São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 2000

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Matança gera medo de guerra étnica

PHIL REEVES
DO "THE INDEPENDENT", EM JERUSALÉM

Os conflitos no Oriente Médio estão se transformando rapidamente em uma guerra sectária na qual indivíduos judeus e palestinos bem armados começam a matar um ao outro num ciclo de matanças por vingança e ódio étnico. Esse novo cenário aumenta o temor de uma prolongada e sangrenta disputa toma-lá-dá-cá entre árabes e judeus operando fora do controle dos políticos ou de seus serviços de segurança.
As evidências crescem a cada novo dia do levante palestino, iniciado há quase 15 dias, e que já deixou pouco menos de uma centena de mortos. Um palestino foi encontrado morto ontem com um tiro na cabeça perto da cidade de Nablus, na Cisjordânia.
Outro palestino, de 25 anos, foi encontrado morto num terreno, após ter sido aparentemente torturado com choques elétricos, queimado com um ferro quente e atacado com um machado.
Anteontem, um rabino de origem norte-americana, Hillel Lieberman, morador de uma colônia na Cisjordânia, também foi encontrado morto. A polícia israelense disse que ele foi espancado, morto com cinco tiros e jogado numa caverna, depois de ter sido capturado por palestinos.
Sua morte gerou grande interesse nos EUA, principalmente por causa de seu parentesco distante com o candidato democrata à Vice-Presidência, Joseph Lieberman -que disse desconhecê-lo.
Ontem, milhares de palestinos participaram de uma passeata por Nazaré -cidade árabe dentro de Israel- durante os funerais de dois árabes israelenses mortos por judeus na noite de domingo.
Essas mortes aumentam o risco de uma explosão dentro da comunidade árabe israelense, que representa cerca de um quinto da população do país e reclama por não ter os mesmos direitos que os cidadãos judeus.
Segundo o grupo pacifista israelense Gush Shalom, os atos de violência em Nazaré aconteceram após cerca de mil judeus deixarem a cidade vizinha de Natzrat Elite e avançarem sobre as áreas árabes carregando armas, atirando e batendo em pessoas "indiscriminadamente". O grupo acusou a polícia de não intervir.
Durante o enterro, o prefeito de Nazaré acusou o governo de Israel de ser responsável por um "pogrom" contra os árabes israelenses, em referência aos ataques às minorias judaicas na Rússia no início do século.
Existe agora uma ameaça real de que um ou outro lado possa provocar um banho de sangue por meio de assassinatos em massa -relembrando o caso de Baruch Goldstein, o fanático judeu que matou 29 fiéis muçulmanos num local sagrado de Hebron, em 1994, antes de ser linchado.
Um alto funcionário do governo palestino, Hassan Asfour, pediu ontem aos palestinos para tomar como alvos os colonos judeus que vivem nos territórios ocupados por Israel, porque, segundo ele, estariam cometendo "atos terroristas".
Existem até 200 mil colonos judeus vivendo na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, em desafio às resoluções da Organização das Nações Unidas, alguns deles treinados pelo Exército israelense para operar armas de fogo.
Os palestinos também parecem estar armados. Acredita-se que há até 80 mil metralhadoras Kalashnikov nas mãos de palestinos nos territórios ocupados.



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