São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2004

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Extrema direita britânica pode surpreender

FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES

O crescimento da extrema direita deverá ser o destaque das eleições de hoje para o Parlamento Europeu e as assembléias locais no Reino Unido, enquanto o premiê Tony Blair, no primeiro teste eleitoral pós-Guerra do Iraque, pode sair ainda mais debilitado. A votação é vista como um ensaio para 2005, quando Blair deve disputar novo mandato.
Pesquisas colocam o UKIP (Partido da Independência do Reino Unido), que quer a saída do país da União Européia, com até 15% das intenções de voto, que seriam suficientes para a sigla, com três eurodeputados, pelo menos dobrar sua participação.
Já o BNP (Partido Nacional Britânico), considerado ainda mais "perigoso" por acrescentar um componente racista e xenofóbico ao euroceticismo, pode cravar 5% e ganhar seu primeiro eurodeputado. Nas eleições locais, o BNP pode eleger perto de 50 vereadores, quatro vezes sua bancada atual.
A preocupação dos partidos tradicionais (Trabalhista, Conservador e Liberal-Democrata) é tanta que, no mês passado, representantes reuniram-se para traçar uma estratégia única "antiextremismo".
"Isso é irônico, porque Blair e os conservadores são os principais culpados pela subida da extrema direita, ao passarem anos apresentando a Europa em cores bastante negativas", disse Paul Kelly, da London School of Economics.
Blair, que concordou em promover um plebiscito a respeito da Constituição européia em 2005, diz que "não se deve temer" a integração, mas não exalta as virtudes da UE.
O BNP, por exemplo, usa a hostilidade à integração para defender uma política "pró-maioria branca". "A imigração excessiva, principalmente da Europa do leste, está mudando nosso país. Vivemos por imposição em uma sociedade multicultural que cada vez mais causa fraturas", afirmou o presidente do partido, Nick Griffin, que defende a expulsão de imigrantes ilegais e o policiamento mais intenso em bairros muçulmanos.
Steve Pittain, presidente de uma ONG que pesquisa a xenofobia, diz que o voto extremista é reforçado porque seus eleitores são mais "fiéis" do que a média. "Eles são os que mais acreditam que seus partidos possam realmente fazer uma diferença."
Enquanto os extremistas crescem, os trabalhistas de Blair devem receber menos de 30% dos votos, patamar historicamente baixo. Podem até ficar atrás dos conservadores, enquanto o Partido Liberal-Democrata, que se opôs à guerra, deve lucrar. Isso deve aumentar as pressões internas para que o primeiro-ministro renuncie.
"Blair nos prejudica. Se o partido trocar de líder, corrigir a política para o Iraque e mostrar um pouco de humildade, temos uma chance de ter um bom desempenho eleitoral no ano que vem", afirmou Clare Short, ex-ministra que rompeu com Blair por causa da invasão do Iraque. (FZ)


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