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Alvo de foguetes Qassam pela 1ª vez, Ashkelon tem a sua rotina alterada
MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE ASHKELON (ISRAEL)
Os dois foguetes Qassam que
atingiram Ashkelon na semana
passada mudaram a rotina dos
seus 115 mil moradores, que
agora convivem com o medo,
mas as autoridades locais decidiram manter a rotina da cidade. Os Qassam viraram o assunto principal entre a população.
A cidade está equipada com
alto-falantes que podem disparar um alarme segundos antes
da queda de um foguete. Mas a
prefeitura prefere não ativá-los
ainda, alegando que provocariam pânico.
"Ainda não assimilamos essa
nova situação de perigo. Estou
apreensivo, mas por enquanto
a vida continua normalmente",
disse o brasileiro Eli Cohen,
que mora em Israel há cinco
anos. "Um dos motivos que nos
trouxe para cá é que podemos
sair na rua sem perigo de assaltos, como acontece em São
Paulo. Mas agora começamos a
perder a tranqüilidade", disse
ele, enquanto tomava café da
manhã com a mulher, Sandra,
com a mãe e com a sogra em um
restaurante.
"Eu achava que os Qassam
nunca chegariam aqui. Achava
que os palestinos não eram inteligentes o suficiente para fazer um foguete chegar até Ashkelon. Mas meu filho sempre
dizia que um dia eles conseguiriam e ele tinha razão", afirmou
Sandra.
A cidade de Ashkelon foi enxergada pelos israelenses como
um divisor de águas no conflito
com os palestinos. Enquanto os
Qassam caíam em Sderot, no
sul pobre, os protestos contra o
governo eram limitados. Mas
agora, com Ashkelon na mira
de militantes que disparam a
partir de Gaza, a pressão política sobre o premiê de Israel,
Ehud Olmert, aumentou.
Localidade costeira a 57 quilômetros ao sul de Tel Aviv e a
14 quilômetros da fronteira
com a faixa de Gaza, Ashkelon
possui uma zona industrial e
abriga uma importante usina
termoelétrica. Também é um
destino turístico por ser considerada uma das cidades mais
antigas do mundo, com resquícios arqueológicos de 5.000
anos -parte deles ligados à história bíblica de Sansão e Dalila.
Donos de atrações turísticas
ouvidos pela reportagem dizem
que a procura por passeios de
barcos caiu 70% nesta semana,
depois dos foguetes. Mas os
principais hotéis da orla da cidade continuam com capacidade lotada até o final de julho -a
alta temporada de verão em Israel- e os restaurantes da praia
estavam cheios no Shabat, o dia
de descanso semanal em Israel.
O local é considerado uma alternativa barata e mais calma
para a classe média israelense
que não pode comprar imóveis
em Tel Aviv. O rápido crescimento da população -que dobrou nos últimos 15 anos devido à chegada de imigrantes da
antiga União Soviétiva- gerou
maior oferta de imóveis, e um
apartamento de três quartos
pode custar US$ 120 mil -40%
a menos do que em Tel Aviv ou
em Jerusalém.
O aposentado Yakov vai com
a mulher Aialá todos os dias até
a praia. Ele disse que está assustado com os mísseis. Ele
conta que sua família entrou
em pânico quando ouviu a notícia de que a cidade foi atingida.
"Todos começaram a ligar do
celular para ver se alguém tinha
sido ferido. Graças a Deus, nada
aconteceu", disse.
"Moro aqui desde 1962, é claro que não vou fugir. Mas estou
vivendo uma situação nova,
que assusta. Um Qassam pode
cair a qualquer momento. Ainda não me acostumei a isso",
disse. Em sua visão, o Exército
deveria usar mais força contra
os palestinos para acabar com
os foguetes. "A imagem fora de
Israel é a de que somos os fortes, que temos tanques, e eles
são os fracos. Mas isso não é
verdade, eles são como ninjas,
sabem cavar túneis e seqüestrar", opinou.
Em outras cidades e fazendas
ao redor da faixa de Gaza, o som
da guerra já virou rotina. A estrada que leva a kibutizim (fazendas coletivas) perto da passagem de Karni -um dos pontos de transferência de mercadorias entre Israel e Gaza- foi
fechada na tarde de ontem, enquanto o Exército fazia uma
operação. Em todo o perímetro
do kibutz era possível ouvir o
som dos disparos de artilharia e
ver a fumaça de alvos atingidos
dentro da faixa de Gaza.
A dois quilômetros de distância, especialistas da polícia desenterravam um Qassam que
acabara de cair, desta vez em
um campo aberto, sem deixar
feridos. O foguete foi disparado
por militantes em resposta à
operação em Karni.
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