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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO
EUA perdem apoio de reformistas árabes
Incoerências da política americana e alinhamento incondicional a Israel enfraquecem democratas e reforçam os radicais
EUA dizem querer Oriente Médio democrático, mas cidadãos que apóiam a idéia estão sem espaço após acontecimentos no Líbano
NEIL MACFARQUHAR
DO "NEW YORK TIMES", EM DAMASCO
Reformadores moderados
em todo o mundo árabe dizem
que o apoio americano aos
combates de Israel contra o
Hizbollah os colocou na defensiva, manchando seus nomes e
fortalecendo os grupos islâmicos. Os dirigentes que os Estados Unidos queriam que promovessem a democracia, do
Bahrein a Casablanca, sentem-se agora encurralados por uma
política que hoje ridicularizam,
dizendo que ela se propõe mais
ou menos a "destruir a região
para salvá-la".
Muitos dos reformadores
que trabalham por mudanças
em suas próprias sociedades e
que vivem isolados, assediados
pela polícia ou marginalizados,
dizem que a política americana
estrangula os movimentos reformistas incipientes ou reforça os governos repressivos que
ainda são os maiores aliados de
Washington no mundo árabe.
"Temos medo real deste novo Oriente Médio", disse o engenheiro de computação Ali
Abdulemam, 28, que fundou o
mais popular site político no
Bahrein. Ele se referia à declaração feita no mês passado pela
secretária de Estado, Condoleezza Rice, de que a situação
no Líbano representa as dores
de parto de um "novo Oriente
Médio". "Eles nunca mencionam o que as pessoas querem.
Na realidade, estão apenas conferindo mais poder aos sistemas já instalados."
Fawaziah al Bakr, que defende os direitos das mulheres e
transformações na educação na
Arábia Saudita, ajudou a organizar mulheres para protestar
contra os ataques israelenses.
"Ninguém está falando de reformas na Arábia Saudita", disse ela. "Não há dúvida de que os
EUA estão moralmente derrotados. Mesmo que você goste
do povo e da cultura americanos, é impossível defender os
EUA como país."
Sobhe Salih, 53, advogado
que integra a Irmandade Muçulmana, que no ano passado
obteve um quinto do Parlamento egípcio, comentou que
os EUA "quiseram macular os
movimentos de resistência e de
oposição islâmicos, mas, na
realidade, acabaram por favorecê-los. Eles os tornaram mais
atraentes ao público".
Basta assistir à televisão para
ver cenas do caos no Líbano,
em Bagdá ou em Gaza. Normalmente é preciso um ou dois minutos para identificar qual cidade árabe está ardendo em
chamas. As emissoras populares de notícias via satélite, como a Al Jazira, repetem a todo
momento que a carnificina decorre da política dos EUA.
Antes de 2003, o mais difícil
para qualquer movimento islâmico era recrutar seguidores,
observa Mohamed Salah, especialista em movimentos extremistas islâmicos do jornal "Al
Hayat", no Cairo. A passagem
de devoto muçulmano comum
a extremista era um processo
demorado. Mas isso deixou de
ser verdade, diz ele.
Incoerências
Os moderados dizem que se
desesperam diante do que qualificam como incoerências da
política de Washington. Exemplo: vive no Líbano um clérigo
xiita que preside uma milícia
que tem vínculos com o Irã. É o
xeque Hassan Nasrallah, e
Washington aprova a campanha de bombardeios de Israel
para erradicar sua organização,
que é o Hizbollah.
Existe outro clérigo xiita que
usa turbante negro e preside
uma milícia diferente, que também atua clandestina e tem
vínculos com o Irã. Seu nome é
Abdel Aziz al Hakim. Mas ele
mora no Iraque. E é aliado dos
Estados Unidos.
A comparação é feita pelo engenheiro civil jordaniano Samir al Qudah.
"Os setores que pedem reformas democráticas no Egito já
constataram que, quando os interesses de Israel conflitam
com os da reforma política no
Oriente Médio, os EUA imediatamente favorecem os interesses de Israel", declarou Ibrahim Issa, editor do semanário
"Al Dustour". Issa é acusado de
ter insultado o presidente egípcio Hosni Mubarak e corre o
risco de ser preso.
Tradução de Clara Allain
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