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REINO UNIDO
Reeleição de Livingstone, hoje, é ameaçada por sua volta ao partido de Blair, malvista por pacifistas, sua base de apoio
Guerra do Iraque afeta eleição londrina
FÁBIO ZANINI
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES
Ex-"Ken, o Vermelho, líder da
esquerda maluca", seu apelido
nos anos 80, Ken Livingstone é o
favorito para ser reeleito hoje prefeito de Londres. Mas ele pode ser
surpreendido por um grupo que
sempre teve como aliado: os ativistas antiguerra.
Livingstone enfrenta o desgaste
de ter voltado ao Partido Trabalhista em janeiro, quatro anos
após ter sido banido pelo primeiro-ministro, Tony Blair, por seu
radicalismo.
Na semana passada, a Folha testemunhou uma cena emblemática da decepção que o prefeito causou em antigos simpatizantes ao
fazer as pazes com Blair. Ao final
de um evento de campanha, um
jovem anarquista dirigiu-se a ele
aos gritos: "Que tipo de socialista
é você, que volta para o partido
que bombardeou o Iraque?" A
poucos metros, o prefeito apenas
sorriu, constrangido. Uma de
suas assessoras tentava explicar:
"Veja, o Partido Trabalhista não é
apenas Tony Blair...".
Para mostrar que não mudou,
Livingstone tem chamado de "criminoso de guerra" o presidente
dos EUA, George W. Bush, de
quem Blair é o principal aliado.
Segundo pesquisa do jornal
"The Times", Livingstone lidera
as intenções de voto, com 42%,
contra 29% de Steven Norris
(conservador) e 20% de Simon
Hughes (liberal-democrata). Mas
outros 11% votariam nele se não
tivesse retornado à sigla de Blair.
Já um levantamento do jornal
"The Independent" mostra Livingstone com 37%, contra 26%
para Norris e 17% para Hughes.
"Livingstone fez uma aposta de
alto risco, calculando que sofre
um desgaste administrável agora,
mas lucra no longo prazo por voltar ao partido que está no governo", diz Paul Kelly, da London
School of Economics.
Pedágio urbano
Prefeito, Livingstone trocou o
esquerdismo dos tempos de presidente da Câmara de Londres,
nos anos 80, quando atacava a
"exploração burguesa do trabalho", pelo pragmatismo. No evento que a Folha acompanhou, justificou assim o retorno ao partido:
"Desde que voltei obtive financiamento para uma nova ponte e para estender o metrô".
Adversários dizem que ele não é
tão imbatível como parecia. Norris o acusa de ser "fraco com criminosos e refém de sindicatos".
Hughes explora o tema do Iraque.
Mas o prefeito ainda é visto como favorito por analistas, conseqüência de algumas obras de impacto, como o pedágio para carros que trafegam no centro, que
reduziu os congestionamentos
em até 30%. Também ousou mudar o projeto de 160 anos da Trafalgar Square, principal praça da
cidade, restringindo o acesso de
veículos e expulsando os vendedores de milho, que atraíam pombos -para decepção de turistas.
"O pedágio urbano e a obra na
Trafalgar são importantíssimos
para Livingstone, mostram decisão na hora de fazer ações difíceis,
mas necessárias", disse Derek
Turner, consultor de transporte
responsável pela implantação dos
projetos na prefeitura.
As ações, por serem polêmicas,
também geram resistência. O pedágio urbano é rejeitado por 44%
da população (48% aprovam). Setores do comércio reclamam do
prejuízo: a loja de departamentos
John Lewis, uma das maiores da
Oxford Street, a principal rua comercial do centro, acusou queda
de 5% no movimento.
"No final das contas, apesar de o
trânsito estar melhor, é mais uma
taxa a pagar", disse um agente de
seguros que dirigia para o centro e
agora pega ônibus.
Outra marca da gestão Livingstone foi o estilo populista. Ele faz
questão de ir trabalhar de metrô,
está sempre cercado de artistas e
representantes de minorias étnicas e chamou recentemente de
"idiotas" motoristas que levam filhos em grandes carros às escolas.
A fórmula tem surtido efeito: na
semana passada, a revista conservadora "The Economist" pediu
votos para ele em editorial. E
Blair, que havia quatro anos chamava o prefeito de "desgraça", teve de engolir as palavras para não
correr o risco de derrota.
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