se for refletida no pacote final, a insistência dos centristas em confortar quem já vive confortável
e afligir mais ainda os aflitos levará à geração de substancialmente menos empregos e provocará muito mais sofrimento.
Suprapartidarismo
Atribuo a culpa por isso à
crença do presidente Barack
Obama de que é capaz de transcender a divisão partidária. Afinal, muita gente esperava que
ele apresentasse um plano de
estímulo forte, que refletisse a
má situação da economia e os
anseios de seus eleitores.
Em vez disso, Obama pôs na
mesa um plano pequeno e dependente de cortes de impostos, porque queria o apoio amplo dos dois partidos. Os mesmo anseios talvez expliquem
porque Obama não falou com
contundência sobre como os
gastos do governo podem ajudar a apoiar a economia e permitiu que os conservadores ditassem a discussão.
Em troca disso, nenhum republicano votou na versão da
Câmara do plano -mais focada
do que o plano original do governo. Republicanos no Senado
lançaram invectivas contra o
suposto "clientelismo" e criticaram os custos do pacote
-mas 36 de 41 senadores republicanos votaram por substituí-lo por US$ 3 trilhões em cortes
nos impostos em dez anos.
Assim, Obama se viu reduzido a barganhar votos de centristas -que cobraram caríssimo apenas para demonstrar
seu poder de fogo. Eles provavelmente teriam exigido que
US$ 100 bilhões fossem cortados de qualquer coisa que Obama pedisse; ao fazer uma proposta inicial tão baixa, o presidente assegurou um pacote final pequeno demais.
Agora os negociadores da Câmara e do Senado terão que
conciliar suas versões do pacote, e é possível que o plano final
desfaça os piores danos.
Mas esta foi a melhor chance
de Obama fazer aprovar uma
ação decisiva, e ele deixou a desejar. Em vez de admitir o fracasso da sua estratégia política
e o dano causado à sua estratégia econômica, o presidente
tentou encarar a coisa sob uma
ótica suprapartidária positiva.
"Democratas e republicanos
se uniram no Senado e responderam apropriadamente à urgência que exige o momento
atual", disse Obama sábado, "e
a escala e o âmbito deste plano
estão certos". Não, eles não o fizeram, e não, a escala e o âmbito do plano não estão certos.
Tradução de CLARA ALLAIN
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