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São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2003

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Para analista, Bush não fará mais guerra

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

Dificilmente o presidente George W. Bush se aventurará em uma nova guerra até as eleições americanas, no ano que vem. É a opinião de Alton Frye, 65, diretor do Council on Foreign Relations e consultor de órgãos do governo e do legislativo dos EUA.
"A situação será muito parecida com a de seu pai", afirmou Frye em uma referência a George Bush, que derrotou o regime iraquiano em 1991 e perdeu a reeleição no ano seguinte.
 

Folha - Quando o governo dos EUA poderá declarar vitória?
Alton Frye -
Quando os principais centros populacionais estiverem razoavelmente seguros. Isso será verdade mesmo que continue havendo alguma atividade do governo fora das cidades.
O segundo estágio será quando as operações aleatórias estiverem terminado. Como na Iugoslávia, o regime iraquiano distribuiu dinheiro e armas em várias partes do país. Então deve haver estoques disponíveis para infligir baixas consideráveis.

Folha - Os EUA podem ter problemas caso não prendam Saddam Hussein, repetindo-se o que aconteceu com Bin Laden?
Frye -
Não me preocupo muito. A partir do momento em que perdeu o controle do território, Saddam tem muito menos apelo que Bin Laden em termos ideológicos.

Folha - Como a opinião pública americana reagiria ao fato de não capturar Saddam Hussein?
Frye -
Há duas possibilidades. Uma é que se saiba que ele está vivo e tentando criar problema. Então haverá uma demanda para que ele seja perseguido. Outra é que ele não seja descoberto nem encontrado morto, o que é provável. A melhor comparação é com Adolf Hitler. Houve um período de anos em que não tínhamos certeza se ele havia morrido e havia a preocupação de que ele poderia reagrupar simpatizantes nazistas. Isso é quase impossível no caso de Saddam. Penso que até a Síria relutaria em lhe abrigar.

Folha - Quais serão os próximos passos dos EUA por lá?
Frye -
Tem de haver um foco em manter a segurança no Afeganistão e instalar um autogoverno no Iraque. Na minha opinião, tem de haver um papel crescente da ONU, encorajado pelos EUA. Teremos de assumir que deveremos ter presença militar por lá durante muito tempo.

Folha - Há uma corrente que diz que Bush tem agora de cuidar da economia doméstica, para não repetir o que houve com seu pai. O sr. vê espaço para os EUA abrirem uma nova guerra ainda durante este mandato dele?
Frye -
Duvido, seria preciso uma circunstância extraordinária, crises imprevisíveis. Bush não quer fazer isso de novo, ele tem de se concentrar em colocar a economia no caminho certo. O sucesso no Iraque daria um maravilhoso sentimento de alívio na população, mas não acrescentaria nada à reeleição. A situação será muito parecida com a do seu pai. Sua popularidade está alta, mas não garante sua reeleição.


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