São Paulo, quarta-feira, 10 de junho de 2009

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Guantánamo tem 1º preso julgado nos EUA

Processo em Nova York contra Ahmed Ghailani testa uma das opções de Obama para cumprir promessa de fechar prisão

Tanzaniano, acusado de participação em atentados contra embaixadas em 98, ficará detido no continente enquanto aguarda sentença


ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Em um caso vital para o plano do presidente dos EUA, Barack Obama, de fechar a prisão de Guantánamo (Cuba), foi levado ontem a Nova York o primeiro suspeito de terrorismo da ilha a ser julgado em um tribunal civil dentro do território norte-americano.
O detido, Ahmed Khalfan Ghailani, recebeu 228 acusações por participar na conspiração que resultou em ataques nas embaixadas americanas no Quênia e na Tanzânia em 1998, que foram organizadas pela rede Al Qaeda e deixaram 224 mortos. Ghailani se disse inocente no Tribunal Federal Distrital de Manhattan ontem.
Obama anunciara no mês passado que o suspeito seria transferido para um tribunal civil, como parte dos esforços do governo para dar um destino aos presos e fechar a prisão até janeiro de 2010. O presidente considera Guantánamo um símbolo dos erros cometidos pelos EUA na "guerra ao terror" de seu antecessor, George W. Bush, e diz que mantê-la aberta prejudica a habilidade do país de conquistar aliados.
Ele pretende que sejam julgados em tribunais federais nos EUA vários dos atuais 240 presos de Guantánamo. Outras opções são julgamentos em comissões militares; transferência para outros países; libertação sem julgamento; e detenção por tempo indeterminado sem julgamento.
Mas a decisão de acabar com a prisão enfrenta forte oposição interna. Um dos pontos-chave é justamente onde deter os suspeitos de terrorismo considerados de maior periculosidade. Membros do Partido Republicano acusam Obama de querer "importar terroristas".
Questionado insistentemente por jornalistas ontem, o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, se recusou a responder se os suspeitos serão libertados se o veredicto for "inocente". "Não vou entrar em jogos hipotéticos. Achamos que o distrito de Nova York tem um histórico muito bom quanto a julgar e condenar suspeitos de terrorismo", afirmou.
O Departamento da Justiça disse ontem que Ghailani será detido no Centro Correcional Metropolitano, prisão federal que já abrigou suspeitos de terrorismo, até o julgamento.

Acusações
Sobre Ghailani, Obama afirmou que, "depois de uma década, é hora de finalmente ver a justiça ser feita, e é isso que pretendemos fazer".
Segundo a acusação, ele ajudou a Al Qaeda a obter explosivos e um caminhão para a explosão da embaixada na Tanzânia, além de outras questões logísticas. Se condenado, ele poderá enfrentar a pena de morte.
Ghailani é originário da Tanzânia e tem cerca de 35 anos -sua idade exata não foi determinada. Capturado em 2004, foi mantido em prisões secretas da CIA até 2006, quando foi transferido para Guantánamo.
Inicialmente, ele também enfrentou acusações militares sobre seu suposto envolvimento com outras atividades da Al Qaeda. O Exército dos EUA diz que ele recebeu treinamento em campos da rede terrorista no Afeganistão, foi guarda-costas e cozinheiro de Osama bin Laden e falsificou documentos para membros da Al Qaeda.
As acusações militares, porém, foram retiradas em maio, em meio à controvérsia sobre o uso de comissões de exceção.
Ainda não se sabe quem cuidará da defesa de Ghailani no julgamento. Um advogado de Nova York solicitou o posto, mas teve o direito questionado por promotores.


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