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Lula não pretende se reunir com oposição durante visita ao Irã
Encontro com dissidentes não faz parte da programação da viagem do presidente brasileiro a Teerã, no próximo sábado
Decisão contraria pedido aprovado na Câmara e apelo de organizações de direitos humanos; Irã nuclear deve dominar visita de dois dias
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pretende se reunir com representantes da oposição do Irã durante sua visita
ao país persa, que começa no
sábado. A Folha apurou que o
encontro não faz parte da programação do presidente, apesar de um requerimento nesse
sentido aprovado pela Câmara
dos Deputados.
O encontro também tem sido defendido por organizações
de direitos humanos e ativistas
iranianos, entre eles a advogada e Nobel da Paz Shirin Ebadi.
Até agora, porém, na visita de
dois dias de Lula a Teerã estão
previstas apenas reuniões com
autoridades ligadas ao governo.
Pelo programa original, o presidente sairia de Teerã na noite
de domingo (dia 16), mas o governo iraniano tenta convencer a diplomacia brasileira a
acrescentar um dia à visita.
Fontes diplomáticas revelaram à Folha que autoridades
iranianas "estão insistindo" para que Lula prolongue sua permanência e esteja presente na
abertura da reunião de cúpula
do G15 (grupo de países não alinhados), que começa em Teerã
na manhã do dia 17.
O governo brasileiro resiste e
alega falta de tempo, pois Lula
viaja em seguida à Espanha.
Contribui para a resistência a
baixa prioridade dada pelo Itamaraty ao G15 -grupo de países em desenvolvimento criado
em 1989- desde que o Brasil
passou a integrar foros mais representativos, como o G20.
Ficando ou não um dia a
mais em Teerã, Lula deverá
frustrar aqueles que esperam
um encontro seu com dissidentes iranianos. Entre eles o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), autor do requerimento
aprovado na Comissão de Relações Exteriores e Defesa da Câmara dos Deputados.
"O pedido para que o presidente tenha um encontro com
a oposição e faça a defesa dos
direitos humanos foi aprovado
por unanimidade na comissão", disse Jungmann à Folha.
"Se não for atendido, ficará claro o desrespeito a uma recomendação do povo brasileiro."
O deputado diz que propôs o
encontro "para que não se repita o que aconteceu em Cuba".
Em fevereiro, Lula foi criticado
por não ter se reunido com dissidentes em Cuba. A visita a
Havana coincidiu com a morte
do preso político cubano Orlando Zapata Tamayo, que passou 85 dias em greve de fome.
"É muito triste ver uma democracia como o Brasil se associando a países que desrespeitam os direitos humanos,
como Cuba, Sudão, Coreia do
Norte e agora o Irã", disse
Jungmann.
Há três meses, a advogada
iraniana Shirin Ebadi disse à
Folha em Genebra que Lula
deveria abordar a questão dos
direitos humanos quando estiver no Irã. Ela citou violações
do governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad, como julgamentos sumários, prisões de
jornalistas, tortura e perseguição de ativistas.
Durante a visita presidencial
deverão ser assinados sete
acordos de cooperação em diferentes áreas, de meteorologia a
esportes. Mas as conversas de
Lula em Teerã serão dominadas pela busca de um acordo
em torno de um tema bem mais
controverso: o programa nuclear iraniano.
O Brasil tenta convencer
Teerã a aceitar uma proposta
pela qual a maior parte do estoque de urânio iraniano seria
encaminhada para outro país,
em troca de combustível nuclear para uso médico. Há uma
expectativa no Itamaraty de
que Ahmadinejad diga sim ao
plano durante a visita de Lula.
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