São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2010

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Lula não pretende se reunir com oposição durante visita ao Irã

Encontro com dissidentes não faz parte da programação da viagem do presidente brasileiro a Teerã, no próximo sábado

Decisão contraria pedido aprovado na Câmara e apelo de organizações de direitos humanos; Irã nuclear deve dominar visita de dois dias

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pretende se reunir com representantes da oposição do Irã durante sua visita ao país persa, que começa no sábado. A Folha apurou que o encontro não faz parte da programação do presidente, apesar de um requerimento nesse sentido aprovado pela Câmara dos Deputados.
O encontro também tem sido defendido por organizações de direitos humanos e ativistas iranianos, entre eles a advogada e Nobel da Paz Shirin Ebadi.
Até agora, porém, na visita de dois dias de Lula a Teerã estão previstas apenas reuniões com autoridades ligadas ao governo. Pelo programa original, o presidente sairia de Teerã na noite de domingo (dia 16), mas o governo iraniano tenta convencer a diplomacia brasileira a acrescentar um dia à visita.
Fontes diplomáticas revelaram à Folha que autoridades iranianas "estão insistindo" para que Lula prolongue sua permanência e esteja presente na abertura da reunião de cúpula do G15 (grupo de países não alinhados), que começa em Teerã na manhã do dia 17.
O governo brasileiro resiste e alega falta de tempo, pois Lula viaja em seguida à Espanha. Contribui para a resistência a baixa prioridade dada pelo Itamaraty ao G15 -grupo de países em desenvolvimento criado em 1989- desde que o Brasil passou a integrar foros mais representativos, como o G20.
Ficando ou não um dia a mais em Teerã, Lula deverá frustrar aqueles que esperam um encontro seu com dissidentes iranianos. Entre eles o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), autor do requerimento aprovado na Comissão de Relações Exteriores e Defesa da Câmara dos Deputados.
"O pedido para que o presidente tenha um encontro com a oposição e faça a defesa dos direitos humanos foi aprovado por unanimidade na comissão", disse Jungmann à Folha. "Se não for atendido, ficará claro o desrespeito a uma recomendação do povo brasileiro."
O deputado diz que propôs o encontro "para que não se repita o que aconteceu em Cuba". Em fevereiro, Lula foi criticado por não ter se reunido com dissidentes em Cuba. A visita a Havana coincidiu com a morte do preso político cubano Orlando Zapata Tamayo, que passou 85 dias em greve de fome.
"É muito triste ver uma democracia como o Brasil se associando a países que desrespeitam os direitos humanos, como Cuba, Sudão, Coreia do Norte e agora o Irã", disse Jungmann.
Há três meses, a advogada iraniana Shirin Ebadi disse à Folha em Genebra que Lula deveria abordar a questão dos direitos humanos quando estiver no Irã. Ela citou violações do governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad, como julgamentos sumários, prisões de jornalistas, tortura e perseguição de ativistas.
Durante a visita presidencial deverão ser assinados sete acordos de cooperação em diferentes áreas, de meteorologia a esportes. Mas as conversas de Lula em Teerã serão dominadas pela busca de um acordo em torno de um tema bem mais controverso: o programa nuclear iraniano.
O Brasil tenta convencer Teerã a aceitar uma proposta pela qual a maior parte do estoque de urânio iraniano seria encaminhada para outro país, em troca de combustível nuclear para uso médico. Há uma expectativa no Itamaraty de que Ahmadinejad diga sim ao plano durante a visita de Lula.


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