São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 2006

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Alvo de foguetes Qassam pela 1ª vez, Ashkelon tem a sua rotina alterada

MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE ASHKELON (ISRAEL)

Os dois foguetes Qassam que atingiram Ashkelon na semana passada mudaram a rotina dos seus 115 mil moradores, que agora convivem com o medo, mas as autoridades locais decidiram manter a rotina da cidade. Os Qassam viraram o assunto principal entre a população.
A cidade está equipada com alto-falantes que podem disparar um alarme segundos antes da queda de um foguete. Mas a prefeitura prefere não ativá-los ainda, alegando que provocariam pânico.
"Ainda não assimilamos essa nova situação de perigo. Estou apreensivo, mas por enquanto a vida continua normalmente", disse o brasileiro Eli Cohen, que mora em Israel há cinco anos. "Um dos motivos que nos trouxe para cá é que podemos sair na rua sem perigo de assaltos, como acontece em São Paulo. Mas agora começamos a perder a tranqüilidade", disse ele, enquanto tomava café da manhã com a mulher, Sandra, com a mãe e com a sogra em um restaurante.
"Eu achava que os Qassam nunca chegariam aqui. Achava que os palestinos não eram inteligentes o suficiente para fazer um foguete chegar até Ashkelon. Mas meu filho sempre dizia que um dia eles conseguiriam e ele tinha razão", afirmou Sandra.
A cidade de Ashkelon foi enxergada pelos israelenses como um divisor de águas no conflito com os palestinos. Enquanto os Qassam caíam em Sderot, no sul pobre, os protestos contra o governo eram limitados. Mas agora, com Ashkelon na mira de militantes que disparam a partir de Gaza, a pressão política sobre o premiê de Israel, Ehud Olmert, aumentou.
Localidade costeira a 57 quilômetros ao sul de Tel Aviv e a 14 quilômetros da fronteira com a faixa de Gaza, Ashkelon possui uma zona industrial e abriga uma importante usina termoelétrica. Também é um destino turístico por ser considerada uma das cidades mais antigas do mundo, com resquícios arqueológicos de 5.000 anos -parte deles ligados à história bíblica de Sansão e Dalila.
Donos de atrações turísticas ouvidos pela reportagem dizem que a procura por passeios de barcos caiu 70% nesta semana, depois dos foguetes. Mas os principais hotéis da orla da cidade continuam com capacidade lotada até o final de julho -a alta temporada de verão em Israel- e os restaurantes da praia estavam cheios no Shabat, o dia de descanso semanal em Israel.
O local é considerado uma alternativa barata e mais calma para a classe média israelense que não pode comprar imóveis em Tel Aviv. O rápido crescimento da população -que dobrou nos últimos 15 anos devido à chegada de imigrantes da antiga União Soviétiva- gerou maior oferta de imóveis, e um apartamento de três quartos pode custar US$ 120 mil -40% a menos do que em Tel Aviv ou em Jerusalém.
O aposentado Yakov vai com a mulher Aialá todos os dias até a praia. Ele disse que está assustado com os mísseis. Ele conta que sua família entrou em pânico quando ouviu a notícia de que a cidade foi atingida. "Todos começaram a ligar do celular para ver se alguém tinha sido ferido. Graças a Deus, nada aconteceu", disse.
"Moro aqui desde 1962, é claro que não vou fugir. Mas estou vivendo uma situação nova, que assusta. Um Qassam pode cair a qualquer momento. Ainda não me acostumei a isso", disse. Em sua visão, o Exército deveria usar mais força contra os palestinos para acabar com os foguetes. "A imagem fora de Israel é a de que somos os fortes, que temos tanques, e eles são os fracos. Mas isso não é verdade, eles são como ninjas, sabem cavar túneis e seqüestrar", opinou.
Em outras cidades e fazendas ao redor da faixa de Gaza, o som da guerra já virou rotina. A estrada que leva a kibutizim (fazendas coletivas) perto da passagem de Karni -um dos pontos de transferência de mercadorias entre Israel e Gaza- foi fechada na tarde de ontem, enquanto o Exército fazia uma operação. Em todo o perímetro do kibutz era possível ouvir o som dos disparos de artilharia e ver a fumaça de alvos atingidos dentro da faixa de Gaza.
A dois quilômetros de distância, especialistas da polícia desenterravam um Qassam que acabara de cair, desta vez em um campo aberto, sem deixar feridos. O foguete foi disparado por militantes em resposta à operação em Karni.


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