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MULTIMÍDIA
Le Monde - de Paris
Estado judeu perde guerra de imagens
FRANÇA - Após uma semana de
violência em Israel e nos territórios palestinos, o Estado judaico
já perdeu a batalha das imagens e,
portanto, da opinião pública.
"As fotos muitas vezes ficam
aquém dos fatos, mas também
podem exercer um impacto que
os amplifica", dizem jornalistas. A
máxima se aplica plenamente a
Israel, para o qual certas imagens
vêm exercendo um efeito desastroso e indelével.
As televisões, os jornais e as revistas do mundo inteiro difundiram as imagens filmadas por um
cinegrafista da emissora France 2,
mostrando o rosto apavorado do
garoto palestino Mohammed al
Dirah, 12, morto com uma bala no
ventre no dia 30, em Gaza.
No dia seguinte, perto de Nablus, na Cisjordânia, foi morta a
menina Sarah, 2. Em 4 de outubro
uma criança palestina de 10 anos
morreu sob as balas israelenses
perto do assentamento judaico de
Netzarim, na Faixa de Gaza.
Em sua edição de 5 de outubro,
a "Paris Match" publicou, sob a
manchete "A guerra que mata
crianças", a foto em close de Sarah, com os olhos fechados e a boca ainda ensanguentada, nos braços de sua mãe.
Mohammed se tornou "a criança símbolo da Palestina". "Em toda minha vida, nunca vi algo assim", disse Talal Abu Rhamed, o
cinegrafista que fez as imagens
-isso apesar de ele ter coberto a
Intifada por seis anos, entre 1987 e
1993. A Intifada, aliás, rendeu um
número enorme de imagens mostrando o confronto desigual entre
garotos armados com pedras
(Davi) e soldados israelenses superequipados (Golias).
Foi a partir da Intifada que Israel, segundo um alto funcionário
citado pela agência "France Presse", passou a ter "um problema de
imagem, não tanto devido aos
confrontos em si, mas às imagens
transmitidas para o mundo".
Mas as crianças da Intifada
eram combatentes, sendo que
Mohammed era um garoto sem
pedras ou estilingue, um inocente
que apenas acompanhava seu pai
e que os espectadores puderam
ver vivo antes de quase sentirem
fisicamente e ao vivo sua morte,
caído nos braços do pai que não
pôde defendê-lo.
O martírio de Mohammed pode
ser comparado a outros ícones do
sofrimento de crianças: a menina
vietnamita com o corpo nu queimado por napalm e o rosto deformado pela dor, correndo para fugir de seu povoado bombardeado
pelos americanos, a garota colombiana Omayra Sanchez, que
afundou na lama após um terremoto, em 1985, agonizando durante horas diante de dezenas de
objetivas, o olhar resignado das
crianças de Biafra, com a pele esticada sobre os ossos e o abdome
distendido, entre outras.
Os etnógrafos desconfiam de
fotos porque não conhecem o
"antes" e o "depois" delas. Às vezes é o próprio "durante" da cena
fotografada que causa problemas.
Os israelenses terminaram por reconhecer que foram suas balas
que mataram Mohammed, mas
outra foto da violência em Jerusalém, publicada em 30 de setembro, mostra que não é difícil cair
na armadilha da manipulação.
Ela mostra um jovem de rosto ensanguentado ameaçado pela arma de um soldado israelense, e a
legenda que a acompanhou dizia
tratar-se de "um militante palestino na Esplanada das Mesquitas".
Na realidade, tratava-se do estudante judeu americano Tuvia
Grossman, que, ao lado de dois
amigos, foi arrancado à força de
um táxi, não na Esplanada das
Mesquitas, e espancado por palestinos, até ser socorrido pelo
soldado.
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