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ARTIGO
Falcões empoleirados
Para especialista americano, recente relação dos EUA com o Irã e a Coréia do Norte indica que houve uma guinada da política externa no caminho do diálogo
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
OS "FALCÕES" , que
compõem a linha-dura do governo Bush,
estão em baixa. Pelo menos é o
que constata Joseph Cirincione, especialista em questões de
diplomacia nuclear do Carnegie Endowment for International Peace, com base em
Washington. Cirincione tomou como referência imediata
a reversão na política americana de isolamento do Irã, sustentada durante 27 anos por
vários presidentes. Tornou-se
mais agressiva com Bush, diante da descoberta de que o Irã
desenvolveu em segredo, durante muito tempo, um programa nuclear sob suspeita de
ambições armamentistas. As
reações "moderadas" aos foguetes da Coréia do Norte fortalecem o que o Carnegie define como "forte guinada diplomática".
John Bolton, que no Departamento de Estado decretou
como letra morta vários acordos negociados, assinados e ratificados e era muito mais duro
e arrogante com a Coréia do
Norte, apresenta-se agora como um bem enquadrado embaixador dos EUA na ONU. O
tom foi dado pela secretária de
Estado, Condoleezza Rice.
Dialogar é ainda o mais recomendável como meio de reduzir tensões e até sair da crise.
Os que administravam o
comportamento belicista de
Bolton -o vice-presidente
Dick Cheney e Donald Rumsfeld, secretário da Defesa-
mostram-se cada vez mais
"passivos e relutantes".
Embora conservando a retórica de "manter o rumo" e
"completar o serviço", o próprio Bush ficou menos triunfalista em relação ao Iraque.
Também admitiu erros, procurando criar um consenso internacional pró-amparo ao novo
governo iraquiano.
Os acontecimentos se chocam com a doutrina Bush. Ela
manda tratar como terroristas
os que promovem terrorismo
ou dão cobertura a ele, e o Irã é
encarado pela Casa Branca como cabeça e caixa de ampla
geografia terrorista. Um de
seus protegidos seria o grupo
terrorista Hezbolah, do Líbano. A Coréia do Norte faz parte
do "eixo do mal".
Em tempos de maior dureza
e de unilateralismo intransigente, quando os neoconservadores sustentavam a opção militar como a "solução" mais indicada para a questão nuclear
iraniana, alguns falcões disseram a Bush que ele errou na invasão do país de quatro letras
começando com "i". O Iraque
("Iraq" em inglês) não tinha armas de destruição massa, o Irã
("Iran") já fazia a bomba.
A guinada em relação ao Irã,
que de algum modo se projeta
na crise com a Coréia do Norte,
é comparada, em grau de importância, à viagem secreta de
Kissinger a Pequim e ao estabelecimento de relações dos EUA.
O próprio Kissinger sugeriu
que Rice faça o mesmo em relação ao Irã. Mas, por enquanto, a
oferta é de negociações multilaterais. E Cirincione, embora
convencido de que os pragmáticos se sobrepõem aos ideólogos -os falcões-, avisa que não
se trata de nocaute.
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de
questões internacionais
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