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ARTIGO
Guerra por procuração entre EUA e Irã
ROBERT FISK
DO "INDEPENDENT"
Mais uma humilhação para
os Estados Unidos. Os atiradores xiitas que passaram de carro pelo meu apartamento no
oeste de Beirute, ontem, estavam buzinando, erguendo os
dedos em sinal de vitória, com
os fuzis apontados para o ar,
provando aos muçulmanos da
capital que o governo eleito do
Líbano chegou ao fim.
E chegou. O Exército nacional continua a patrulhar as
ruas, mas apenas para impedir
mortes ou massacres sectários.
Longe de desmantelar o sistema secreto de telecomunicações do Hizbollah e desarmar o
grupo pró-iraniano, o gabinete
de Fuad Siniora está acomodado no velho palácio turco de
Beirute, denunciando a violência com a mesma autoridade
que o governo iraquiano instalado na zona verde de Bagdá.
O Exército libanês vigia os
bloqueios de rua do Hizbollah e
nada faz. Em termos do confronto entre Teerã e Washington, o Irã venceu, pelo menos
por enquanto. Walid Jumblatt,
o líder druso, partidário pró-americano do governo de Siniora, está isolado em sua casa
na região oeste de Beirute, mas
não foi atacado.
O mesmo se aplica a Saad Hariri, um dos mais proeminentes
parlamentares governistas, filho de Rafik Hariri, o premiê
assassinado. Ele continua em
seu palácio em Koreitem, no
oeste de Beirute, protegido por
policiais e soldados, mas não
pode sair de lá sem autorização
do Hizbollah. O simbolismo é
tudo.
Paralelos
Quando o Hamas se tornou
parte do governo palestino, o
Ocidente rejeitou o fato. Por isso, o Hamas tomou o controle
da faixa de Gaza. Quando o Hizbollah se tornou parte do governo libanês, os norte-americanos rejeitaram o fato. Agora,
o Hizbollah tomou o controle
da parte oeste de Beirute.
Os paralelos não são exatos.
O Hamas conquistou uma vitória eleitoral convincente; o Hizbollah era uma minoria no governo Siniora. O fato de que os
representantes do movimento
e outros xiitas tenham abandonado seus postos ministeriais
se deve às políticas pró-EUA
adotadas por Siniora, e à incapacidade eleitoral do movimento para alterá-las.
Os libaneses não querem
uma república islâmica, como
tampouco os palestinos. Mas
quando Sayed Hassan Nasrallah, o presidente do Hizbollah,
anunciou em que havia começado "uma nova era" para o Líbano, ele estava falando sério.
Na rua Hamra, uma das duas
principais artérias comerciais
de Beirute, estavam mais de
cem homens do Hizbollah, parados ou em patrulha, usando
uniformes de camuflagem novos, coletes pretos novos à prova de balas e, o que parece mais
importante, portando rifles
norte-americano de precisão
igualmente novos.
Não, se trata de uma revolução. Não é um "seqüestro" de
Beirute ocidental ou do aeroporto, que continua isolado por
trás de barreiras formadas por
pneus em chamas protegidas
por combatentes do Hizbollah.
Como Israel
Mas os partidários do governo merecem algum espaço. Diversos deles apontaram que os
israelenses fecharam o aeroporto de Beirute em 2006.
Que direito o Hizbollah teria
de infligir o mesmo problema
aos libaneses? E, de acordo com
Hariri, Nasrallah, ao chamar
Jumblatt de "ladrão e assassino", estava "autorizando o seu
assassinato e claramente afirmando que "o Estado sou eu'".
O jornal "L'Orient Le Jour",
que circula em francês, publicou um editorial especialmente
bom no qual perguntava como
o Hizbollah -literalmente Partido de Deus, em árabe- podia
ter a guerra como razão de ser e
ao mesmo tempo ser um fator
de paz e estabilidade nos assuntos internos libaneses.
"E esse partido, será que eles
podem mesmo se denominar "o
partido de Deus" sem criar, a
longo prazo, desconfiança entre os demais que se consideram como filhos do mesmo e
único Deus?"
Não, não se trata de uma
guerra civil. Nem de um golpe
de Estado, ainda que a situação
atenda a alguns dos critérios
para as duas classificações. O
que vemos é parte da guerra
contra os Estados Unidos no
Oriente Médio. O Hizbollah
"deve parar de semear problemas", disse a Casa Branca, de
forma um tanto branda. Sim.
Como o Taleban. E a Al Qaeda.
E os insurgentes iraquianos. E
o Hamas. Quem mais?
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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